Minuto 98: Apoio a Abel, noites e dias mágicos…

Editor: JOTA CHRISTIANINI Colaboradora: Erika Gim

FALA JOTA

Há dias escrevi sobre a falta de ousadia da direção do Palmeiras quando o assunto é futebol.  Mantenho o que disse!  

E acrescento que é inaceitável a pressão que se faz sobre o treinador, tendo como contrapartida o silêncio ensurdecedor dos dirigentes, ávidos por manifestarem-se nos momentos de festa, mas calados ao não se posicionarem em defesa do trabalho da comissão técnica.  

Não discuto o silêncio na defesa dos interesses do time de futebol quando prejudicado em arbitragens, decisões de tribunais esportivos e de federações e confederações. Assunto para outro comentário, em momento oportuno.  

Limito-me, agora, ao trabalho de Abel.  

Há que se defender, caso seja este o desejo da diretoria, o trabalho do comandante do time, e fazê-lo de forma firme, positiva, insofismável – e não com a timidez com que a diretoria se manifesta sobre esse e quaisquer outros assuntos. 

***

MENINOS EU VI

AQUELA NOITE CHOVEU PRATA 

E à noite nas tabas 

Se alguém duvidava 

Do que ele contava 

Dizia, prudente: 

Meninos eu vi!  

Y Juca Pirama – Gonçalves Dias  

Aquele domingo amanheceu diferente. Meu avô, em visível sobressalto, estava alegre, muito mais do que costumava aparentar nos domingos ensolarados da velha Lapa.  

Eu, então, nem se fala! Estava radiante, alegre, mais alegre do que quando meu pai me levou para tomar sorvete na Sorveteria Nevada do Vale do Anhangabaú.  

Pudera! Meu avô, meu pai e eu iríamos ao Parque Antártica ver o Palestra jogar. 

Nem eu sabia direito porque, mas algo dizia que aquele 5 de novembro de 1933 nunca mais seria esquecido. O Palestra jogaria contra o Corinthians, a quem havia goleado, no primeiro jogo do turno por 5 x 1, no campo deles, na Fazendinha. 

Às treze horas, pegamos o bonde 35 na rua Guaicurus, descemos na Avenida Água Branca, então empoeirada, e fomos para a frente do estádio. Já era bonito o Parque Antártica, e, mais do que tudo, como dizia meu avô: era nosso! Tínhamos comprado o estádio há mais de 10 anos, mas tínhamos terminado de pagar a conta há pouco tempo. Enfim, tudo aquilo era nosso. 

Os bondes despejavam centenas de pessoas. Os jornais da época, pasmos com essa situação, bradavam: “Onde pensam que vão estes operários italianos? O que eles querem, nos seus dias de folga, lotando os bondes para ver o Palestra jogar? O que eles vão querer depois?”. 

Eles veriam mais tarde que queríamos o mundo. 

Estávamos no nosso estádio, como meninos de três gerações, juntos, ansiosos para ver o Palestra jogar. Nada mais importava. O jogo começou e no primeiro tempo o Palestra fez três gols. 3×0, os três gols do Romeu Pellicciari.  

Meu pai assistia ao jogo calado, não acreditava no que estava vendo. Meu avô exultava. Comprou para mim, de uma só vez, Sissi, Gasosa e Guaraná. O pai e o nono tomavam Faixa Azul e todos comíamos pizzas, que eram vendidas em pequenos tambores. 

Começou o segundo tempo. Com menos de um minuto, Gabardo fez o quarto gol. Foi só pizza que voou. Romeu, aos sete, e Imparato, aos nove, fizeram mais dois gols. Imaginem que aos nove minutos do segundo tempo já estava 6×0. Ninguém se entendia mais, todo mundo gritava e se abraçava.  

O jogo ainda não tinha acabado. Havia tempo para que Imparato ainda fizesse mais dois.  

Oito a zero! 

Inacreditável! O Palestra, de todos nós, enfiava 8×0 no Corinthians. 

Terminado o jogo, festa era geral. Ao invés de voltar para a Lapa, meu avô ordenou: 

– Vamos todos para a Patriarca! 

E lá fomos de bonde para a sede do Palestra. 

O ritual durante o trajeto era delirantemente monocórdico, todos gritavam em uníssono: 

– Oito! Oito! Oito! Oito! Oito! 

Lembro de uma menina, acho que tinha a minha idade, que acompanhava o canto com todo o amor que ela sentia pelo Palestra. Usava um vestido verde e branco e, na única oportunidade em que se podia ouvir alguma coisa, perguntei-lhe o nome: Eddy, disse-me a menina.  

Ao chegarmos à Patriarca, a massa delirava, cantando: 

“A nossa turma é boa 

é da Patriarca 

Arca! Arca! Arca! 

Palestra! Palestra!” 

Voltamos para casa quando já era noite. A mãe e a nona nos esperavam com pizza, os vizinhos – invejosos – vinham nos cumprimentar, afinal, nós estivemos lá! Estava lá, eu vi e agora posso contar… 

Onde vocês estiverem: Gabardo, Romeu, Avelino, Imparato, Nascimento, Junqueira, Carnera, Tunga, Dula, Tufi e Lara o meu, o nosso eterno agradecimento.  

A festa foi grande. O vô abriu um Chianti e uma certa hora, sem que minha mãe pudesse saber, bem escondido de todos ele colocou um pouco do vinho na minha gasosa.  

Aquela noite merecia, aquela noite choveu prata. 

Nota: homenagem póstuma a dona Eddy Pascucci, lenda e glória da TUP, que esteve no jogo e contou-me parte desta história. 

*****

SÓ PRA CHATEAR

O torcedor palmeirense pensa que e de hoje que acontece uma certa má vontade com os feitos do Palmeiras. Vejam a manchete e o sub titulo após a vitória do Palestra por 6×0 em 1942 

Comments (2)

  1. Regina Rodrigues

    Histórias lindas como essa só o Palmeiras têm!

    A imprensinha sempre de má vontade com o Palmeiras. Mudamos de nome, mas a incoerência da imprensa permanece.

  2. Sensacional…

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