Abel versus o corporativismo da arbitragem

Por Oiti Cipriani; colaborou Vicente Criscio

Quem viu o podcast de Thiago Leifert, comentando sobre a expulsão de Abel Ferreira na última partida, assistiu o depoimento do repórter André Hernan, ex Rede Globo, sobre o que um árbitro FIFA tinha dito ao bom repórter, sobre os árbitros entrarem prevenidos contra o técnico do Palmeiras.

Quem não viu, veja abaixo ou clique aqui.

Hernan falou o que todos já haviam percebido: existe sim muita má vontade de alguns árbitros com o técnico português. 

Esta má vontade foi criada, grande parte, pela própria mídia esportiva, que não aceita um profissional que “bata de frente” com eles, pois alguns se consideram os Deuses do Olimpo e jamais, em hipótese alguma podem ser contestados ou confrontados. 

Triste realidade

Pelo tempo que milito no meio de arbitragem, esta informação não foi nenhuma surpresa para mim. Existe sim corporativismo, prevenção, perseguição de árbitros com técnicos e jogadores.

Vou contar um caso que participei. Não vou citar os nomes porque são conhecidos, apesar de ex-árbitros e ex-treinador. Quando era professor do Safesp – Sindicato dos Árbitros do Estado de São Paulo – eu estava com outros dois árbitros, em uma resenha qualquer e chegou outro árbitro. 

Ele ia para um jogo de time grande, em um estádio famoso do estado de São Paulo. O comentário de um dos árbitros da época foi: toma cuidado com técnico XIS que está muito folgado, reclamando de tudo, jogando a torcida contra a arbitragem, etc. 

O árbitro foi para o jogo e na primeira intervenção do técnico – vamos apelidar apenas de Felino – o excluiu da partida (na época não havia cartão ou expulsão de Comissão Técnica).

O comentário do trio que estava na resenha influenciou o árbitro a excluir o referido Felino?

Me parece que sim, claramente!

Abel versus árbitros! 

Abel tem hora que extrapola em suas atitudes? A resposta é sim, extrapola!

Mas em algumas de suas expulsões ele tem total razão em suas reclamações. Vamos citar somente dois exemplos:

1. Final da Supercopa; Palmeiras vencendo o jogo com o Flamengo por 4×3, faltando alguns segundos dos acréscimos, atacante do Verdão chuta uma bola em gol, que visivelmente toca em um defensor e vai a linha de fundo. A decisão normal seria escanteio, correto?

Não… nem o árbitro e nem o Assistente 1 (ambos FIFA) viram o claro desvio, e assinalam tiro de meta. 

Se o árbitro agisse corretamente, o tiro de canto seria cobrado e a bola seguiria naquele pequeno espaço. O tempo se escoaria e terminaria o jogo com o time campeão. Com a cobrança do tiro de meta, o Flamengo teve a possibilidade de mais um ataque, que poderia ter ocasionado o gol de empate e a decisão iria para os tiros penais. 

Abel inconformado, chutou o microfone, pertencente à Toda Poderosa, que capta o som ambiente. 

Pronto! Abel virou uma mistura de Hitler com Stalin e pitadas de Mussolini, nos comentários da impoluta mídia esportiva. Todavia, esqueceram que poucos dias antes, Victor Pereira, dirigindo o time do Corinthians, fez a mesma coisa e passou incólume junto aos arautos da moral e dos bons costumes.

2. Jogo Atlético MG x Palmeiras, 16ª rodada do Brasileiro de 2021, o árbitro Bruno Arleu de Araujo, injustamente, expulsou o atleta Patrick de Paula do Palmeiras. E na sequência expulsou o técnico Abel Ferreira. Até aí, aparentemente, mesmo sendo injusta a expulsão do jogador, o técnico reclamou fortemente da punição. 

Mas o que o solerte árbitro escreveu na súmula? Transcrevemos abaixo:

“TC Abel Fernando Moreira Ferreira – Palmeiras/SP

Cartão Vermelho Direto

Motivo: V2.8. Outro motivo (detalhar no campo expulsões) – Por ter, após a expulsão do atleta da sua equipe, protestado reiteradamente e acintosamente, com gestos e palavras (que não foram possíveis identificar o que foi falado), contra a decisão da arbitragem.” 

Efetivamente, como conhecemos o temperamento do técnico, deve ter reclamado muito da expulsão. Mas o cerne da questão é: o árbitro não ter identificou o que foi falado.

Ora, se o árbitro na súmula confessa que não identificou o que foi dito, qual o motivo concreto da expulsão?

Vemos na TV técnicos ofendendo assistentes, quartos árbitros, árbitros, e não vemos tanta repercussão quanto a dada a qualquer ação de Abel Ferreira.

O que fazer?

Este não é apenas um problema para Abel e o Palmeiras resolverem. É também um problema para a Comissão de Arbitragem tratar e minimizar.

À Comissão, minha opinião, cabe evitar problemas nas partidas e jogar água fria na fervura em qualquer situação. Mas, ao contrário, no caso de Abel, essa Comissão escala para as partidas do Palmeiras desafetos antigos como Bruno Boschila, o clã Sampaio, Arleus da vida, e árbitros que amiúde tem problemas com o técnico. 

árbitros e ÁRBITROS!

Já fiz essa pergunta em outras análises na coluna Osservatorio Arbitrale aqui no 3VV, mas cabe repetir: por que Raphael Claus, Anderson Daronco e Luiz Flávio tem baixo índice de cartões com Abel? E por que o “clã Sampaio” sempre resulta em muitos cartões contra o nosso treinador português?

A título informativo, Raphael Claus apitou quase 20 jogos do Palmeiras na era Abel, e mostrou apenas um cartão amarelo para o treinador. E nem foi por reclamação! Foi porque A. Ferreira se indispôs com o atleta Lizziero, na época pertencente ao São Paulo FC.

Daronco também apitou uma dezena de jogos com o Abel no banco e não mostrou sequer um cartao a ele. 

Abel com ÁRBITROS, assim, maiúsculo, é um Abel. E com outros árbitros, minúsculos, recebe muitos cartões.

Suas reclamações na linha do campo tem procedência? Ou será que Claus e Daronco estão errados e muito suaves com o treinador?

Qual sua opinião meu querido leitor?