Apresentando a nova Comissão de Arbitragem do futebol brasileiro

Por Oiti Cipriani

Poucos dias atrás, fomos surpreendidos pela troca na cúpula da arbitragem brasileira. A antiga comissão, predominantemente paulista, chefiada por Wilson Seneme, nestes 26 meses de trabalho, era contestada semanalmente por quase a totalidade dos clubes componentes da Série A do Campeonato Brasileiro, pela baixa qualidade da arbitragem.

Neste cenário, a comissão composta por Wilson Luiz Seneme, Emerson de Carvalho, Regildenia de Holanda e Pericles Bassols, teve seu desligamento oficialmente confirmado dia 13 de fevereiro corrente. Esta comissão já havia sido abalada com a saída de Ricardo Marques, por suas divergências e desavenças com o presidente da comissão. 

A baixa qualidade de arbitragem brasileira é culpa da antiga comissão? Claro que não! É muito difícil, como dizia o antigo treinador Oto Gloria, fazer omelete sem ovos e vamos convir, a arbitragem brasileira está sucateada, devido a indicações políticas, sem qualquer meritocracia, onde vemos árbitros sem quaisquer condições técnicas de ser indicado ao quadro internacional. Tanto que presenciamos casos onde árbitros serem guindados a este posto e ficarem um curto espaço de tempo naquela posição e posteriormente serem devolvidos ao ostracismo.

As últimas comissões de arbitragem também foram moídas como carne em frigorifico, pelas péssimas arbitragens nos últimos anos. Sergio Correia, Coronel Marinho, Leonardo Gaciba, e agora Wilson Seneme. O fato destas comissões terem sido substituídas praticamente pela situação caótica da arbitragem brasileira confirma a tese de que o problema é outro: passa principalmente pelo corpo de arbitragem dentro de campo.

A nova comissão

De qualquer forma teremos agora uma nova comissão de arbitragem. Ela será composta por Luiz Flávio de Oliveira, Marcelo Van Gasse, Fabrício Vilarinho, Luis Carlos Câmara Bezerra, Eveliny Almeida, Emerson Filipino Coelho e Rodrigo Martins Cintra.

Este último será o coordenador e ainda contará com um comitê consultivo formado pelos ex-árbitros Néstor Pitana (Argentina), Nicola Rizzoli (Itália) e Sandro Meira Ricci, que atuaram nas Copas do Mundo de 2014 e 2018.

Vamos apresentar os componentes da nova comissão de arbitragem:

Fabrício Vilarinho da Silva, 44 anos, goiano, árbitro assistente, adentrou os quadros da CBF em 2005 e FIFA desde 2012. Um episódio de sua carreira: em 2022 foi assistente de um jogo da CONMEBOL em Calama no Chile. Ele e o outro assistente esqueceram a bandeira no hotel e ambos foram sem seu instrumento de trabalho e improvisaram um colete como bandeira e o jogo ocorreu. Foi suspenso por quatro meses pelo lapso de memória.

Luis Carlos Câmara Bezerra, árbitro assistente de 55 anos, originário de Rio Grande do Norte. Ex-árbitro assistente da CBF, é Instrutor e Assessor CBF da Comissão Estadual de Arbitragem de Futebol do RN (CEAF-RN), tendo se dedicado à Federação Norte-Rio-Grandense de Futebol por 30 anos.

Eveliny Almeida, filha de Assis Almeida que foi árbitro nos anos de 1980/90. Seu marido, Paulo Marcelo, também atuou como árbitro. Entre 2005 e 2006 ela fez parte do quadro da Federação Paulista de Futebol, onde não obteve grande ressonância, regressando a seu estado, Ceará. Em 2008, Almeida tornou-se a primeira mulher cearense a fazer parte do quadro de arbitragem da FIFA.

Emerson Filipino Coelho, professor universitário, com livro sobre preparo físico lançado em 2017. Coautor do livro MANUAL DO JOVEM ATLETA: da escola ao alto rendimento. Relativamente desconhecido no âmbito arbitragem brasileira, tanto que não consegui nenhuma informação sobre ele, em sua carreira na arbitragem.

Marcelo Van Gasse, árbitro assistente de 48 anos, até recentemente trabalhou na Federação Paulista de Futebol. Foi Presidente da ABRAFUT – Associação de Árbitros de Futebol do Brasil, até julho de 2024, quando anunciou sua renúncia, deixando o cargo. Foi convocado como árbitro assistente em duas Copas do Mundo de 2014 e 2018.

Luiz Flávio de Oliveira, árbitro de 47 anos, fez parte do quadro da CBF desde 2007 e FIFA desde 2015 até 2022. Teve uma carreira de sucesso na arbitragem. Até o campeonato do corrente ano trabalhou como árbitro e VAR na Federação Paulista de Futebol. Teve um episódio que marcou muito sua carreira: apitando um jogo em Diadema, do Água Santa no Campeonato Paulista, em uma jogada simples, pisou em falso e quebrou o tornozelo. O que marcou no episódio, foi que o desenvolvimento do lance continuou e ele para nao perder a continuidade, ficou de joelho até terminar a jogada. Saiu de campo na ambulância e ficou longo tempo se recuperando.

Rodrigo Martins Cintra. Deixamos este por último, pois será o coordenador do colegiado. Apitou pela Federação Paulista e pela Federação Bahiana de Futebol.

Sobre Cintra

Para refrescar a memória de quem nao se lembra dele nos campos paulistas, vamos contar algumas passagens da carreira de Rodrigo Martin Cintra, o novo coordenador da nova Comissão de Arbitragem:

1) Em um jogo Sao Paulo e Ponte Preta, época que o goleiro Rogerio Ceni queria comandar a arbitragem do jogo, Cintra (como é mais conhecido) foi o árbitro. Marcou uma falta no outro campo de onde se encontrava o goleiro. Este saiu de seu gol correndo reclamando em altos brados. Cintra nao abriu a boca, nao discutiu, nada. Simplesmente o escorou com o cartao vermelho. Os demais jogadores devem ter pensado, se fez isto com o Ceni, nao vamos abusar.

2) Em outro jogo, Corinthians e Portuguesa Santista, expulsou o goleiro Mauricio do Corinthians. Calhou que o encontrei na semana seguinte e perguntei o porque da expulsao, do nada. “Ah! Ele me mandou tomar caju!” (amenizado).

3) Na mesma época, Vanderlei Luxemburgo queria comandar arbitragem de fora de campo. Cintra nao deu a minima chance dele usar esta prerrogativa, ao ponto de Luxemburgo dizer na mídia que desconfiava da masculinidade do árbitro, pois nao tirava o ollho dele. Cintra o processou e ganhou o processo.

Era uma árbitro extremamente disciplinador, e como vantagem, era independente, e aplicava as regras, das quais era muito conhecedor.

Encerrou a carreira prematuramente aos 35 anos de idade, com vigor e muita lenha para queimar, depois de apitar na Bahia. Foi comentarista de arbitragem da Rede Globo para o Nordeste, fez parte da comissao da Copa do Mundo de 2014. Mudou-se para os Estados Unidos, em Orlando, e lá em 2020 contraiu o Corona Virus, ficando internado, necessitando de doação de plasma de quem havia contraido a doença e curado. Usando seu nome fez uma campanha para doação e aumentar a possibilidade de cura de quem necessitava.

Me alonguei na apresentação do Cintra, por ser o coordenador e para terem conhecimento de sua trajetoria e personalidade. Tenho certeza absoluta, que se ele não conseguir implantar suas ideias pega o chapeu e sai fora. Resumindo, a comissao que esta assumindo é composta por três ex árbitros, três ex assistentes e um que provavelmente fará as análises de preparo físico.

Novas diretrizes

O quadro brasileiro de arbitragem terá suas escalas direcionadas por ranking. Cada árbitro será avaliado em seu trabalho e fará parte de um ranking de 10, 20 chegando a 100 componentes.

Como dito na introdução, a Comissão terá um comitê de apoio. Tenho algumas restrições, principalmente por contar com árbitros estrangeiros que nao conhecem a cultura da arbitragem do futebol brasileiro nem as nomeações políticas que por vezes permeiam a CBF.

Particularmente eu gostaria de ver ex árbitros brasileiros participando deste comitê de apoio, como por exemplo Oscar Roberto Godoi, Sidrack Marinho, Antonio Pereira da Silva, Joao Paulo Araujo, Salvio Spinola, etc. Árbitros que tiveram longa vida na função e não tiveram polêmicas de qualquer espécie em suas carreiras.

Enfim, só nos resta desejar aos novos componentes da Comissao de Arbitragem muita sorte, um trabalho frutífero e que consigam elevar a combalida arbitragem brasileira.

Comments (2)

  1. o Cintra é um tanto sistemático, não?

    esperamos que a nova comissão tenha sucesso, é o mínimo que podemos desejar, como nem começaram, nota ZERO pra eles (risos)

  2. Belíssimo resumo dos apresentados, obrigado por nos trazer quem é quem, mas continuo com a certeza de que enquanto não profissionalizar a arbitragens, teremos situações inusitadas.
    Assim como os jogadores os árbitros precisam se dedicar 24horas para o futebol, se japnfor assim, esquece.

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