Allianz Parque 8 anos

Por Vicente Criscio

Em 19 de novembro de 2014 abriam-se as portas do novo estádio palmeirense: Allianz Parque.

Hoje, depois de 8 anos e muita discussão, politização do tema e pouca razoabilidade de algumas partes, podemos começar a medir o tamanho desse projeto para o Palmeiras.

Então pega um café, abre o PC ou continua a ler no celular mesmo, mas se prepara porque lá vem história.

Back to the past… 2007

O Palmeiras tinha uma nova composição de diretoria. Della Monica ao final de 2006 aliou-se ao grupo do Presidente Belluzzo, pelas mãos de José Cyrillo Jr. e reelegeu-se a um segundo mandato desta vez sem a necessidade de seguir o que Mustafá Contursi definia.

Muitas mudanças começaram naquele ano. Belluzzo assumiu a diretoria de Planejamento e um dos projetos mais relevantes era a renovação do então estádio Palestra Italia.

Hoje pode parecer óbvio, mas 15 anos atrás, esse assunto era considerado um devaneio. Financeiramente todos os clubes estavam mal. Todos geravam déficit, as receitas eram 1/5 do que se vê atualmente, como alguém poderia se comprometer com tamanho investimento?

Mas tinham os que prometiam – esses sempre existiram – que ia chover picanha. Por exemplo, um certo time no Jardim Leonor prometia sempre uma reforma com cobertura no seu idiossincrático estádio. Outro time, na rua Parque São Jorge sem número, prometia um estádio para sua torcida havia anos….

Como diabos um time que iniciava uma nova gestão, onde nem material de marketing existia, poderia pensar em uma reforma no estádio? Deixa ele lá quieto, diziam alguns….

Não existem coincidências….

…. nem herói, nem bala de prata, nem sorte. Na vida existe trabalho em conjunto de pessoas que trazem suas competências na mesa e, vestidas com o mesmo espírito, buscam um objetivo.

E geralmente alcançam.

Belluzzo, como diretor de planejamento, teve a autonomia que merecia por parte de Affonso Della Monica. Aliás, antecipando os méritos, se Belluzzo é o pai do Allianz, Della Monica é o padrinho (ou Godfather). Abriu, com sua então força política, todas as portas dentro do Palmeiras. Enquanto Belluzzo, com seu nome abria as portas fora do Palmeiras. E juntou um grupo de “então” jovens colaboradores (saudades desses tempos) para ajudar no projeto. Se eu quiser citar todos os nomes vou esquecer alguém importante, afinal todos foram importantes.

A citação abaixo é do próprio Belluzzo:

” A menção ao Dellamonica é um dever de justiça. Ele assinou o contrato em 2008 quando eu estava no Departamento de Planejamento. Depois, já em minha gestão recebi o alvará e assinei a escritura.”

Mas vou citar dois para não ser injusto ou incorreto com a história. João Carlos Mansur e Marcelo Fonseca foram aqueles que trabalharam desde o início na busca de um “patrocinador” ou investidor.

As coincidências da vida: os dois trabalhavam no mesmo prédio na Faria Lima, um era do mercado financeiro outro do mercado de Real State. Em comum, o Palmeiras e a paixão pelo desafio da Nova Arena.

Entre idas e vindas, um parceiro de negócios que fugiu da reta obrigou o grupo que se formava a buscar um investidor, talvez com alguns parafusos a menos ou a mais, para ser o parceiro do projeto.

Mansur encontrou Walter Torre. Então pouco conhecido – como todos que possuem o Palmeiras em comum, existem os empresários ANTES e DEPOIS do Palmeiras.

Walter Torre, who?

Walter Torre, hoje falecido, mas que tive a honra de conhecer e conviver por algum tempo quando eu estava nesse projeto, era daquele tipo de empresário “risk taker“. Sorry meu anglicismo…. mas adorava um risco. Ou uma encrenca. O modelo de negócios de sua construtora era diferente do que se conhecia. Enquanto as grandes construtoras construíam e faturavam na obra, a WTorre em um de seus modelos de negócios construía para o cliente sob medida, entregava as chaves do empreendimento pronto para entrar (os tais projetos turnkey), e cobrava um valor mensal por um contrato de 20 ou 30 anos. Ao final do período, o cliente ficava com o imóvel, e a WT tinha realizado seu lucro em um belo contrato de serviços ao longo de 30 anos.

Esse modelo permitia a empresa se alavancar com seu contrato e construir outros projetos e criar outros contratos.

Inteligente, arriscado, e, na época, relativamente inovador.

Apetite ao risco

Mansur apresentou a Walter Torre o projeto e assim começou tudo.

Um dos sócios antigos de WT não queria o projeto. Sem citar nomes, mas dando a dica de que ele era palmeirense, e muito palmeirense, por várias vezes me falou com a porta fechada: se dependesse de mim, nós não estaríamos aqui. Estamos fazendo porque o “Walter é maluco” .

E, pensando bem…. era mesmo.

Qual empresário, já de sucesso, bilionário, precisaria se meter com o mercado de futebol e todas suas idiossincrasias?

E Walter Torre dizia, que nem palmeirense ele era. Era santista.

Mas, Dr. Walter, também disse algo em reunião que participamos, junto com ele e Belluzzo para o aperto de mão final antes de começar a bagunça toda: “no clube xis (óbvio que não vou citar o nome, mas nem precisa) fomos consultados para fazer o estádio para eles; pediram propina do presidente ao porteiro; aqui no Palmeiras a única preocupação de vocês é ter um projeto financeiramente que fique em pé e que seja bom para a instituição; isso fez toda a diferença”.

A burocracia contra e a favor

Entre desenvolvimento dos termos do contrato, assinatura do Memorando de Entendimentos, apresentação, desenvolvimento do projeto, aprovação no Conselho de Orientação e Fiscalização, aprovação no Conselho Deliberativo – com reuniões plenárias entre conselheiros, onde um certo tipo, que mais tarde virou diretor jurídico, fazia fotos das páginas da minuta para depois usar isso contra o projeto na justiça – aprovação na Assembleia dos Sócios sobre o projeto, ou seja, tudo isso ANTES de entrar o primeiro trator no Palmeiras, foram pelo menos dois ou três anos.

Tivemos várias situações inusitadas. Aqui um outro nome que foi indispensável nesse processo: José Cyrillo Jr. Engenheiro, conhecia a planta do Palestra Italia como a palma da mão. E o Palmeiras usou de um alvará de reforma, concedido anos atrás – ironia do destino, em uma gestão de Mustafá Contursi – para ter aprovado o projeto.

Ponto para a burocracia, porque se usássemos os novos indicadores construtivos daquele momento do projeto, teríamos mais dificuldades em aprovar o projeto como tal.

Mas eram muitos problemas – desde os limites do Palestra que com o tempo foram “se movimentando” e não por culpa do Palmeiras, mas por culpa da Prefeitura e seu Departamento de Engenharia, que a cada passo que dávamos pra frente eram dois para trás para corrigir algo.

Belluzzo sucedeu a Della Monica na presidência. Seria entre 2009 e 2010. Mas as coisas dentro de campo deram errado e perdemos um campeonato Brasileiro que estava nas nossas mãos. Em 2010 as coisas ficaram um pouco piores e Belluzzo adoeceu. Palaia assumiu e colocou fogo no parquinho. Politicamente o Palmeiras se tornou caótico (mais? sim, mais!).

Com esse cenário, o risco de uma gestão contrária ao projeto assumir poderia colocar em risco tudo que tinha sido feito até ali. A essa altura Walter Torre devia estar se perguntando o que ele tinha bebido naquele dia em que resolveu fazer o projeto conosco.

Mas coube a José Cyrillo, salvo melhor juízo, ao final de 2010, que tomou a iniciativa: passa o trator.

Literalmente.

As ruínas de Pompeia ou de Roma eram fichinha perto do que se tornou o então Palestra Italia.

Agora o avião tinha decolado. Precisávamos de um novo estádio.

A história é escrita não apenas por quem é competente ou tem boa intenção. É escrita também por quem tem coragem de fazer algumas maluquices.

E como era esperado, em janeiro de 2011 saíram o pai e o padrinho Belluzzo e Della Monica e entrou Tirone e cia. Hashtag corram para as montanhas….

Fogo inimigo

Politicamente, ninguém queria dar os créditos ao Presidente Belluzzo. Então tivemos de tudo dos que jogavam contra.

Um então conselheiro, hoje já falecido, entrou em contato com um Promotor amigo dele no Ministério Público tentando cancelar o alvará que dava condições técnicas do Palmeiras iniciar a obra.

Como diz meu amigo Santino: a morte não melhora ninguém!

Teve outro…. esse daí se deitou nas quadrar poliesportivas tentando impedir a demolição.

Mas não ficou só nessas caricaturas.

Tivemos campanhas de apoio e incentivo com torcedores e sócios. Quem aqui se lembra da campanha “Assina Tirone!” para o então presidente Arnaldo Tirone assinar a ratificação do contrato?

Tivemos os que eram a favor mas apenas se o estádio tivesse capacidade para 60 mil lugares. E não adiantava desenhar para o indivíduo que o projeto “parava em pé” financeiramente com 40 mil lugares.

Um dos vice-presidentes do Tirone, que achava que entendia de tudo, de cirurgia neurológica a pilotar foguete para marte, e, portanto, era especialista em contratos de cessão de superfície, em um evento palestrou sobre Arenas e disse que o contrato do Corinthians era melhor que o do Palmeiras.

Graças a Deus e aos meus orixás, o destino deu a correta insignificância a esse indivíduo.

Da esquerda para a direita: Vicente, Solarino, Fabiana, Mansur, Fonseca, Dezembro. Foto tirada no Jardim de Napoli, comemorando a aprovação pela AG dos sócios (EU DIGO SIM)

Durante anos e anos, enquanto a obra se desenvolvia, muitos ainda acreditavam que o estádio não sairia. Que não seria inaugurado. E que o contrato era ruim. E que a WTorre ia quebrar e não ia sair o estádio.

Mas, quando todos achavam que após o terremoto Tirone – que sairia de cena após jogar o Palmeiras na série B em 2012 – nada poderia ser mais perverso contra o projeto Nova Arena….

… eis que entrou Paulo Nobre como presidente carregando uma trupe de magoados…. aqueles que ficaram fora do bonde da história e consequentemente precisavam ganhar algum tipo de relevância.

Que falta que faz um lança chamas

No sentido figurado… claro!

Em um trecho do brilhante filme Perfume de Mulher, Al Pacino, no papel de um ex-militar cego, Coronel Blade, está defendendo um aluno de ser banido da escola (Baird School) por não querer delatar uns “amigo”. A certa altura do brilhante discurso, ele diz: “Se fosse o homem de 5 anos atrás acabaria isto com um lança chamas”. Clique aqui e veja o speech….

3VV também é cultura!

Esse mundo da narrativa ser mais importante do que os fatos começou faz tempo….

A narrativa naquele momento era: o contrato é ruim para o Palmeiras.

Vamos então abordar esse assunto de forma rápida.

Back to the future

O assunto ainda hoje, 8 anos após a inauguração e 15 anos após o primeiro memorando de entendimentos, é complexo.

Imagine o leitor, em 2007, sem programa sócio torcedor com 80 mil inscritos, com uma receita ínfima de bilheteria, precisando colocar no chão um estádio que tinha sérios problemas estruturais, sem dinheiro – como você faria um contrato com um maluco que estava disposto a investir R$ 500 milhões, que depois se tornaram quase R$ 1 bi, embaixo de uma indústria do futebol cheia de nuances e que teria ainda que conviver com vários presidentes durante 30 anos de contrato?

Meu querido Avallone diria: INTERROGAÇÃO!

O modelo precisava proteger o Palmeiras das intempéries do negócios mesmo sem saber quais seriam lá no futuro. Tivemos que pensar o que viria pela frente para voltar e tentar colocar no contrato.

Um bando de “jovens” diretores, sem remuneração ou obrigação, mas com um enorme senso de responsabilidade sob a coordenação do Professor Belluzzo, buscava desenhar um modelo novo, em um assunto ainda inexplorado no Brasil – direito de uso de superfície no esporte por 30 anos – e que protegesse a instituição sem inviabilizar o negócio.

Versus uma empresa que sabia o que fazia e sabia os riscos do negócio.

Em primeiro lugar, o conceito “tem que ser bom para os dois lados”. Não existe contrato bom apenas para uma das partes. Se for assim, a outra vai dar um jeito de não perder.

Walter Torre (a esquerda) em apresentação na Sala São Paulo em dezembro/2007

Para isso tínhamos – todos, Palmeiras, WTorre, executivos, colaboradores – que ter certeza de que o modelo funcionava.

E qual era nossa alavanca? Walter Torre falou isso em dezembro de 2007, em um evento na Sala São Paulo, onde anunciou com Belluzzo o memorando de entendimentos para a parceria (15 anos ATRÁS!!!).

Location location location!

O modelo pararia em pé porque a localização do Palestra Italia era única. Cidade de São Paulo, região centro-oeste da cidade, ao lado do metrô e das principais vias da cidade, ausência de um local semelhante – talvez o Pacaembu seria comparável, mas teria os problemas do tombamento – logo, sem concorrentes!

Por isso a WTorre ganharia dinheiro com os shows. Com as propriedades de marketing (naming Rights, supply Rights, …). O Palmeiras teria um estádio padrão FIFA, moderno, com capacidade para 42 mil lugares e com 100% da receita de bilheteria garantida ao Palmeiras.

Outro conceito que procuramos fugir: não queríamos o risco do negócio para o Palmeiras. Seria da WTorre. Portanto nossa participação seria na receita. E não no lucro.

Mas do lado de lá também tínhamos seres pensantes. Então o acordo foi em uma escala de participação nas receitas. Começando com 5% e chegando a 30% ao final do contrato.

Outro tema: cadeiras

A WTorre queria comercializar cadeiras. O valor do ingresso do jogo seria do Palmeiras. Mas ela venderia as cadeiras no modelo “season ticket”.

Aqui cabe uma consideração: eu, que tive o privilégio de participar e viver essa história, sempre defendi que 100% das cadeiras deveriam ser vendidas pela WTorre. O Palmeiras teria a receita da bilheteria e teria ainda um % da receita da cessão da cadeira. Esse é o modelo na Inglaterra, Alemanha, …

Nesse momento não existia o programa sócio torcedor como conhecemos hoje. Mas depois veio Avanti. Que subiu, caiu, subiu de novo…

E aí?

Ué…. senta e ajusta o contrato.

#sqn,…. foi aí que entrou a narrativa. As mentes liliputianas não queriam entender esse conceito. E batiam de frente, e de forma dura, no parceiro, no ex presidente Belluzzo, nos antigos diretores.

Eu, após 15 anos da primeira minuta, ainda acho que fomos tímidos. Usar o Avanti como justificativa para frear esse projeto era um enorme tiro no pé.

Não falo isso desde hoje. Falo desde há muito tempo. O Avanti é um programa cheio de defeitos em sua origem. Deveria ser reformulado, e não porque hoje fala-se do cambismo e dos problemas operacionais. É porque há um limite para esse programa se o apelo for desconto no ingresso.

Temos 16 milhões de torcedores e nos preocupamos em agrupar 100 mil no Avanti? É pensar pequeno demais no potencial dessa torcida.

Mas vamos seguir com a Arena….

E finalmente….

…. depois de muita briga, muita pancada, tentativas inclusive da antigos gestores do Palmeiras, eis que chegamos no dia 19 de novembro de 2014: inauguração do Allianz Parque.

Os que achavam que essa data nunca ia chegar, chegou.

Aquele avião que decolou quando os tratores passaram por cima do Palestra Itália, que teve seus problemas durante o voo, alguns reais, em que a própria WTorre falhava em alguns pontos do contrato enquanto o Palmeiras falhava em outros, finalmente havia chegado ao seu destino.

Os números impressionantes

De lá pra cá, desde 19 de novembro de 2014 foram 252 jogos no Allianz Parque. Desses, 199 jogos foram com público pagante. Tivemos 53 jogos no período da pandemia, sem público pagante no estádio.

No período foram 165 vitórias (65% dos jogos), 49 empates (19%) e 38 derrotas (15%).

Foram mais de 6 milhões de público – SEIS MILHÕES – pagante em 199 jogos. E em termos de bilheteria, mais de R$ 400 milhões de reais. QUATROCENTOS MILHÕES DE REAIS. Sem falar nas receitas que vêm da WTorre por força de contrato.

Isso porque alguns gênios diziam que era um péssimo negócio!

Exposição da marca

Além dos ganhos tangíveis, temos os ganhos intangíveis. A imagem da instituição Palmeiras abraçou o mundo. Ou foi abraçada por ele. Desde o show de Paul McCartney, em 2014, tivemos vários artistas vestindo nossa camisa. Justin Bieber foi um deles, que vestiu a camisa do Palmeiras por dois dias seguidos.

O Allianz Parque foi o Estádio que mais recebeu shows no mundo em 2017, 2018 e 2019 e que virou referência global, comparável em operação e superando indicadores arenas da família Allianz, como Allianz Arena (Munique), Allianz Stadium (Torino), Allianz Park (London), Allianz Field (Minesota) e outros tantos Allianz no mundo.

E no que mais interessa ao palmeirense: no esporte, o Allianz Parque foi um divisor de águas. Desde a sua inauguração o Palmeiras ganhou duas Copas do Brasil, duas Libertadores, três Brasileiros, dois Paulistas e uma Recopa Sul-americana. Além de disputar a hegemonia esportiva e financeira do futebol Sul-americano com o Flamengo.

Foi SOMENTE pelo Allianz? Óbvio que não.

Teríamos conseguido o mesmo resultado SEM O ALLIANZ? Óbvio que não!

Péssimo negócio….

Rogério Dezembro, ex-diretor de marketing do Palmeiras e que foi CEO da WTorre Arenas por vários anos, resume numa frase o que o Allianz Parque representa:

“O Allianz Parque é um projeto vencedor e inigualável no Brasil e no mundo, apesar da enorme oposição que enfrentou dentro do próprio Clube.” (Dezembro, Rogério, nov/2022)

Já o ex-Presidente Luiz Gonzaga de Mello Belluzzo, sempre muito modesto quanto aos seus méritos nesse enorme projeto, afirmou:

“Eu gostaria de registrar o empenho coletivo na elaboração e construção do projeto da Arena. “Não sou eu, somos nós” (L. G. Belluzzo, Nov/2022)

Recentemente, Belluzzo publicou no Valor Econômico um artigo sobre o Allianz (reproduzido abaixo na íntegra). E a conclusão hoje é mais do que um consenso: foi um péssimo negócio para os adversários!

Parabéns Professor Belluzzo! Parabéns a todos os palmeirenses que se envolveram e ajudaram a construir esse projeto e esse resultado.

Saudações Alviverdes!

*Vicente Criscio é conselheiro de 3o mandato da SEP. Participou do projeto no período 2007 a 2009.

***

Fenomenologia do Espírito (Palestrino)

Publicado originalmente no jornal Valor Econômico por Luiz Gonzaga Belluzzo

Premiado em dezembro de 2017 no Festival Internacional, o longa-metragem “Segundo Tempo” de Rogério Zagallo, narra a construção do Allianz Parque.

Assisti ao filme no Museu do Futebol abrigado no Estádio do Pacaembu e desfrutei a honra de sentar-me ao lado de Cesar “Maluco”, um dos ícones do Palmeiras.

Encerrada a sessão, os palmeirenses empunhavam seus iphones para deflagrar os costumeiros festivais de selfies. Pedi que se acalmassem. Educado pelos mestres jesuítas, apresentei minhas desconfianças com auto celebrações e busquei explicar aos rapazes as façanhas do Espírito Palestrino.

Esse Espirito acolhe em seu âmago o extremo conservadorismo e um irrequieto impulso inovador. Os indivíduos-dirigentes apenas realizam os movimentos contraditórios. O Espírito brilhou com as duas academias dos anos 60 e 70, para encolher-se nos fracassos e decepções dos 17 anos de fila, inspirados na mentalidade do bom e barato. Fracassos encerrados em 1993.

Tal como a cogestão Palmeiras-Parmalat, o projeto da Arena Multiuso não nasceu de uma inteligência privilegiada que se ocupou de antecipar os resultados formidáveis de suas elucubrações.
Na cogestão foram fundamentais os inconformismos dos amigos já falecidos, Gilberto Fagundes, Luis Kadow, para não falar dos trabalhos do saudoso Paulo Roberto Nicoli e do amigo Clodoaldo Antonângelo.

Não faltaram os que clamavam contra a “venda do clube” a uma empresa, cujo único objetivo, diziam os de sempre, era apenas se aproveitar do Palmeiras para ganhar dinheiro. Imagino que preferissem uma empresa disposta a perder dinheiro.

Isto posto, vamos ao breve relato das tratativas que culminaram na celebração do contrato com a Construtora WTorre.

No final de 2.007, a Construtora WTORRE apresentou o projeto da Arena Multiuso à Diretoria de Planejamento do Palmeiras, então ocupada pelo executor do Espírito Palestrino, que ora escreve as mal traçadas. A Construtora deixou claro que, depois de tentativas malogradas com outros clubes, procurou a Sociedade Esportiva Palmeiras em razão da reputação de seriedade de sua diretoria, então presidida por Affonso Dellamônica Neto.

Foram marcadas e realizadas reuniões, chamadas “setoriais”, com grupos de Conselheiros, quando a Construtora apresentou o projeto de forma detalhada. A Assembleia Geral dos Sócios aprovou o projeto por uma margem expressiva de votos.

Em janeiro de 2009, a Presidência da Sociedade Esportiva Palmeiras, nomeou uma comissão especial para acompanhar o desenvolvimento dos trabalhos junto à WTORRE. Marcelo Fonseca, Vicente Criscio, José Cyrillo Jr., Antonio Carlos Corcione e Antonio Augusto Pompeu de Toledo se reuniam quinzenalmente com a Diretoria da WTorre. Não há como esquecer a valiosa contribuição do palestrino João Mansur e o apoio competente de Marcelo Solarino. A esses dedicados palmeirenses, devo juntar meus companheiros da União Verde e Branca, liderados por Wladimir Pescarmona.

Isto posto, vamos às diferenças entre o projeto do Allianz Parque e os demais estádios construídos recentemente:
1) O Palmeiras não investiu sequer um real na construção da Arena. Apenas cedeu o direito de uso de superfície à Parceira.
2) O Plano de Negócios antecedeu e ditou as normas do projeto arquitetônico e de engenharia. As orientações do plano de negócios definiram uma concepção da Arena compatível com o atendimento das demandas de eventos e shows. Não por acaso, o Allianz Parque lidera com folga a apresentação de shows de artistas nacionais e internacionais.

No futebol, as receitas são do Palmeiras, descontadas as despesas de cada partida (é bom repetir, de cada partida).

Em 2014, o Palmeiras faturou R$ 23.168.000 com a bilheteria, disputando apenas dois jogos no Allianz Parque (Palmeiras x Sport Recife e Palmeiras x Atlético-PR).
Em 2015, a receita do Palmeiras com bilheteria foi de R$ 75.783.000,00. Ou seja, de 2014 para 2015, a receita com bilheteria foi multiplicada por 3,27!

Em 96 jogos no Allianz Parque, o Palmeiras ultrapassou os R$ 200 milhões brutos em bilheteria, com uma média superior a R$ 2 milhões por jogo, recorde absoluto na América do Sul. Isso significou cerca de R$ 120 milhões líquidos para os cofres palmeirenses.

O Allianz Parque estabeleceu novos paradigmas de serviço, conforto, experiência e receita. Graças ao investimento e à operação da superficiária, WTorre, dona dos direitos de superfície até 2044. Para benefício da proprietária, a Sociedade Esportiva Palmeiras que, ademais, tem participação nas vendas das propriedades e nas receitas de aluguel dos shows e eventos.

Essas são as condições de sobrevivência dos clubes no futebol “financeirizado” de hoje. Ainda ouço os ecos das vozes que proclamavam: “Foi um péssimo negócio”. Foi, mesmo. Para os adversários.

Comments (10)

  1. Primeiro Campeão Mundial 51

    A despeito de alguns fatos que considero vacilo do lado político do 3vv (tipo ter apoiado uma candidatura do Pescarmona…), é muito legal saber que o Críscio também teve alguma participação em ajudar, e não atrapalhar, o projeto do Allianz Parque. Já vi muito gente falar que o Nobre também era “pai” do projeto, mas aparentemente, amém de não ser, aquela briga toda com a WTorre por cadeiras, foi de uma burrice e avareza descomunais. Mas o mais impressionante do relato, é ver gente que ativamente trabalhou contra…! A informação sobre o gambá pedindo propina no estádio deles também é de chorar. Time sujo. Enfim, parabéns ao Allianz, eu fui no jogo de estréia contra o Sport, e apesar da derrota, com dois gols do finado e querido Ananias, eu pouco me importei, aquele dia foi muito foda, o estádio e a experiência foram surreais demais.

  2. Donato, o Lúcido

    Sinceramente, a única coisa que consigo fazer neste momento é
    A G R A D E C E R
    Gratidão a todos que contribuíram com este projeto único e amplamente vencedor que foi alavanca para a retomada do protagonismo da SEP.
    Este relato do Vicente Criscio deve ser arquivado, para que as gerações futuras saibam todas as dificuldades que foram enfrentadas e, principalmente, vencidas por este grupo.

    • E o mais impressionante disso tudo Donato, é que as maiores dificuldades vieram de dentro, o chamado fogo amigo.

  3. Renovaram o contrato do Luan (meu Deus), mais um ano entregando a rapadura. E o baixola?????? Acorda presuntinho e estagiária.

  4. Pobre verdão. Só de ler os nomes que o administraram dá arrepios.

  5. Obrigado a todos pelo envolvimento. Somos o que somos graças a Arena, aos acima citados e a Paulo Nobre. Renova Dudu!!!!!

  6. Afonso Celso Gomes

    Só de pensar em quanto todos nós palmeirenses devemos a vocês dá uma certa vergonha… Será que dizer muito obrigado é pouco? Será que falar da admiração profunda por vocês é um pouco melhor? Pelo que percebi das capacidades de vocês, sei que as suas vidas pessoais são cheias de sucesso, que bom! Será que poderia pedir que continuem a levar sucesso também ao nosso Verdão?

  7. É DE ARREPIAR a leitura deste relato, literalmente.
    Parabéns Criscio e todos os envolvidos, e MUITO OBRIGADO! Apesar de toda força contrária, vocês conseguiram.

  8. Criscio, boa tarde, a questão não é só ter pessoas qualificadas para tocar um negócio, mas sim pessoas embuidas de uma causa maior, que no nosso caso é o PALMEIRAS, sem o seu coração e o de outros como o seu não estaríamos vivendo esta nova e gloriosa era. Agradeço do fundo do coração, que neste caso é verde.

  9. Pinho – Bauru, SP

    Show! Excelente relato Criscio!
    Serei eternamente grato a você e a todos os demais envolvidos nesse projeto.

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