A Batalha dos Direitos
Excelente artigo do Professor Luiz Gonzaga Belluzzo, enviado pelo
palestrino Rodrigo Peres e publicado no magazine Terra –
http://terramagazine.terra.com.br/interna/0,,OI2737568-EI8212,00.html.
Valeu Rodrigão…
Apreciem… há inclusive uma menção à mídia palestrina. Saudações…
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Sexta, 11 de abril de 2008, 07h52
No Futebol, a Batalha dos Direitos
Luiz Gonzaga Belluzzo
De São Paulo (SP)
“Sou
homem e nada do que é humano me é estranho.” (Homo sum et nihil humani
a me alienum). A sabedoria dos soberbos trata a questão
humano-futebolística com desdém. Terêncio e o maior admirador de sua
frase não fariam cara feia diante da polêmica travada em torno do local
do segundo jogo da semifinal do Paulistão.
Avaliada sob
escrutínio dos critérios e valores da vida moderna – aqueles que
felizmente sobrevivem aos freqüentes soluços da barbárie – a
controvérsia político-esportiva foi, no mínimo, pedagógica em seu
significado. O desenvolvimento do conflito de opiniões, os
pronunciamentos das autoridades, as críticas da mídia permitiram
perceber que, entre o palestrinos, a questão crucial era a do
reconhecimento de seus direitos. O Palmeiras nada mais fez do que
assegurá-los. Ponto, parágrafo.
Fosse o gesto palmeirense
interpretado como uma “vitória” na “guerra dos bastidores”, alcançada
com o recurso da mobilização de autoridades, não valeria a pena. Nada
valeria, porque, então, a alma seria pequena. O uso secular do
“cachimbo oligárquico” deixou torta a boca da turma habituada a tramar
ardis nos subterrâneos da política para ganhar “fora do campo” e
massacrar o direito dos adversários. Remember 1942.
Rejeitamos a
“batalha dos pistolões”. Travamos uma guerra de argumentos, como cabe
aos humanos que aceitam as regras do debate civilizado e desimpedido,
sempre admitindo que os resultados possam contrariar nossos interesses
mais imediatos. A chamada “mídia palestrina” compreendeu que o direito
de disputar um dos jogos da semifinal no Palestra não garante a vitória
sobre o São Paulo. Apenas estabelece o princípio básico da disputa
esportiva moderna: a igualdade de condições entre os competidores.
Nos
sites e blogs palestrinos espalhados na Internet, em muitos deles,
percebo esse espírito de resistência, a recusa à submissão diante dos
poderes que não querem ser interpelados e muito menos contrariados. Não
importa se tais poderes estão abrigados no aparelho de Estado ou
submersos na maquinaria das grandes empresas de comunicação. As
prepotências da superioridade presumida e da espetacularização
midiática encontram, agora, resistência na obstinação dos blogs e sites
comprometidos com o esclarecimento de seu público torcedor.
Se o
assunto é futebol, certa dose de maniqueísmo é quase inevitável. Mas há
que conter os exageros. A maioria, no entanto, sem as pretensões dos
“eleitos do saber e da opinião”, ao falar do jogo da bola e de seu
clube protagoniza a luta pelo reconhecimento de sua condição de
indivíduo livre e sujeito de direitos.
Há quem diga que o
Brasil, ao promulgar a Constituição de 1988, entrou tardia e
timidamente no clube dos países que apostaram na ampliação dos direitos
e deveres da cidadania moderna. É uma avaliação equivocada. Submetidos
ao longo de mais de quatro séculos, à dialética do obscurecimento, aos
paradoxos grotescos que regem a vida política e as relações de poder
numa sociedade de senhoritos e seus asseclas, os brasileiros começam a
desenvolver a autoconsciência própria do indivíduo moderno.
Luiz
Gonzaga Belluzzo é professor titular aposentado da Unicamp, consultor
editorial da revista Carta Capital e vencedor do prêmio Juca Pato em
2005.