Este estranho paradoxo
Amigos AlviVerdes, sem querer falar de clássicos e coisas do gênero, hoje o papo é sobre outra coisa. Um aparente paradoxo que eu – confesso – não consigo ter uma resposta.
O paradoxo é: se o nível do futebol está tão ruim, como a diferença entre os times grandes e pequenos aumentou?
A minha tese é a seguinte.
Não existe uma grande quantidade de bons jogadores nos times grandes. Então, os jogadores dos times pequenos – que geralmente eram formados por jogadores apenas medianos – tenderiam a ter uma qualidade não muito distante dos jogadores dos times grandes.
Mas o que se vê é justamente o contrário! Parece haver um verdadeiro abismo de qualidade entre os jogadores dos times grandes e pequenos
Conversando com alguns amigos levantei várias hipóteses:
Preparação física: os avanços na preparação física, no entendimento da fisiologia humana, na melhoria de treinamento, etc., fazem com que os clubes grandes tenham uma grande vantagem no rendimento físico do jogador.
Corrupção: o meio do futebol se tornou tão corrupto que os jogadores que desde a base são escalados são aqueles que de alguma maneira “pagaram” aos técnicos. Então, os jogadores que chegam hoje ao futebol não são os melhores, mas aqueles que pagaram para jogar.
Padrão equivocado: há tempos, desde 1982, buscou-se o padrão-força ao invés do padrão-técnica na formação dos jogadores. Depois de tanto tempo buscando jogadores fortes, finalmente acabamos com a habilidade nesta geração. Então, os jogadores que estão por aí hoje, são realmente ruins!
Nenhuma dessas hipóteses me convenceu.
Alguém aí tem alguma explicação que seja razoável?
Saudações AlviVerdes
* Luís Fernando Tredinnick escreve às sextas-feiras no 3VV explicando a quem conhece, e a quem não conhece, os números do futebol
Comments (9)
Alex
Moro em Londrina e conheço vários jogadores que chegaram ao profissional e outros que não conseguiram chegar lá, por diversos motivos, sendo que quase todos passaram pelo futebol de salão, hoje futsal, antes de irem para o futebol.
Um deles jogou no profissional do Londrina, aí o presidente na época pegou o passe dele e ele, que estava cotado para ir ao profissional do Palmeiras na época, foi parar o juniores do Juventus da Mooca, onde foi sacaneado até decidir parar de jogar futebol, desiludido com o meio.
Ano passado, o membro dos juniores do Londrina recebeu uma ligação de um colega de profissão de um grande time de São Paulo, pedindo um lateral direito para o time. O preparador daqui disse que não tinha nenhum bom jogador da posição para indicar, quando recebeu a seguinte resposta: “não precisa ser bom, basta ser alto e ter bom preparo físico”.
Então, chegamos ao ponto de sermos fornecedor de matéria prima. Hoje jogador de 1,60 não tem mais vez aqui no Brasil, não importa seu talento. Ele pode ser melhor do que o de 1,80, mas será preterido. Diferente de um amigo meu que há 17 anos foi dispensado dos juniores do Flamengo porque, sendo goleiro, era tão bom quanto seu colega, mas 15cm mais baixo. Dois de nível técnico igual, preferiu-se o mais alto. Hoje não, a qualidade técnica não é mais requisito.
Tudo porque quem investe na categoria de base quer lucro, na pior das hipóteses não ficar no vermelho.
mário luiz
Eu resumo o atual momento do nosso futebol pelo binômio incompetência&corrupção. INCOMPETÊNCIA: não fomos e anda não somos capazes de fazer como os europeus (em particular os alemães) que aprenderam com seus erros e os corrigiram, daí o termo evolução (coisa que não temos); CORRUPÇÃO: não adianta ser bom, ter talento ou mesmo potencial porque se você não fizer parte do esquema do futebol profissional (diga-se panelinha) você não terá qualquer chance de vencer como jogador profissional.
Elcio
Colega, todas as suas alternativas estão corretas. Só discordo do pagaram entre aspas, porque efetivamente é isso que se faz para poder jogar. Ou o pai ou o empresário tem que pagar, senão não joga.
Mauro Correia
Bom novamente essa semana o mais brasileiros dos times europeus levou de 7 do Bayer. Outra vez 7 x0. Eu acho que o problema maior está na categoria de base. Observe como tem jogador mimado, briga com o técnico, chora e pede para sair. Nāo tem compromisso com clube com técnico com nada. Ainda vivem na velha ladainha propagada pela imprensa que futebol se aprende na favela, na malandragem, em ludibriar as regras do jogo. Me diga de qual favela vieram a seleção da Alemanha? E deixo claro que nada tenho contra esses jogadores de origem mais humilde. Mas è o perfil do jogador brasileiro, ganhar a qualquer custo a qualquer preço, è cavar pênalti, ao invés de tentar a jogada, è simular agressão ao invés de competir. Não se trabalha mais fundamentos.O resultado esta aì. Os grandes camisas 10 do Brasil são estrangeiros. Alèm disso futebol hj è um jogo de inteligência, sò malandragem nāo resolve mais. Respondendo Luís, o nosso futebol è reflexo na nossa sociedade e da cultura da malandragem que se instalou no Brasil em todas as direções.
DIOGO SAPIA
Pra mim, a questão da preparação física é um tanto preponderante, há uma diferença absurda, ganhamos a série B, por exemplo, muito no preparo físico, os times até davam um “calor” no primeiro tempo, mas morriam no segundo…. vasco ano passado voltou à séria A muito por isso também, porque tecnicamente o time era fraquinho fraquinho… Outro ponto importante é que clubes grandes, bem ou mal, tem como se planejar para 1, 2, 3 anos porque tem cotas de TV e outros patrocínios contratados para períodos maiores, por exemplo, ou seja, eles tem como firmar vínculo com jogadores por mais de um ano e assim de alguma forma manter uma base, os clubes menores não, tem que a todo ano montar um time novo com vínculos até o fim de determinado campeonato, aí se pra um time grande já é difícil fazer um time repleto de bons jogadores jogar como um time de bom nível, imaginem como não deve ser muito mais difícil para um time pequeno, que, além de tudo, muitas vezes não tem estrutura adequada e torcida em massa. A respeito dessa questão das cotas de TV a espn fez uma matéria sobre as reinvidicações dos clubes catarinenses que disputam a série A mostrando a disparidade em relação aos queridinhos da rgt segue um dos parágrafos: “Cada um dos catarinenses, por sua vez, embolsa R$ 18 milhões – com descontos dos impostos, em torno de R$ 16,2 milhões. Não fica nisso: com contratos de apenas um ano, oferecidos geralmente aos recém-promovidos, inviabilizando, assim, um planejamento de longo prazo no contrato com os atletas.” Sendo assim, acho que, bem ou mal, essa questão de poder se planejar tem uma relevância fundamental nessa disparidade ainda mais acentuada atualmente.
Marcelo
O futebol hoje é 100% business, dinheiro… só isso. As diferenças que costumavam ser grandes (até os anos 80) se transformaram em abissais… e você pode extrapolar essa diferença para o globo todo, nos anos 80 e 90 era impensável um time grande brasileiro perder jogador para Ucrânia, China, Coréia, Japão, “Mundo Árabe”, México, no máximo iriam para esses mercados jogadores em fim de carreira, nosso problema era apenas os times europeus, esses sim sempre tiveram maior poder aquisitivo. Hoje perdemos jogadores até para Índia, Vietnã, Tailândia… os maiores destaques do Brasileirão 2014 estão na China! E são todos jovens, com a carreira toda pela frente ainda!!! Jogadores de seleção… Nesse cenário imagina como estão os times pequenos, do interior de nosso país? Se o interior paulista (mais rico) já não consegue manter times tradicionais, com história, em mercados mais pobres isso se torna impossível. É tudo uma questão de dinheiro.
Thiago Baise
Minha hipótese é simples. Qual a folha salarial dos times grandes? Se antes existia diferença, hoje existe muito mais entre time grande e pequeno. Outro aspecto é que os grandes estão mais atentos na formação do elenco. Bambis, Santos e Gambas tem elencos montados a anos. Conseguiram manter uma estrutura de time bem organizada, o que desponto a diferença. Nós, estamos começando um novo caminho que levará, mantendo e qualificando elenco a um novo patamar no futebol.
Gustavo Aroni
Muito simples, nos times grandes o nível é ruim, e nos times pequenos o nível é horroroso. E no meio desses dois grupos ficam os times de nível sofrível, que são os times grandes com planejamento de time pequeno (pra mim, HOJE, o Palmeiras entra nesse grupo) e times pequenos com mentalidade de time grande, mas sem torcida e pouca grana (exemplo o Chapecoense). Os Gambás (nos últimos anos) e o dois de Minas Gerais (até o ano passado) tem (tinham) um nível mediano, mas superior ao resto, pois eles fazem (faziam) simplesmente o que os outros clubes não fazem. Quando um jogador sai, vem outro de nível igual ou melhor, apenas isso. Não contratam, simplesmente, por contratar. Há uma preocupação em não se perder a qualidade, de manter o círculo virtuoso, diferente dos outros, como o Palmeiras.
Eduardo Augusto Corrêa
Basicamente é isso, Gustavo. Hoje é impossível imaginar que o SCCP fique novamente 23 anos sem ganhar qualquer título de expressão, mas com a estrutura e a mentalidade adotadas há tempos no Palmeiras, os 17 anos de fila se repetem talvez não em medidas de tempo mas na intensidade dos vexames e fracassos. A Era Parmalat deveria ter colocado um fim nisso, assim como as gerações Robinho/Diego e Neymar/Ganso deveriam garantir a saúde financeira do Santos e as negociações com valores absurdamente altos (vide vendas do Lucas ao PSG e de Casemiro ao Real) a do SPFC, mas em todos os casos os interesses pessoais dos envolvidos falaram mais alto.