O Curioso Caso do Atlético MG III: estádio e dívida

Por L. F. Trednnick

Líderes Palmeirenses, falamos já duas vezes sobre o Atlético-MG e de como o clube está com uma dívida de mais de R$ 1,4 bilhão, com o futebol custando mais do que a receita bruta do clube, etc, etc. 

Eis que esta semana a globo.com tem uma reportagem sobre o estádio atleticano e de qual é o planejamento para pagar a dívida que foi feita para a construção.  Quem já trabalhou com planejamento, orçamento, etc, provavelmente cansou de ouvir que “o papel aceita qualquer coisa”. Bem, vamos discutir se esse é o caso.

Leia aqui os dois artigos anteriores de L. F. Tredinnick sobre O Curioso Caso do Atlético MG, e o artigo no ge.com

Em primeiro lugar, observem na imagem abaixo, a composição da receita do Atlético-MG.  Observem que a receita de bilheteria foi de quase R$ 43 milhões e a do sócio torcedor (Galo na veia) foi de quase R$ 13 milhões.  Estamos então falando que sem o estádio próprio esses itens representaram quase R$ 56 milhões de receita. Guardem esse número.

Eis que na reportagem do ge.com eles apresentam um slide com a previsão das receitas do estádio. 

fonte: ge.com

Antes mesmo de analisarmos os números de receita, vejam que eles contam com receita de bilheteria e de sócio torcedor…. isso mesmo, aquelas receitas que já existiam!!!  Então, podemos dizer que da receita de R$ 232 milhões em 2030, ao menos 56 milhões não são “receitas novas”, trazidas pela existência do estádio….  basicamente 24% da receita que foi considerada como “do estádio” já existia.

Interessante, não?

Vamos detalhar um pouco o que temos ali:

Bilheteria: 

Na reportagem eles dizem que a premissa é de um ticket médio de R$ 62 e uma ocupação mínima de 75% a partir de 2024.  Não sei vocês, mas esse não parece ser um número muito fácil de se atingir.

Sócio Torcedor: 

Eu fui ver a página do Atlético-MG sobre o programa de sócio torcedor e – pasmem – na página há a informação que eles são mais de 122 mil.  Se você está espantando, fique sabendo que não é o único.

Anúncio do Programa Galo na Veia

Existem várias categorias de sócio, com preços mensais que variam de R$ 10 até US$ 25 – isso mesmo, dólares americanos.  Se a gente arbitra um valor médio de R$ 30 mensais, isso seria o equivalente a quase R$ 44 milhões anuais.  Importante notar que o estádio, após descontar as cadeiras cativas e camarotes, tem apenas 33 mil cadeiras à venda.  Faz sentido ser sócio torcedor se há 4 sócios para cada cadeira disponível?  Não sei, o tempo irá dizer…

Observem agora que essa receita de sócio torcedor em 2030 chega a 88 milhões. O que irão fazer? Chegar a 240 mil sócios? Ou continuarão com 122 mil sócios que pagarão todos os meses cerca de R$ 60?  

Parece agressivo, não?

Outros:

A matéria cita “Outros” receitas com eventos, alimentos e bebidas, estacionamento, patrocínios, lounges, taxas de manutenção, eventos corporativos e locação.  Aqui confesso que não conheço Belo Horizonte bem o bastante, apesar de ter vivido quase seis meses lá, para saber se é fácil ou não se obter essas receitas.

Cadeiras e Camarotes:

Aqui primeiro uma nota: provavelmente o estagiário que fez o slide, não sabe que a expressão “a vender” não recebe crase e, provavelmente, ninguém que revisou o slide percebeu também…. afinal, estamos falando de números e não da norma culta da língua portuguesa.    Fazendo as contas de trás para frente, deduzimos que a cadeira cativa custa 2.480 por ano e o camarote 71.560, números que me parecem bem razoáveis – só não sei dizer se é razoável pensar que 100% serão vendidas todos os anos. É o resultado do estádio?

Lá na reportagem há uma previsão:

O que eu posso dizer?  Bem se as receitas não parecem fáceis de se atingir e se na avaliação constam R$ 56 milhões de receita que já existiam, parece que o resultado também não deve ser muito fácil de se atingir.

Conclusão:

Tudo na vida é óbvio. Muito óbvio, na verdade. O problema é que tudo se torna óbvio apenas DEPOIS que acontece.  Então, se essas previsões acima se concretizarem, quem fez a avaliação irá dizer que “era óbvio que iria dar certo”. 

Entretanto, se essas previsões não se concretizarem, muitos irão dizer “era óbvio que iria dar errado”, porque, como todos nós sabemos, o papel aceita qualquer coisa.

Saudações AlviVerdes!

Comments (4)

  1. FUTURA FALENCIA , LEMBRANDO QUE AS RECEITAS SÃO RESULTADO DE EXITOS EM CAMPO, FATO QUE POSSUI VARIAVEIS!

  2. Tem outro ponto não levado em consideração: aqui é Brasil, terra em que ser grande devedor não implica em nada. Temos vários exemplos de times que devem até as cuecas e estão aí, gastando o que não tem.

  3. Em finanças existe um provérbio: espere o melhor, prepare-se para o pior. Todos os desastres de gestão ocorreram quando este provérbio não foi levado a termo. Boa sorte em uma futura série B 🐔 mineira.

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