Minuto 98: as lições para a grande final, a encruzilhada de Nandão Careca e a ‘lentidão’ de Ademir
Editor: JOTA CHRISTIANINI Colaboradora: Erika Gim
FALA JOTA
Para a final da Libertadores, muitas lições podem ser tiradas. Tanto da recente má fase do nosso adversário, como daquela do Palmeiras há quinze dias. A principal delas: não há mal que sempre dure, nem bem que nunca se acabe. O Palmeiras não permaneceria na draga que estava há duas semanas, nem o Flamengo permanecerá no buraco que se meteu recentemente. Dia 27 tudo será diferente. Tanto para cá quanto para lá.
E, também, há recados. Aos pessimistas, um bordão: “si, se puede”. Outro: não existe time imbatível, nem existe time que não possa surpreender favorável ou desfavoravelmente. Os últimos resultados do Bayern, do City do Guardiola e do Roma do Mourinho mostram isso.
Logo, a final da Libertadores há de ser discutida a partir das 17 horas do dia 27. Nada que se suponha antes servirá para prognósticos.
Palmeiras mostrou no jogo contra o Sport intensidade e produtividade que não se viam há tempos. Recordes de chutes a gol, escanteios, cruzamentos… Enfim, quebrou os paradigmas. Além da vitória, para que serviu tudo isso? Mostrou que o estudioso Abel Ferreira é capaz de surpreender mostrando ter repertório variado para todos os gostos. Nosso trunfo – um deles – para o dia 27.
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MENINOS EU VI
Ninguém entendia direito o que tinha acontecido com o Nandão Careca. Sujeito divertido, o mais respeitado quarto zagueiro daquelas bandas e carnavalesco da única escola de samba da cidade (Unidas da Bagaceira), há muito se isolara em seu pequeno sítio, logo na entrada da cidade. De lá só saía para ir ao mercadão vender os produtos que colhia e fazer as compras necessárias. Não brincava mais com ninguém, sequer conversava.
Os mais velhos lembravam do Nandão que, careca desde os dezesseis anos, jogava bola com tamanha eficiência que foi chamado mais de uma vez para testes no XV de Jaú. Nunca foi. Gostava da vida em Analândia e de lá só se afastava por um bom rabo de saia, porque nisso ele também se destacava.
O tempo correu, Nandão casou-se com Adélia, morena bonita de olhos verdes, mas nem por isso aquietou-se. Vira e mexe, usando como álibi as viagens com o time de futebol, aproveitava para fazer visitas mais íntimas e menos esportivas a muitas senhoras e senhoritas das cidades vizinhas. Já nessa época morava no mesmo sítio que hoje serve para escondê-lo.
Uma vez, e sempre tem uma vez, Adélia avisou que iria visitar uns parentes de quem realmente ela falava – muito vagamente, é verdade – em Goiás.
Viagem longa, coisa de quinze dias. Nandão, antevendo a folga conjugal, ajudou em tudo o que foi possível. Levou-a à rodoviária para que ela embarcasse para a Capital, de onde pegaria outro ônibus até Anapolina, terra dos tais parentes.
A mulher não tinha nem chegado a São Paulo e Nandão já tinha introduzido – epa! – no sítio a mulata Leonor. Lindíssima, era par do Nandão nos rodopios da escola de samba. De lá não saíram nos quinze dias seguintes.
Quando Adélia ligou dizendo que voltaria no fim da semana, por óbvio Leonor foi convenientemente despachada.
Adélia mal chegou e, guardando as roupas de sua bagagem, descobriu caído, atrás da penteadeira, um reluzente colar de pérolas. Intimado pela mulher, Nandão logo justificou:
– Deve ser da empregada.
Adélia não deixou a bola cair:
– Empregada coisa nenhuma, é de pérolas legítimas e a empregada não tem dinheiro para isso.
E como a bola nem tinha caído no chão, arrematou de sem-pulo:
– Se até sábado você não tiver uma história convincente, vai ter!
Nandão saiu tenso de um lado e aliviado do outro. Tinha dois dias para conseguir um álibi perfeito. Tentou o padre, o técnico do time, o dono do mercado e não conseguiu absolutamente nada. Ninguém tinha a menor ideia de como ajudá-lo. A bem da verdade, o padre, quando soube do problema, nem quis ouvi-lo.
Então, o valente quarto zagueiro lembrou-se do Zelão, barbeiro, no outro lado da cidade: coroa, viúvo tido e havido como o galã da cidade.
– Zelão, preciso de você. Vai lá e diz para a Adélia que me visitou com uma namorada lá de Oscar Bressane e que madame esqueceu o colar lá em casa.
O barbeiro sacou ligeiro:
– Impossível. Primeiro que Adélia não vai acreditar, e depois não te esqueças que andei de férias, fora da cidade e isto enfraquece teu álibi.
Nandão insistiu e ficou horas aporrinhando o barbeiro para que este o ajudasse. Zelão estava perdendo a paciência, mas tentava se desvencilhar do conhecido:
– Me inclua fora dessa, Nandão, não vou inventar esta história de jeito nenhum, porque a Adélia não vai acreditar mesmo.
Enquanto parlamentavam, bebiam, e quando o teor alcóolico era tão alto quanto a insistência de Nandão, o veterano Zelão perdeu de uma vez só a paciência, a vergonha e os escrúpulos, o suficiente para disparar:
– Ela não vai acreditar! Sabe por que, Nandão? Porque ela, Adélia, a tua mulher, não foi para Goiás coisa nenhuma! Ela foi comigo para Barra Bonita, onde ficamos naquele famoso hotel durante os quinze dias que ela ficou fora.
Nandão Careca nunca mais jogou no time da cidade, nem brincou no carnaval e quase não saiu mais do sítio.
Escrito em maio/2008.
SÓ PRA CHATEAR
Revista de fevereiro de 63, Ademir da Guia, mais de ano e meio no PALMEIRAS , quando a GAZETA ESPORTIVA ILUSTRADA decretou que era melhor voltar para o Rio de Janeiro pois seu futebol clássico, porém lento ,jamais vingaria no futebol paulista. Como se vê o jornalista sabia tudo de futebol.
Comments (4)
Cassio Andrade
Sensacional Jota!!!! Perfeito. Quando a bola rola, com dois times grandes, a má fase e a boa fase se neutralizam. Vence quem tem a cabeça mais equilibrada durante os 90 minutos para executar o que o treinador pede, improvisar , estar bem nas ações defensivas e na execução dos ataques.
Todo o resto fica fora de campo.
Pinho – Bauru, SP
Muito bom Jota!!! e as referências…. Analândia e Oscar Bressane… hummmm…
Ivo Russo
Essa imprensa de gamba.
Como eu digo sempre:
Contra tudo e contra todos desde 1914.
E esse Nandao se deu mal heim. Rsrsrs
Jose Roberto Tammaro
Fantastico Jota como sempre