A experiência no New York Giants

Por Claudio Baptista Jr.

Amigos,

Hoje farei um parêntese na apresentação do documento da FIFA para comentar uma experiência que tive recentemente ao estar presente no Giants Stadium, casa do New York Giants, em um jogo entre o time da casa contra do St. Francisco 49rs.

A intenção deste post é pegar as funcionalidades e serviços oferecidos naquele estádio e compará-las ao que a FIFA exige e pede em seu documento.

Apesar do esporte não ser o nosso futebol, esse paralelo é bem compatível de ser feito, pois o que estaremos abordando é a qualidade, segurança e conforto disponíveis a um espectador em uma Arena de grande porte.

O estádio do Giants tem capacidade de público para 80.242 lugares.

Começamos falando sobre os ingressos.

Ingressos:

Ao programar minha viagem busquei na Internet a informação se teria jogo do NY Giants durante minha passagem por lá. Simples, no google a busca foi por “Giants Stadium” e diversos sites foram apresentados oferecendo tickets para os jogos. Quase todos possuíam os mesmos procedimentos (escolha do jogo – escolha do lugar – forma de pagamento – escolha da forma de envio – efetivação do pagamento), nada muito diferente do que temos hoje no nosso setor VISA, só que lá as possibilidades de pagamento não se restringiam a uma única bandeira de cartão de crédito. A única dificuldade desta operação foi o fato da compra ser realizada através de um cartão de fora dos EUA para a qual eu tive que enviar um fax assinado e autorizando o débito. Uma segurança adicional, tudo bem.

Vejam na figura abaixo um plano dos setores e respectivos lugares.

Os preços variavam de US$ 25,00 a US$ 1.000,00 e como não queria pegar o pior nem o melhor, escolhi um setor de US$130,00 (setor 128 em laranja). Também havia disponível a venda de vagas para estacionamento. Como ainda não sabia ao certo como eu faria para chegar lá e como brasileiro acostumado aos nossos estádios, pensei: “se não utilizar os serviços que devem existir de trem ou ônibus e for de carro, certamente vários estacionamentos estarão disponíveis em volta do estádio”. Mais abaixo eu digo se consegui ou não.

Percebemos que os ingressos são realmente caros e no meu ponto de vista alguns fatores contribuem para isso. Além do conforto de lugares sentados, numerados e segurança, a temporada de futebol americano é relativamente curta. São aproximadamente 20 jogos por equipe sendo somente a metade no seu próprio estádio o que contribui muito para a grande procura e vendas antecipadas..

Assim, já saí do Brasil com o ingresso na mão. O único inconveniente foi que o valor do mesmo quase dobrou em função das taxas de serviço e entrega.

Aqui cabe uma sugestão para nossa Arena. Não matem a vontade do torcedor distante em comparecer aos jogos em função de taxas de serviços e entregas. Procurem bons acordos neste sentido e não esqueçam de verificar, caso o estacionamento da Arena Palestra Itália comporte, a possibilidade de venda antecipada de vagas.

Acesso e Estacionamento:

O estádio do Giants fica fora de Manhattan, mais especificamente em New Jersey a aproximadamente 20 milhas (32 km) do centro da ilha.

Para se chegar lá existem serviços de trem que levam ao estádio, mas não achem que isso é uma “mão na roda”. Buscando-se pela internet as informações não são tão evidentes; na cidade existem informações na Penn Station, abaixo do Madison Square Garden, de onde sai o trem que leva ao estádio.

O problema aqui é que a estação de chegada mais próxima ao estádio fica um pouco distante do mesmo e para se chegar lá é prudente pegar um ônibus oferecido na estação. Alguém aqui lembrou da dificuldade similar que enfrentarão aqueles que forem ao Morumbi de metrô?

Ciente destas dificuldades, resolvi ir de carro já que o mesmo continha um GPS. Saí do local onde estava hospedado, na cidade de Princeton – New Jersey, e cheguei nas proximidades do estádio. Aí apareceu o primeiro problema: como não adquiri uma vaga com antecedência, não pude entrar nos bolsões de estacionamento presentes no entorno do estádio. Como ele estava localizado em torno de avenidas largas e expressas só consegui um local para estacionar em uma fábrica onde alguns americanos faziam seu “barbecue”. Parado o carro e 20 minutos depois de uma caminhada cheguei ao estádio em cima da hora.

Vejam nos vídeos 1 e 2 a seguir:

VÍDEO 1

VÍDEO 2

Como o estádio é 100% numerado, após a tradicional vistoria entrei relativamente rápido.

Vejam nos vídeos 3 e 4 uma imagem do ingresso mostrando o setor e anel onde eu deveria entrar bem como as escadas rolantes facilitando e agilizando o acesso aos níveis superiores.

VÍDEO 3

VÍDEO 4

Dentro do estádio, muito movimento e a cada setor uma pessoa orientava a localidade dos acentos para aqueles mais indecisos. Alí também existiam os stands de serviços de comida e bebida, nada muito sofisticado talvez em função da classe do meu ingresso, porém práticos para visualização e escolha do produto. Ah, lá não se vende cerveja para menores e TODOS são obrigados a apresentar documento de identidade.

Vejam no vídeo 5 e 6 essa área de serviços.

VÍDEO 5

VÍDEO 6

Os banheiros eram próprios e respeitados.

O estádio já se encontrava praticamente lotado e meu lugar estava lá me esperando. A qualidade das cadeiras era boa, de material difícil de se quebrar, lembrando a solicitação da FIFA para que as mesmas sejam de material não quebrável e não inflamável. O espaço entre as fileiras era estreito e cada pessoa que se deslocava obrigava aos demais a se levantarem. Felizmente o acento das cadeiras era dobrável, o que facilitava esse movimento, porém sabemos que a FIFA também pede que o espaço entre as fileiras seja suficiente para as pernas e para a circulação das pessoas. Retomo na figura abaixo este espaçamento solicitado pela FIFA.

Abaixo o VÍDEO 7 demonstra o lugar.

x = (a.b) / (c – 12) onde x é a distância do espectador ao limite do campo.

O estádio não é coberto, apenas alguns setores de anel intermediário, o que é um agravante para o quesito conforto. Reparem no mesmo vídeo 7 esse detalhe.

Entretenimento.

O futebol americano é um esporte de muitas paradas, o que facilita o entretenimento no estádio e os comerciais de TV, além da circulação das pessoas para irem a banheiros e pontos de serviço. Graças a essas paradas a irritação de ter que se levantar para a passagem de uma pessoa era minimizada.

Os replays das jogadas são passados diversas vezes nos telões e o jogo é mostrado ao vivo nos mesmos. Estes replays representam uma “faca de dois gumes”, pois ao mesmo tempo em que auxilia a arbitragem, que por sinal justifica suas decisões por um microfone a todo o estádio, também gera muitas manifestações contrárias do público. Sabemos que a FIFA é contrária ao replay de jogadas duvidosas, mas essa solução adotada pelo futebol americano é no mínimo interessante. Os técnicos das equipes têm direito a contestar a arbitragem por um número limitado de vezes pedindo o “desafio” da imagem, o que também é algo a se pensar para o futebol (hoje em partidas de tênis de Master Series e Grand Slam o jogador já pode “desafiar” a decisão do árbitro com o auxílio do telão).

Alguém pode dizer: “Ah, mas nem todos os campeonatos de futebol têm condições de se fazer isso. Tudo bem, autoriza-se nos que têm essa condição (ex: 1ª divisões nacionais e campeonatos internacionais de seleções e clubes).”

Existe uma câmera bem legal presa por cabos de aço que pode se movimentar acima do campo, lateralmente e de cima para baixo possibilitando outra visão do jogo como também um detalhamento das jogadas. Essa seria uma funcionalidade bem legal a ser adotada na Arena Palestra Itália. Vejam na imagem abaixo e percebam que nem ela e nem os cabos que a sustentam atrapalham a visão dos espectadores.

Justamente em função do grande número de paradas da partida, os americanos usam muito a música para entreter, algo agradável, mas quando feito em exagero pode não agradar a todos, principalmente se ocorrer em todas as paradas e sendo interrompida somente no décimo de segundo anterior ao início da nova jogada. Vai do gosto de cada um.

Saída do estádio.

Esta se dá com relativa facilidade pelo fato do mesmo possuir várias entradas / saídas e por estarem  próximas a grandes avenidas. Óbvio, alguma demora é observada na saída dos estacionamentos, porém, isso é inerente em função de um contingente tão grande de pessoas saindo ao mesmo tempo.

Por fim, busquei fazer um paralelo resumido e bem geral a respeito de um estádio americano e algumas determinações da FIFA para estádios modernos.

Minhas conclusões? Fosse eu um inspetor da FIFA, mesmo considerando que os níveis de conforto, serviços e segurança são muito maiores aos que presenciamos nos estádios brasileiros atuais, teria muitas restrições a aprová-lo como um estádio para receber jogos de Copa do Mundo.

Resumidamente observei:

  • Acesso distante do centro da cidade, o que não é bom para um evento com grande participação de turistas.
  • Falta de estação de trem / metrô próxima ao estádio.
  • Falta de cobertura para o público como um fator agravante para o conforto.
  • Distância entre fileiras de cadeiras dificultando a circulação e um risco adicional em situações de emergência.

Engraçado, tem um estádio aqui em São Paulo que pleiteia a abertura da Copa do Mundo de 2014 com todas estas restrições e mais algumas como a falta de estacionamento.

Espero que vocês tenham gostado.

Abraço,
Claudio Baptista Jr.


Comments (8)

  1. Show de bola Claudio! Ficou muito bom o seu post! As vezes as pessoas pensam que só pelo estádio estar na Europa e nos EUA não existem problemas, mas o seus ultimos posts estão mostrando que isso não é verdade.
    abs

  2. Marco Aurélio Bianchini

    Muito boa a comparação Claudio! Espero que com a Arena nós possamos “sentir um pouquinho do que é viver em um país de 1º mundo”. É o Palmeiras sendo pioneiro mais uma vez, como sempre fomos!
    Abraço!

  3. Execelente Claudio! Eu gosto de ler essas matérias sobre os estádios e documentos da FIFA para a Arena pois dá alguma perspectiva de como seria aqui no Brasil e aumentam minhas esperanças para com a Arena Palestra. O sonho segue firme e com todas as melhorias e boas idéias implantadas nele. Valeu Claudio!

  4. Parabéns pelo post Claudio. Muito legal mesmo esta comparação, dá para ver que ainda estamos muito além das expectativas, mas com muita esperança na Arena Palestra, pois teremos um estádio de primeira.Infelizmente falta a organização de uma liga profissional como é a NFL,NBA, ou a MLB que não tem comparação com o amadorismo de nossos dirigentes. Mas nosso verdão está mudando rapidamente e isto é que mais importa para nós, não é mesmo??
    Abraços !!

  5. João Gomes Yzquierdo Neto

    Até os meus 20 anos frequentava mais o nosso estádio, hoje com 33 anos, casado, 3 filhos, todos no caminho da palestrinidade, é bom que se diga, não me encorajo a ir, principalmente pela falta de segurança e do conforto. Por isso aguardo ansiosamente nossa arena para voltar a frequentar o Palestra Itália. Até lá, abraços e parabéns pela coluna.

  6. Claudio Baptista Jr.

    Opa! O placar.
    Muito bem lembrado, Marco.

  7. Marco Aurélio Novelini

    O Placar?…… 49ers 17 x 29 Giants…… Entre outras coisas podemos destacar a PAZ nos estádios devido a ausência das torcidas organizadas e ser um entretenimento focado à família americana.

  8. Claudio Baptista Jr.

    Pessoal,
    Alguns detalhes que acabei não colocando no texto principal.
    – Stands de Vendas (bebida/comida/souvenirs): aceitavam-se diversas formas de pagamento, facilitando a compra e respeitando a solicitação da FIFA neste sentido.
    – Compra de Ingressos pela Internet: uma proposta para nossa Arena seria a inclusão de fotos com a perspectiva de visão dos torcedores em conjunto ao plano de lugares do estádio. Ex: ao clicar em um setor para comprar o ingresso, abre-se uma foto com a vista que o torcedor terá naquele setor.
    Se lembrar de mais alguns detalhes eu complemento por aqui.
    Abraço.

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