Encontro o Leivinha recém saído de cirurgia para acertar de
uma vez o jeito de caminhar. Falamos de Lins, começo da carreira daquele que
foi um dos maiores cabeceadores que o Palmeiras e o futebol brasileiro já teve,
alem de colecionador de taças e títulos, inventor do drible do elástico — até
hoje o beque do Real Madrid não sabe como tomou o drible que originou o gol que
nos deu um dos três Carranza que ganhamos.
Leivinha lembra-se de um fato pitoresco em seus tempos de juvenil.
Como já era bom de bola, jogava em tudo quanto era clube da várzea de Lins – chegou a jogar 5
partidas de futebol num final de semana – jogou até no time do Calango, um
senhor que vivia da pesca, em sua casinha logo depois da ponte.
O Calango e o time eram pobres demais! O pessoal jogava lá
mais pela simpatia do dono do time, pois até a tradicional garrafa de pinga, que todo time oferecia depois do
jogo, no Cruzeirinho não havia; ou
melhor, aparecia porque algum jogador levava.
Aquele domingo começou com dois problemas para o time do Calango.
O jogo seria muito
longe, já em outro município, e o calor estava insuportável.
Mesmo assim Leivinha e mais 9, incluindo o Calango,
apareceram e foram na Ximbica – caminhãozinho velho – do Fumaça.
Sacolejando chegaram
e como 9 + 1 costumam ser 10, faltava um para completar o time e, maior
dos pecados, quem faltava era o goleiro.
Não tinha mais ninguém naquele mundão de Deus; o adversário
tinha 11 completos e mais ninguém nem para assistir; e o Cruzeirinho não tinha
goleiro.
Eis que lá embaixo —
o campo era um terrão em declive — alheio ao jogo viram um rapaz alto.
Não fizeram muitas perguntas, ofereceram logo a camisa de
goleiro e o rapaz aceitou.
Começou o jogo e os jogadores do time adversário, Espadachim Negro, vestindo uns farrapos, que
um dia foram camisas brancas, atacaram em massa. O Cruzeirinho defendia-se como
podia e o tal goleiro convidado pegava tudo, mas tudo mesmo! Uma defesa melhor que a outra.
Longa distância, cabeçada, chute de perto; todas elas o
goleiro encaixava e nem rebote concedia.
Leivinha lá na frente, quando a bola chegava, fazia o que
podia. Já tinha marcado um gol, que aliás viria a ser o único do jogo.
Intervalo. Os 10 jogadores
do Cruzeiro – Calango a frente – partiram para o goleiro agradecendo.
Veio a inevitável pergunta
— Você pegou tudo, é
bom demais, em que time você joga?
— Na verdade nunca
joguei, aliás nem entendo muito disso, me mandaram ficar aqui na frente da
trave e como meu irmãozinho está brincando ali atrás, cuidei de nenhuma bola
passar para não machucar a criança.
Alvoroço. Calango, soberano, foi definitivo:
— Pois então manda
seu irmãozinho brincar atrás da outra trave no segundo tempo.
JOTA CHRISTIANINI
5 respostas em “Elementar meu caro Calango”
Jota, esse elástico é o mesmo do Rivelino? Aquele do Riva ouvi dizer que ele viu um nissei fazer e pediu para ensinar-lhe! Esse nissei veio jogar aqui no Japão e hoje é comentarista em uma TV local! Abraço nipônico!
Muito bom J ! Sensacional…
Nem sabia que o Leivinha tinha inventado o elástico… bom saber!
Excelente!
Aliás, precisamos contar para todos quem realmente foi o inventor do elástico!
Eu nunca escuto que foi o Leivinha!!!
É JOTA, QUANDO É QUE TEREMOS OUTRO LEIVINHA??E PENSAR QUE HOJE TEMOS MARQUINHOS, DANILO ETC. É O FIM DA PICADA.
Jota, um documentario sobre a Ferroviaria, onde o personagem principal é o Piol. Acho que voce vai curtir, abraços.
http://www.tribunaimpressa.com.br/Multimidia/Videos/ExibirVideos.aspx?id=1892