A Glória Eterna em terras inimigas

Por Cassiano Amatuzzi

Temos palmeirenses espalhados em todo o Brasil. Eu sou um desses casos. Palmeirense, sorocabano e desde 2000 morando no Rio de Janeiro.

E nesse tempo que estou aqui aprendi um pouco (e já ri demais) desse oba oba rubro negro. Vi algumas vezes isso acontecer e a ducha de agua fria ser glacial como um banho na Groelândia. Lembro-me bem da final da copa BR contra o Santo André em 2004, do show de Cabanãs em 2008 e a ultima dessas brochadas mais emblemáticas (até ontem): a final contra o Indepiendente na Sula em 2017. Todas elas com festas armadas e vitórias cravadas antes da horas.

Estamos em 2021, e a soberba e o oba oba é padrão. Eles não aprendem nunca! “Seremos campeões de tudo”; “a vitória é certa”; “só precisa saber de quanto”; e outras groselhas a serem ditas aos quatro cantos. Nem a queda na Copa do Brasil, fez com que eles tivessem alguma humildade. No trabalho o que eu mais ouvi foi “ainda bem que o Palmeiras tirou o Atlético, porque ficou barbada ser campeão”; “o Palmeiras é fraco, vamos atropelar”; “já fiz minha aposta, vou ganhar uma grana mole”.

E eu segui calado, só dizendo “respeita a camisa verde com o “P” no peito, somos o mais copeiro de todos”.

Os dias demoravam a passar, o dia 27/11 parecia estar muito longe, eu conversava com palmeirenses nos grupos e muitos estavam preocupados, falando em 70/30 de chances pra eles, e eu sempre dizia que seria 50/50. E minha confiança vinha na frieza do time, pois aprendemos jogar essa competição. Hoje nosso time é letal na copa, nossa campanha nesses dois últimos anos é a melhor de todos os tempos, invictos jogando fora (e seguimos, pois, a taça veio no Uruguai).

E eis que chegou a semana derradeira, as conversinhas aumentaram, a ansiedade também, senti aquele frio na barriga como na semana que antecedeu um certo sábado (também) com data de 12/06/1993.

Ouvi muito essa semana.

Onde olhava via camisas do Flamengo, me sentindo um estranho no ninho, usei minha camisa alviverde em um dia da semana e ouvi muito de torcedores dos outros times cariocas, “vocês têm de acabar com eles, por favor”.

Não sou supersticioso, mas como no dia 29/01, dormi com meu calção do Palmeiras, acordei e fui trabalhar com ele por baixo da roupa, com a mesma camisa do Ramones que sai de casa dia 30/01; pela manhã quando entrei no metro, meu Deus, onde eu olhava eram camisas rubro-negras, e foi assim pelo meu caminho.

Nssas situações sempre buscamos sinais, e eles surgem! Na última esquina, entes de chegar no trabalho, um senhor com uma camisa branca do Palmeiras. Dei bom dia a ele e disse: “Seremos!”. Ele retornou o bom dia e deu uma piscada. A hora não passou de jeito nenhum, os urubus do trabalho foram até a minha sala só para confirmar a soberba, falar que o churrasco já estava no fogo, e etc.

Quando o turno finalizou, ao sair o ultimo deles que eu vi me disse

– Mais tarde só vou comemorar.

E eu respondi: – Comemora agora, porque mais tarde você só vai chorar. E sai sem dar mais assunto.

No caminho até o metro, a cereja no bolo da soberba: ambulantes vendendo faixas do “tri” e vários emocionados já com as faixas no peito. Ali eu vi mais um sinal, que seria nosso dia, que dessa vez eu iria rir de uma brochada deles com o meu time sendo o ator principal. Peguei o metro, milhares de camisas, liguei o som alto nos fones para ficar hipnotizado e seguir sem aborrecimento. Saindo do metro, quando desço a passarela e olho para o céu, mais um sinal: uma nuvem cinza, carregada entre o céu azul, era a chuva verde que cairia na mente dos soberbos.

Chegando em casa, passei pelo botafoguense da barraca do Açaí. O pai dele me mostrou a bermuda verde e disse “é hoje paulista”, acenei para ambos e segui, entrei em casa, almocei, tomei um banho, coloquei o calção do verdão de novo, falei com minha patroa e minha filha, e sentei no sofá para esperar o jogo.

Eis que cochilo e acordo com o jogo aos 8 minutos da primeira etapa, 1×0 Palmeiras, algo como achar R$100,00 no bolso daquela bermuda esquecida no guarda roupa!

O jogo seguiu, fui fazendo festa com minha pequena, o empate veio, mas eu estava confiante, os sinais me mostraram como seria o desfecho, eis que o jogo vai para prorrogação, e na lateral do campo, Deyverson, lembrei na hora da comemoração dele com a torcida no ultimo jogo, sabia que ele estava com a nossa energia, a energia de todos os palmeirenses espalhados pelo Brasil e pelo mundo, e ele, na loucura dele, foi pra cima da defesa dos caras.

O rapaz meio belga que chegou cheio de pompa chutou o chão e o resto é história!

Deyvin parou dentro da rede e foi pra galera, emocionado como todos palmeirenses, minha filha gritava como eu, na janela zoando os urubus, pulando, me abraçando.

Ao final do jogo foi só festa!

Saímos na rua gritando, torcedores de outros times também, os urubus entocados, em clima de velório. Minha filha pode não ter entendido nada direito, mas um dia vai lembrar disso.

Abraçá-la e vibrar com o título, sozinho em terras inimigas foi uma emoção como a de 93. Compartilhar isso com os amigos pelos grupos, que a tecnologia nos faz ficar próximos dos nossos, independente da cidade, do estado, do país, foi muito bom também.

E hoje, domingo, sair com o manto alviverde na rua foi ótimo, cabeças baixas, buzinas e gritos de Palmeiras, mais uma vez o oba oba caiu por terra de maneira linda e arrasadora. Que sigam assim, pois quero rir dessas situações por muitas outras vezes.

E agora as coisas estão começando a ficar nos seus devidos lugares, o maior time brasileiro nas Copas, com mais participações, mais finais, mais vitórias, mais gols; se iguala em títulos com outros times nacionais, faz história sendo campeão duas vezes no mesmo ano.

E não vai parar por aqui. O TETRA está logo ali e ano que vem tem mais família alviverde!

***

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  • Opinião do Lúcido
    Gratidão

Comments (9)

  1. Pinho, assim como foi especial eu dividir a emoção com minha pequena, imagino como foi especial (e tenso) para você acompanhar por relatos e msgs devido a emoção vivida com sua filha!!! Parabéns a ela e a família Pinho, e rumo ao tetra!!!!

  2. Boa Cassiano….vc é um herói. E certamente, um dos mais felizes palestrinos do mundo. Avanti!!

  3. Donato, o Lúcido

    Cassiano,
    Acredito que o Sr. Tatu Pinguço tem muito a aprender com você. Enquanto você estava aí, em terreno hostil, combatendo o inimigo de frente, o Sr. Tatu Pinguço estava escondido debaixo da cama, certamente com uma garrafa de cachaça. O mesmo desapareceu por dois dias. Ou por coma alcoólica ou porque a Dani (esposa) o deixou sem celular devido ao seu mau comportamento.

    • O tatu estava submerso no barril de pinga, só saiu com a vitória consumada, menos mal que não foi expulso novamente de um condomínio, devido os escândalos alcoólicos.

  4. Donato, o Lúcido

    Cassiano, seu relato é simplesmente fantástico!!! Parabéns pela forma como você nos representa em “terras inimigas”. Dá-lhe Porco!!!!

    • Mudamos de roupas, de casa, de carro, de cidade, mas o verdão faz parte do nosso sangue, como costumo dizer, sou palmeirense desde os sacos dos meus avôs. E ano que vem tem mais.

  5. Excelente Cassianooo! Mais lindo que isso só se o Davizinho ganhar um PS5

  6. Pinho – Bauru, SP

    Show Cassiano!!!!!! Lindo e emocionante relato!!! Dá-lhe Palmeiras!!!! Rumo ao Tetra!

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