Vô João e as bananas

Por Jota Christianini; colaborou Erika Gimenez

Eu pouco conheci meu avô. Ele morreu na véspera do Natal quando eu tinha apenas sete anos. Deixou para mim, como herança, um brinquedo e uma atitude. O brinquedo era uma pequena mesa de bilhar, feita por ele, marceneiro, pintada de azul – as bolas eram as de gude. Lembro vagamente que não gostei da cor e reclamei. Carrego até hoje o arrependimento por não ter pedido desculpas pela minha indelicadeza.  

Quanto à atitude que herdei dele, dá um causo que passo a contar.

Meu avô era dono do bar do Parque Antarctica. Chamar de bar aquele cercado de caixotes com garrafas e as duas barricas cheias de gelo – uma para gelar a cerveja e outra para os três refrigerantes da Antarctica (Sissi, Gasosa e Guaraná) – é forçar um pouco a palavra, mas era o que tinham na época. O torcedor comprava ali a bebida e podia beber nas arquibancadas durante o jogo. Depois da partida, meu pai e meus tios iam recolher os cascos. Assim funcionava o negócio do Vô João.

No jogo das barriquinhas, em 1938 – o dérbi organizado para salvar o SPFC de mais uma falência – os dirigentes do clube insolvente procuram meu avô e pedem para ele doar o lucro daquela tarde.

Após ouvir o pedido de ajutório dos dirigentes do SPFC, Vô João respondeu de forma categórica: com os braços e energicamente, deu-lhes uma solene “banana”.

Nesse instante, e com esse gesto, antecipou a minha herança.

Meu pai foi quem me contou essa história repetidas vezes, perpetuando meu avô em mim, nos unindo pelo laço verde e branco.

Por isso, sempre digo e repito que ….

A CADA GOL DO PALESTRA AINDA OUÇO O GRITO DELE!

Feliz dia dos pais!

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Comments (6)

  1. Rosendo Brígido Júnior

    Excelente história, grande Jota!

    • Beber na arquibancada e depois recolher os cascos. Impensável nos dias de hoje, dominado pelo fanatismo cego e pela falta de educação. Quem sabe um dia…

  2. Que belo causo! Banana para os Bambis

  3. Meu pai não gostava de futebol. E pior do que tudo, ainda me proibia de ir aos estádios pois achava que era “perigoso”. Então, ainda adolescente eu precisava inventar uma desculpa qualquer para ir aos estádios torcer pelo nosso Palmeiras.

    Quando tive filhos fiz questão de passar essa minha paixão para os meus filhos. E eu sempre repito para eles a frase imortal do Jota “A cada gol do Palestra ainda ouço o grito dele” e digo que gostaria de ser lembrado (entre outras coisas) assim. E eles me dizem que “será impossível não lembrar de você a cada gol”.

    Escutando isso eu tenho aquela sensação de “missão cumprida”.

    Feliz dia dos Pais

    • Edison Rossini

      Aêee…Jóttaaa!!!
      Grande & Bella História !!!
      E Dá-lhe Dá-lhe VÔ JOÃO!!!
      #AvanttiPallestraaaaaaaa!!!

  4. FABIANO RIVA GEMIGNANI

    Ser Palmeiras é mais do que simplesmente uma decisão, é algo que so pode ser explicado quando nossa existência assim o for.

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