Manifesto: posicionamento e cobranças na atual gestão

Por Vicente Criscio, Conselheiro da SEP

Vamos falar de política. Do Palmeiras, claro.

A eliminação do Palmeiras na Libertadores 2023 escancarou problemas que para muitos não existiam mais na SEP.

Abel Ferreira sua coletiva, após a derrota contra o Santos pelo Brasileiro 2023, falou várias coisas. Aliás, achei a coletiva muito boa, por parte do Abel. Serena, tranquila, franca. Mas mais uma vez vimos Abel dando explicações onde muitas vezes não seria de sua responsabilidade.

Mas na coletiva Abel falou sobre vazamento de informação. Fato grave, que aparentemente não ocorria em gestões passadas, de Galiotte e Nobre.

Abel falou aquilo que já sabíamos: saíram salvo engano da minha parte, 11 jogadores. ONZE. E a reposição foi muito aquém, seja pela quantidade mas principalmente pela qualidade.

Outro fato escancarado pela eliminação foi a fissura entre a Presidente Leila Pereira e a torcida. Os gritos dos torcedores ao final da partida na Arena Barueri não pode e nem deve ser ignorado.

A Mancha Verde soltou uma nota nesta segunda feira, responsabilizando Leila Pereira e Anderson Barros pelo desmonte de uma equipe vitoriosa, sem as corretas reposições. Clique aqui e leia a nota.

Outra fissura que a Presidente está colecionando em tão pouco tempo nessa função é com conselheiros que criticam sua atuação. Os 27 conselheiros da oposição.

A nota da Mancha Verde cita também esse fato. E, de forma correta e justa na minha opinião, cobrou os outros conselheiros, citando que esses 27 sofreram represálias por se manifestarem publicamente e cobrarem a Presidente sobre temas ligados à Placar e aos seus quase dois anos de gestão. E dando a entender que são apenas esses que fazem oposição aberta.

Por tudo isso, e dado que agora os principais campeonatos do ano já foram embora, acredito que posso me posicionar publicamente.

Sobre quanto conselheiros são de fato oposição

A SE Palmeiras tem apenas 27 conselheiros na oposição?

Não! A SEP não tem apenas 27 conselheiros de oposição.

São pelo menos 80-90 conselheiros descontentes, que não estão alinhados com a Presidente, e que cada um à sua maneira cobra a Diretoria eleita sobre a gestão da SEP.

O fato de apenas ESTES 27 conselheiros terem sofrido a absurda represália é por conta deles não terem solicitado a mais conselheiros – eu inclusive – que assinassem o tal manifesto.

Aliás, no meu caso, e de tantos outros que assinariam tranquilamente qualquer manifesto desta natureza contra a atual gestão, só fiquei sabendo depois de publicado tal ato. Em tese ocorreram problemas de comunicação, pressa, enfim, problemas paralelos de comunicação.

O que os conselheiros podem fazer sobre esse estado de coisas?

Independente dos problemas de comunicação que ocorreram naquele manifesto, há que se trabalhar melhor a aglutinação das forças de oposição.

E da mesma forma que a nota da Mancha Verde cobra os conselheiros (os outros fora os 27), alguns amigos me perguntam no WhatsApp: “o que os conselheiros estão fazendo sobre isso”?

A cobrança sobre nós conselheiros é justa! Independentemente do conselheiro ser eleito por sócios – no meu caso, eu diria que praticamente todos que votam em mim pensam no time de futebol, e não no clube social. E eu, no papel de conselheiro de 4o mandato, me sinto na obrigação de dar satisfação ao palmeirense, sócio ou não, meu eleitor ou não. Por isso inclusive uso o canal do 3VV para isso.

Feito esse esclarecimento, vamos falar do Conselho e as forças de situação e oposição

São quase 300 conselheiros atuando. Mais precisamente são 295. E eu diria que mais de 100 deles estão com cargo na diretoria. Diretor estatutário ou adjunto. Diretor do Futebol de Botão ou da Dança. Diretor do tênis ou dos basquete. Diretor de assuntos do interior, do exterior, de marte, vênus e plutão! E esse conselheiro não vai se manifestar publicamente contra as decisões da Diretoria Executiva.

Ou seja, o Conselho Deliberativo do Palmeiras, assim como de outros grandes clubes de futebol e que ainda contam com uma “gestão de clube social” é um microcosmo de um Congresso Nacional, da Câmara dos Deputados: o Presidente dá cargos e ganha apoio.

Assim, a Diretoria Executiva da SEP dominou todos os poderes. Conselho Deliberativo (CD) e Conselho de Orientação e Fiscalização (COF).

A Presidente e seus aliados, poiaram e ajudaram a eleger os Presidentes do CD e do COF. Que comandam as pautas de cada poder.

Logo, está tudo dominado!

Vale lembrar que outros que antecederam a atual Presidente fizeram a mesma coisa. É parte do jogo político de um clube de futebol administrado sob o estatuto e governança de um clube social.

Parênteses: daí que eu falo há mais de uma décadas que precisa separar a gestão do futebol e do clube social. Por sinal, assistam a série sobre a SAF que estamos publicando no 3VV.

Mas voltando ao tema Conselho Deliberativo da SEP. O fato de termos de 80 a 90 conselheiros claramente de oposição não significa que teremos facilidade em reivindicar mudanças ou mesmo esclarecimentos.

Vejam, pelo Estatuto, os conselheiros podem realizar um abaixo assinado com pelo menos 60 assinaturas e assim solicitar ao Presidente do Conselho Deliberativo uma reunião extraordinária do CD para colocar um determinado tema na reunião para debate. Mas precisa que o Presidente do CD coloque esse requerimento em pauta. E não há prazo máximo no estatuto que obrigue o Presidente do CD a colocar o assunto na pauta. Logo, ele coloca se quiser e quando quiser.

Assim como lá em Brasília, é cá na Rua Palestra Italia.

Mas temos outros obstáculos

Um obstáculo muito grande, e que vem há tempos ocorrendo na SEP, é que a oposição não se ajuda.

Por quê? Porque dentro da oposição tem aquele “conselheiro limpinho” que senta na mesa com fulano, mas não senta com ciclano. Tem o apoiador do “verde abacate” que não é muito simpático ao apoiador do “verde limão”. E o conselheiro da ala “verde bandeira” teve no passado rusgas com o conselheiro do “verde musgo” e portanto não se alinham.

De novo…. assim como lá…. é cá!

E aí vem a minha cobrança forte, há algum tempo, inclusive recentemente, aos meus amigos e colegas de Conselho da SEP. Vamos olhar o que nos une, e não o que nos separa. Temos muito mais coisas que em comum do que diferenças.

Foi eleita uma Presidente da SEP, estatutariamente e com votos do CD e dos sócios. A Presidente passou por várias etapas até chegar ao seu objetivo, fez acordos, criou alianças, fez promessas. Alguns foram ingênuos, outros erraram claramente, e muitos estão ainda no mesmo barco que a Presidente montou.

Mas essa eleição, como sempre e com todos os antecessores, gerou expectativas, seja na torcida, seja nos sócios, seja nos conselheiros.

E a realidade até agora vem frustrando essa expectativa, principalmente naquilo que é mais caro ao palmeirense: o futebol!

Ora, é momento de unir-se para cobrar. De forma civilizada, usando os instrumentos estatutários que temos, mas é nossa obrigação demonstrar força e cobrar.

Portanto os conselheiros, rotulados de oposição, têm a obrigação de deixarem as diferenças antigas de lado e se unirem em cobrar da Diretoria Executiva bem como dos outros poderes mudanças.

Cobrar da Diretoria Executiva, do CD e do COF, o quê?

Número 1: que Presidente e Vice Presidente do Conselho Deliberativo (CD) e do Conselho de Orientação e Fiscalização (COF) atuem de forma independente da Diretoria Executiva e sua Presidente. Devem atuar respeitando o Estatuto da SEP e os melhores interesses da instituição.

Número 2: que nem Diretoria, nem presidência do CD ou do COF ajam com represálias ou retaliações contra Conselheiros (ou sócios) que manifestarem-se de forma legítima e amparados pelo Estatuto da SEP contra quem quer que seja no Palmeiras. Até porque, convenhamos, nada mais perverso contra a instituição da SEP do que esse medidas contra conselheiros ou sócios por emitirem opinião ou críticas ou mesmo reivindicações. O problema aqui não é o “acesso ao ingresso” benefício absolutamente desnecessário a todos os conselheiros. Mas o problema é discriminar determinado grupo pelo “crime” de desempenhar seu papel.

Número 3: que não tenhamos judicialização e nem ações contra conselheiros e sócios da SEP por manifestarem-se nas redes sociais com opiniões e eventualmente críticas a respeito da gestão. Claro, desde que tais opiniões e críticas não sejam ofensivas contra a pessoa nem seu nome ou sua honra. As críticas feitas, legítimas, geralmente são ao cargo, às decisões, aos processos, ao que levou a determinado resultado. E que sejam acatadas ou não, mas sempre respeitadas em seu direito de serem exercidas.

Número 4: que a Presidente da Diretoria Executiva (assim como Presidente do CD, assim como Presidente do COF) preste os devidos esclarecimentos quando cobrados pelos conselheiros da SEP. Não importa se são 27, ou 80 conselheiros, ou mesmo que seja apenas UM conselheiro. Que tenham respeito por essa instituição (Conselheiro) que existe há mais tempo do que qualquer outro que hoje esteja na SEP.

Número 5: o último mas não menos importante. Que não escolham o sofá da sala – leia-se Abel Ferreira e sua comissão técnica – para culpar pelos resultados da temporada. Que aqueles que ocupam Presidência e Vice Presidência da SEP, bem como o Diretor/Gerente remunerado de futebol, Sr. Anderson Barros, venham a público para:

  • Assumirem suas responsabilidades pelos resultados, bons e ruins, do ano;
  • Apresentem o plano para corrigir a rota que nos levou a um desmantelamento do elenco, sem as devidas reposições;
  • Que apresentem quais são os resultados da área de marketing, em termos de aumento de receitas e do número de patrocinadores, e como isso tem se revertido ao futebol;
  • Que expliquem a lógica dos valores do atual patrocínio de 100% da camisa do Palmeiras para a Crefisa, se esses valores são hoje compatíveis com o mercado, mas principalmente se são justos para a instituição dado o retorno que ela oferece aos parceiros patrocinadores;
  • Que tragam transparência e qual a governança que vai reger a relação entre Placar e Palmeiras, bem como agora a Arena Barueri (administrada pela Crefisa) e Palmeiras, e como evitarão conflitos de interesse entre a Presidente do clube e a Presidente da Crefisa/Placar.

Esse é meu posicionamento. Aberto, franco, sem medo de retaliação ou represália, porque estou exercendo meu legítimo direito de me manifestar, com respeito por todos os aqui citados, mas principalmente pela consciência tranquila em sempre atuar no meu papel de Conselheiro da SEP, às vezes tomando decisões erradas mas muitas vezes assumindo o lugar certo na história.

Pois é o que vem legitimando meus quatro mandatos consecutivos, exercido com muito orgulho.

Saudações Alviverdes!

VICENTE ROBERTO CRISCIO, conselheiro da SEP eleito para os mandatos de
2011-2014, 2015-2018, 2019-2022, 2023-2026.

Comments (7)

  1. Ademir Divino ( FORA LEILA E BARROS)

    Escalação base ideal para os 12 jogos restantes no Brasileirão e conseguir, ao menos, uma das vagas diretas para a Libertadores 2024:

    Weverton, Mayke, Gustavo Gomez, Murilo e Piquerez; Fabinho, Zé Rafael, Raphael Veiga e Luís Guilherme; Endrick e Rony.

    Apesar de alguns jogadores desse time titular estarem em má fase, entendo que essa é a melhor formação disponível no Palmeiras atualmente. Uma mescla de jogadores experientes com os garotos que estão pedindo passagem pode deixar o time mais criativo e menos dependente de cruzamentos nas jogadas ofensivas.

    Espero que o professor Abel Ferreira priorize a meritocracia nas escalações ao invés da amizade com alguns determinados jogadores, como, por exemplo, o Marcos Rocha, Artur, Luan, Breno Lopes, etc…

  2. Ademir Divino (FORA LEILA E BARROS)

    Quando eu comentei ainda no começo do ano passado que a ”Leiga” Pereira faria um péssimo mandato e poderia atrapalhar a maravilhosa fase de muitas conquistas de títulos do Palmeiras, eu recebi várias críticas de outros palmeirenses nos sites da mídia palestrina e, principalmente, nas redes sociais onde a ”titia” tinha inexplicavelmente um grande fã-clube sempre dispostos a defendê-la de críticas com unhas e dentes. Gostaria muito de saber dessas pessoas o que elas estão achando do mandato da ”ídola” que eles tanto protegeram.

    Não tem jeito, uma coisa que começa errado vai terminar errado. Se alguém se iludiu com uma pessoa que burlou o estatuto do clube e conseguiu ser eleita conselheira em uma situação bem nebulosa, tem que rever bastante seus conceitos.

    O ambiente atual no Palmeiras lembra muito aquele do começo dos anos 2000 após a saída da Parmalat. E o final todos sabem como foi sofrido para o torcedor palmeirense…

  3. luiz sergio neto

    Onde foi parar o direito A VOTO dos socios Avanti? Em um sistema em que não conseguimos separar o social do futebol que pelo menos os sócios do AVanti (que no fundo são do futebol) possam votar para presidente, para conselheiros e até para decidir se determinado Diretor de futebol fica ou deve ser trocado. O que mais me deprime no palmeiras é ver os 2 maiores presidentes que vi do palmeiras ( Belluzzo e Nobre) sendo afastados e investigados pela própria SEP.

  4. Donato, o Lúcido

    A descrição do que acontece está mais do que perfeita. Porém, falta dar o primeiro passo. Ou seja, as frentes de oposição precisam parar de ter “nojinho” umas das outras, e se estruturarem em conjunto e adequadamente para questionar a atual gestão.
    Seria um bom começo.

  5. Apenas mais um excepcional análise , perfeito diagnóstico .

  6. Nada mais a acrescentar. Parabéns.

  7. Gabaritou…

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