Foi em setembro, aliás pensando bem acho que eu tinha menos idade, talvez 7 ou 8, mas lembro. Assisti pela primeira vez um jogo de bola ao cesto, ou cestobol, como diziam na época.
Algo “parecido” com o atual basquetebol.
A quadra ficava onde hoje existe o parque infantil.
Não teve futebol, mas foi uma grande festa.
Às folhas tantas, pelo portão da Turiassu, então um portãozinho que mal passava um carro, aliás passava, raspando, entra um Cadillac conversível. Dele desce um sujeito alto, muito bem vestido, usando sapatos sem meia, talvez a primeira vez que vi uma coisa dessas, mesmo porque chamou atenção de todo mundo.
Todos estavam de paletó, era quase obrigatório, ainda mais em dia de festa.
O jovem , sorrindo, saudou a todos.
Meu pai orgulhoso por ter cumprimentado aquele palmeirense ,disse em tom mais heróico que o 5º ato do Rigoletto (expressão Rodrigueana, afinal o Rigoletto só tem 3 atos).
— Meu filho! você viu? eu cumprimentei um Matarazzo, e dos bons.
Naqueles tempos Matarazzo, Rockfeller e Cadillac eram as três maiores expressões de riqueza e importância. Tinha também uma bebida inacessível a todos nos da Lapa, chamada uísque, cuja marca Cavalo Branco soava como o quarto mosqueteiro, daqueles três símbolos do luxo.
Uma cena que marcava a importância dos Matarazzo e de quem trabalhava nas Indústrias Reunidas Francisco Matarazzo.
Rua Coriolano, Vila Roamna, quase Lapa, jogávamos bola na rua, toda tarde, mal chegando da escola.
Eu, Marco Polo del Nero – esse mesmo – e tantos outros italianinhos.
Quando passava um cidadão de terno, gravata, chapéu, às vezes polaina, era comum uma vovó surgir na janela e bradar, gesticulando como convém a uma nona legitima:
– Fermarsi, per aspettare l’uomo a passare, non vede che lavora in Matarazzo non possono scompigliare costume.
Não se podia imaginar que a bola do jogo sujasse o terno de um funcionário da Matarazzo.
Voltemos à festa no Palestra; Ermelino Matarazzo, aquele que chegava, foi goleiro, diretor, presidente do conselho e após um dos tantos recadastramentos dos sócios, ostentava a carteira número 1 de sócio do Palmeiras.
Contar a história do Palestra sem falar da família Matarazzo é infame.
Desde antes da fundação a presença da família, pelos próprios, e por outros, como o extraordinário Luigi Cervo foi marcante.
O Conde, seu filho Chiquinho, neto Ermelino – Eduardo, esse foi presidente do Palestra – e outros tantos foram esteios da força que forjou o campeão do século.
Ermelino e o time do Amalia (percebam que no placar o time era
identificado por matartazzo)
Falemos do Ermelino; bom moço, adorava futebol desde garoto; levou a bola para suas indústrias. O melhor time da Liga Industrial tinha que ser o Amalia (nome de uma das fábricas e do time de futebol do grupo). Mandava buscar jogador em todas unidades das indústrias, facilitava alguma coisa nos horários de trabalho, ou ainda arrumava emprego para jogadores de times que pagavam pouco, mesmo na era do profissionalismo.
Em todas posições jogava um craque, menos no gol, que a camisa número um, essa era do próprio Ermelino.
Ermelino é dos 3 goleiros, o que esta no meio, o mais alto
Concretizou um outro sonho, jogou no Palmeiras nos juvenis e no amador.
Conquistou alguns títulos, como o de campeão paulista de amadores de 1945; levava seus companheiros para o gramado da Mansão dos Matarazzo na Avenida Paulista, para treiná-lo.
No dizer de um dos companheiros da época “não era um bom goleiro, só razoável, mas a humildade, de sendo um Matartazzo, a mais importante família do país, conviver com todos os outros tratando-os de igual para igual, em tempos de pouco uso do politicamente correto, compensava seu pouco talento”.
Deixou de jogar, mas até a morte continuou no Palmeiras; exerceu vários cargos.
Enfim um grande palmeirense de uma grande família palmeirense.
Dedicatória em foto feita por Ermelino ao amigo Turcão
Uma resposta em “Ermelino, o palmeirense Matarazzo”
Mais uma grande história…
Jota, o livro vem com o novo site????