Adendo escrito em novembro de 2013.
Em fevereiro de 2009 o 3VV publicou o causo (na verdade mais história que um causo) abaixo. Clicando aqui você pode reler o original.
No final do texto nosso Jota Christianini fazia uma recomendação. Mas infelizmente não deu tempo para o Palmeiras reparar um erro histórico. Minguinho faleceu! Nossos sentimentos à família
Site Oficial do Palmeiras → Palmeiras lamenta falecimento do ex-diretor Domingos Ianacone
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SEMPRE É CARNAVAL
Por Jota Christianini; Colaborou José Ezequiel Filho;
Publicado originalmente em Fevereiro de 2009.
O Palmeiras, sempre pioneiro, às vezes exagerava. Não tinha, como todos, um bandinha para animar a torcida: tinha duas! A antiga do Gino e nos anos 60 surgiu a outra; a do Minguinho.
Quem era o Minguinho? Domingos Ianacone, um lendário, perspicaz e notório torcedor e dirigente palmeirense.
Verdade seja dita que o cargo que ele ocupava era o de menos. Muito do que se vai contar dele aconteceu quando não ocupava cargos; outros acontecimentos encontraram-no diretor de futebol.
Dono da TV do Braz uma das maiores lojas da cidade e com certeza o maior revendedor de TV de toda região, Minguinho fazia de seu negócio uma espécie de hobby, ou seja o comércio ocupava as suas horas vagas; na maioria do tempo cuidava do Palmeiras, sua vida, sua família, seu trabalho.
Pelo clube do coração era capaz de façanhas que hoje soam inacreditáveis.
Em 71 o Palmeiras foi jogar na Argentina, Libertadores, e num trabalho das emissoras de rádio as torcidas dos times adversários resolveram apoiar o representante brasileiro. Mas e a grana para a viagem? Minguinho resolveu essa e outras paradas, para ter o maior apoio possível ao seu querido Verdão. Aliás quando a imprensa tinha pudores ao escrever apelidos, foi dele que se ouviu a expressão: Verdão!
Tempos depois a Lusa não queria vender Leivinha, o Palmeiras queria comprar, mas não tinha dinheiro. Minguinho foi à luta.
Convenceu os lusos a vender, mas eles queriam à vista, nada que Minguinho não resolvesse. Negociou a não mais poder, e fechou o negócio. Mandou pegar o cheque no fim de fevereiro.
Iniciou campanha promovendo os bailes de carnaval do Palmeiras.
A receita do carnaval do Palmeiras, como já tinha acontecido com Djalma Santos e Servílio, pagou a compra de Leivinha. Outros tempos e outros carnavais.
Por acaso também era carnaval, sábado; o Palmeiras perdia o Derby, inconcebível para Minguinho. Invadiu os vestiários no intervalo e antes que treinador pensasse em impedir foi direto aos jogadores.
– Se virar o jogo segunda feira o time inteiro passa na loja e leva uma TV Colorado RQ – era o que havia de mais moderno em termos de TV.
Viraram, venceram, ganharam o presente. Assim era o Minguinho.
Dario era o terceiro ou quarto reserva da Academia de Filpo Nunes. Minguinho nem era da diretoria. Tupãzinho estava fora, Ademar quebrou a perna e Dario teve sua vez. Marcou um golaço, usou o bicho para comprar uma geladeira, na TV do Braz, para sua mãe em Minas. Domingos Ianacone quando soube, devolveu o cheque ao jogador. A geladeira ficou de brinde.
Os negócios ficaram de lado, talvez até demais, e a loja fechou. O dinheiro acabou, muitos amigos sumiram, Minguinho virou um homem triste.
Muito tempo depois, décadas, ele “tentou” voltar ao clube. Tempos obscuros, cinzentos. Foi interpelado pelo porteiro:
– Onde o senhor pensa que vai?
– Sou o Minguinho, fui diretor há muito tempo.
– Não o conheço, não entra!
Ao invés de um tapete verde encontrava a porta fechada, atravessou a rua entrou na sede de uma torcida recém criada; não reclamou, não brigou, contou históiras aos jovens. Apenas resignou-se!
Carnaval novamente, hora do Minguinho voltar ao Palestra Itália.
Com tapete verde, bateria, confete, serpentinas, rainhas e reis a esperá-lo.
Lugar de palestrino é no Palestra.
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*Jota Christianini escreve todas as terças-feiras no 3VV,
sempre um causo que ele conta como o causo foi.
Reprodução autorizada com expressa citação do autor e
da publicação do texto no site Terceira Via Verdão
7 respostas em “Sempre é Carnaval”
Triste fim, fez tanto pelo clube e foi esquecido. Imagino o que ele pensou nesses últimos anos desse esquecimento. Pelo menos alguns ainda lembraram dele, é pouco mas é algo.
Meus sinceros sentimentos a família.
Parabens por terem um familiar assim.
É uma honra pra nós Palmeirenses ter um torcedor desse kilate.
Sinceramente, li o texto e me senti triste. Feliz, por ver quem foi e o que fez Minguinho. Mas triste, por ver como não temos memória. Triste, por saber que não fora recebido em sua casa. Triste, por saber que apenas resignou-se frente à situação e aceitou seu destino. Triste, por saber que não haverá, nunca mais, alguém assim. Que Minguinho descanse em paz.
Boa lembranca Jota, pena q de 2009 pra ca nada foi feito.
Nossos sentimentos a familia do Minguinho.
Se tivéssemos mais palmeirenses como Minguinho, estaríamos hoje em outro patamar.
Hoje tem muito pilantra na diretoria que se diz palmeirense e só levam $$$ tudo para si próprio.
SE fosse hoje algum diretor cobraria 20 ou 30% pra trazer algum cabeça de BAGRE !!!
Parabéns Jota, aliás deve estar cansado de receber elogios. Sobre o tratamento dado a ele não me espanta.