Corneta do Cunio – Toca voltar ao copo…

Por Alberto Cunio

Sufocados alviverdes, fazia tempo que não enfrentávamos uma partida tão bizarra quanto a que culminou ontem com nossa derrota na estreia da Libertadores. E antes que os genes autofágicos palmeirenses comecem a se manifestar, querendo caçar culpados ou execrar alguns para que depois sejam lançados vivos à fogueira, melhor contextualizar por que chegamos àquela situação.

Com o altíssimo nível de organização e profissionalismo da Federação Paulista de Futebol, mais uma vez experimentamos os dissabores da competência: ser finalista do Paulistão implicou em termos que viajar a La Paz, NA BOLÍVIA, em meio aos dois jogos da decisão do Campeonato regional mais importante e difícil do país. E como a vida é feita de escolhas, no jargão popular, caiu no colo de Abel Ferreira o trade off que resultaria em tragédia nas alturas.

Olhando para dentro de casa, sabemos nitidamente que após a saída de Scarpa e Danilo o time do Palmeiras dentro de campo sofreu um “abalo”, se não estrutural, ao menos de equilíbrio. E esta instabilidade, que se manifestou em todos os setores da equipe, ficou mais clara no setor defensivo. E corrigi-la está sendo o maior desafio do nosso “mister” (odeio essa palavra) no início da temporada.

Alheios à histeria da coletividade palmeirense, que naturalmente contribui com gasolina diante de um incêndio, Abel e a diretoria usaram de parcimônia e cautela para reparar os desfalques da virada do ano. E para tanto foram testadas algumas mudanças táticas, além da contratação de Richard Ríos e Arthur.

Mas voltando ao assunto….

Bom, voltemos ao segundo parágrafo do texto. Jogando na Arena Barueri, lugar normalmente auspicioso para nosso clube, diante de numerosos torcedores nos apoiando, a equipe titular de Abel promoveu uma partida pífia, em se tratando de uma decisão. E perdeu diante de um organizado, mas tecnicamente limitado, Água Santa. E esta derrota acarretou um sem fim de problemas e necessidade de decisões polêmicas, muito mais em função da repercussão do resultado do que por ele em si. Afinal, uma derrota da equipe de Abel Ferreira é tão rara como a passagem de um cometa e o alvoroço dos chacais do jornalismo, além dos próprios abutres que circulam dentro de nossas fileiras, foi incomensurável.

Diante disso, ficamos entre arriscar nossos titulares à viagem até a Estação Espacial Internacional em La Paz e o risco de uma vergonha histórica (mais uma vez) de perder o título paulista para uma equipe oriunda da várzea. E a coletiva de domingo do nosso treinador já deu a resposta antecipadamente.

Decisão: cada escolha uma renúncia!

Assim, restou ao Palmeiras enviar para a Bolívia um grupo digamos “alternativo”, que se incumbiu de enfrentar uma parada complicada, normalmente considerada um matadouro de clubes e seleções, chamado “altitude de La Paz”. Coincidência ou não, o Palmeiras é um dos poucos clubes que costuma ter desempenho razoável nesta seara, mas ontem talvez tenha sido a participação em que mais sentiu a adversidade.

Nitidamente desentrosado e com vários jogadores que passaram a partida toda sem entender que estavam chutando uma bexiga e não uma bola, nosso bem condicionado fisicamente time sofreu com o fôlego e a adaptação ao local. E mesmo diante de um time muito fraco tecnicamente como o Bolivar, sucumbiu.

Copo ver o lado cheio do copo?

Abel pôde nesta partida, independentemente das circunstâncias adversas, separar aqueles atletas que realmente têm condições de compor um grupo vencedor e aqueles que deveriam buscar outros destinos. E também notou o nível de maturidade de alguns atletas jovens, desde os que se sentiram à vontade naquele inferno, até os que pareciam ter chegado a uma guerra de fraldas.

Vanderlan, Naves e Garcia, veteranos entre os ascendentes da base, completamente perdidos. Deixaram nossa defesa às moscas e por suas trilhas saíram os dois primeiros gols bolivianos. Fabinho perdeu a chance de mostrar que pode ser titular, largando um buraco em nosso meio de campo. Ian e Pedro Lima entraram e, apesar de não se mostrarem inseguros, pouco acrescentaram.

Entre os estreantes, ambos discretos. Apesar de que Arthur, em minha humilde opinião, se escondeu demais para uma posição tão relevante. Ríos mostrou ser voluntarioso, mas precisamos aguardar novas oportunidades para ver seu desempenho em condições normais.

Já no grupo mais calejado, poucos mereceram algum destaque positivo, que não Lomba e Flaco, os que melhor desempenho tiveram na partida. Luan deixou a desejar como capitão e líder, abandonando Naves no miolo de zaga, o que resultou numa lástima de marcação, responsável por todos os gols tomados. Breno Lopes, que em várias oportunidades poderia ter resolvido a parada contra a péssima defesa do Bolivar, preferiu tirar do bolso todo seu repertório de grossuras e não foi nem de longe aquele jogador perigoso que nas boas jornadas costuma ser.

E por fim, no destaque “cinco mosquinhas” da noite: Jailson. Definitivamente, Abel deve ter esgotado sua paciência com ele, que mostrou não poder fazer parte de um elenco tão vitorioso como o do português, já que suas atitudes dentro de campo sempre resultaram em catástrofes e situações adversas que fizeram nossa derrocada.

Agora, resta juntar os cacos de La Paz, não contaminar os que aqui ficaram com eles e torcer para que domingo o NOSSO clima prevaleça e o Água Santa se relegue ao seu verdadeiro lugar: sem divisão, sem história, sem eira, nem beira. Esquecido.

***

Alberto “Corneta” Cunio é colunista do 3VV desde 2008. Se você tem interesse em comprar seu passe, esqueça. Apesar de quase nunca cumprir o contrato de uma coluna semanal, ele é patrimônio da casa!
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Comments (4)

  1. Opinião do Leitor: alvo errado – 3VV

    […] de abril de 2023 Corneta do […]

  2. Perfeito Cunio

  3. Corneta (quase) perfeito, exceto na analise do Pedro Lima, foi melhor do que voce retratou.

  4. Pinho – Bauru, SP

    Perfeito Corneta!!!

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