Por Jota Christianini
O vô do Adhemarzinho Altieri também se chamava Adhemar. Para ser mais preciso Adhemar Tremozechi Curci, mas isso era detalhe afinal para todo mundo no Pari ele era o ”võ do Adhemarzinho”.
Dizer que ele era palmeirense é pouco, afinal quem mais palmeirense algemava um dos netos no corredor de acesso ao casarão, durante uns 15 minutos para deixar claro que não perdoaria fácil a besteira do menino em torcer para o time da Vila Sonia?
Ou então quem mais teria o vizinho, o Zé da Venda que morava em frente da sua casa o Zé da Venda, dono do armazém e morador no piso superior ao seu comércio, como alvo favorito?
Aliás cabe esclarecer: seu Zé era gambá e nem preciso dizer que a cada vitória em um Derby – e naquele tempo ganhávamos a imensa maioria – lá ia o ”Vô do Adhemarzinho“ para o terraço fronteiriço á casa do pobre seu Zé mandar meia dúzia de morteiros para mostrar quem era o dono do terreiro futebolístico.
Ficasse nos foguetes que infernizavam a família do seu Zé – um dia um deles queimou todas as cortinas da casa do corintiano – era pouco e barato.
Tinha também os impropérios ou, sejamos justos, os gritos apropriados.
Desde “Aqui é Palestra seu imundo” até as mais singelas sugestões de onde o seu Zé da Venda devia enfiar a bandeira gambá, ele que timidamente deixava nas varanda de sua casa até uns 15 minutos do segundo tempo do derby, tempo suficiente para saber que ao final iria enrolá-la e guardá-la. Como sempre!
Feito o estrago virava-se para os netos:
“É asism que se trata (sic) os corintianos”.
Ou então, morando próximo à Fábrica de Álcool Matheus, onde tinha um campo de futebol, assistia os jogos da varanda.
Um tarde, jogo muito morno, o Vô do Adhemarzinho desceu, arrumou uma confusão, e voltou para ver o fim da briga do seu terraço. E cochichou: “agora a coisa ficou boa”.
Não atendia a campainha da porta sem antes identificar o visitante. “Se não for palmeirense pode ir embora, não atendo, nem quero saber o que deseja”.
Amigo do Attilio Ricotti – notável diretor e benfeitor do Palestra – tinha um sobrinho, Mingo que jogou nos juvenis do Palmeiras – foi campeão juvenil de 55, junto com Mazzola, Fernando Puglia, Robertinho e outros.
O Vô do Adhermazinho ia nos jogos com os irmãos e se alguém criticasse o Mingo, ou qualquer outro jogador do Palmeiras, o pau quebrava… e como.
Nesse ano de 55 o jogo decisivo foi na Fazendinha – confesso que nunca vi nome mais apropriado pra um campo de várzea. O treinador do profissional palmeirense era Aymoré que na véspera requisitou 5 jogadores do juvenil para o time principal. Não houve quem fizesse o treinador mudar de idéia.
Mesmo assim o Palmeiras ganhou fácil: 4×2.
Mingo jogou e o Vô do Adhemarzinho estava lá com a família e mais uns amigos.
Ao chegar comprou num bar em frente ao campo – jamais ele gastaria seu dinheiro na sede daqueles pobres coitados – uma caixa de “chica-bom” .
Jogo correndo solto, Pameiras vencendo e de virada, mas mesmo assim tinha um gambás atormentando. A turma do Pari calada e quieta consumia os sorvetes.
Restavam ainda uns dois ou três na caixa quando Vô do Adhermazinho deu por encerrada a tolerância.
Foi em frente ao mais falante dos gambás e literalmente enfiou-lhe a caixa de sorvetes na cabeça.
O cara quis reagir, mas diante do ridículo – uma caixa de papelão enfiada na cabeça e sorvete escorrendo pelas orelhas – achou melhor bater em retiarada. Foi a glória palestrina.
Outra feita.
Passa o tempo só não passa a saudade do Vô do Adhemazinho. Estamos em 72, o nosso amigo Adhemar, neto do Vô, morando no Canadá – anos depois voltaria para criar o Ouvinte Repórter na Rádio Eldorado, inventar a Rádio Mix, reportar na Rede Globo antes de retornar para dirigir a Radio Canadá – recebia as noticias do Palmeiras com muito atraso. Sem internet, os jornais brasileiros chegando com semanas de atraso, ficou sabendo quase por acaso, que naquele 23 de dezembro decidiríamos o brasileiro com o Botafogo.
Apesar da nevasca convenceu um amigo brasileiro de lá, que nem era palmeirense, a ir para o alto da cidade onde o carro pegava as ondas curtas da Radio Tupi do Rio.
E ainda assim com o motor desligado para não haver interferência. Ou seja, numa autêntica fria escutaram o jogo, agravado com o fato do locutor carioca obviamente não enfatizar que o empate dava o título ao Verdão.
Finalmente o jogo acabou e até os locutores cariocas foram obrigados a proclamar o Palmeiras campeão brasileiro de 1972.
Voltaram para casa e, como era necessário, tinham agendado um ligação para São Paulo para logo depois do jogo.
Adhemar, o neto queria conversar com o Adhemar, o Vô.
Comemorar o titulo com ele, pelo menos através do telefone a 12.000 quilômetros de distância.
Atendeu a Vó.
— Adhemarzinho, seu avô não pode atender agora. Está comemorando o título do Parmera dando uns tiros pela janela.
14 respostas em “O avô do Adhemarzinho”
ALO ALO MEU FILHO E REALMENTE MUITO ENGRACADO E BOM VOCE TER RESERVADO UMTEMPO PARA RECORDAR ESSAS MEMORIAS RECORDAR E VIVER E PENA QUE VOCE NAO SABE DE MUITO MAIS COISAS POIS MUITAS DELAS VOCE AINDA NEM TINHA NASCIDO E TEU PAI AINDA NAMORAVA COM SUA MAE GOSTAMOS MAMAE PAPAI BEIJOS BEIJOS PARA TODOS
Karla, espero que voce tenha gostado do causo. Consta que ha muitas outras histórias do seu Adhemar.
So uma correcao: meu pai Mingo (q foi o titular do Mazola) e filho do Adhemar!
Adorei o ‘deu por encerrada a tolerância’! Sensacional!!
Já está passando a hora do Jota escrever um livro com estes “causos” que ele tão bem nos conta.
Já me fez chorar e rir , é delicioso.
e nesse livro caberá o teu avô que “estrangulava” o aprelho de radio quando Palmeiras tomava um gol.
Adoro esses textos do Jota!
Sensacional. Tive um amigo assim, já falecido, chamado Antonio Paladino, italiano, 50 anos mais velho que eu, que era desse jeito do “Vô do Adhemarzinho”, igualzinho!
PAAAAAALMEEEEEEEEIRASSSSSSSSSSSSSS FIU FIU FIU
Jota, um patrimônio do Palmeiras e do 3VV. Sensacional como sempre. E o Adhemar, um exemplo para a nossa torcida, que precisa entender que concordando ou não com os rumos atuais do Palmeiras, todos amamos este time. E precisamos continuar amando!
Hahahaha, sensacional, muito bacana!!!
kkkkkkkkkkkkkkkkkkk. sempre bom ler histórias sobre o Parmera. nessa decisão de itulo eu morava na cidade de Iacanga, e escutei no rádio junto com amigo SãPaulino, que estava torcendo pro Botafogo. foi uma alegria. me lembro muito disso. abraço Jota.
Sensacional Jota, pra variar… Parabéns a você e ao amigo Adhemarzinho!!!
hehehe sensacional!