Minuto 98: não rotulem Abel, histórias de César Maluco, goleada sobre o São Paulo

Editor: JOTA CHRISTIANINI Colaboradora: Erika Gim

FALA JOTA

Abel é esse aí mesmo! Não queiram rotulá-lo, não é possível! Não se aplica ao treinador do Palmeiras transformar seu trabalho em planilha e depois colocá-lo numa pasta catalogada. Abel é autêntico e pragmático.

Para cada problema encontra uma solução, com a vantagem de quem conhece o que tem à disposição: não subestima, porém jamais superestima seus recursos. Vai no ponto e, com isso, em dez meses chega à segunda final de Libertadores. Situação que poucos treinadores, bem mais experientes que Abel, conseguiram. 

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MENINOS EU VI

Encontro com o César Maluco, brincalhão, sempre irreverente, mas disposto a um papo sobre futebol. 

Falamos de velhas histórias: o treinador estava sem ambiente com o time. Não se falava em outra coisa que não a queda iminente do dito cujo. O jogo seria naquela tarde de sábado e os jogadores almoçavam alvoroçados. Chega, então, o treinador e, com toda a pompa possível, comunica que se demitira. A princípio aplausos tímidos saudaram o comunicado. Logo em seguida, o refeitório inteiro aplaudia entusiasmado a saída do técnico, até os garçons engrossavam as palmas. 

Início de 74, Brandão era o treinador. O Palmeiras enfrentou e venceu três partidas – 4×0 no Santos, contra Pelé e tudo o mais, goleara por 7×0 o Steua, da Romênia, e depois venceu um time iugoslavo por 3×0 – em amistosos preparatórios ao campeonato paulista. Inexplicavelmente marcaram amistoso contra o Corinthians. Os treinadores dos dois times desaprovavam, afinal resultado de Derby, até amistoso, sempre é cruel com o derrotado.  

Brandão deu a ordem no intervalo: 

– Se estivermos ganhando e o adversário empatar, tratem de segurar a bola. César levou ao pé da letra. O Corinthians empatou e o centroavante palmeirense pegou a bola nas mãos e saiu caminhando, margeando a linha de fundo, contornou a bandeira de escanteio e continuou marchando pela linha lateral. Depois da surpresa, começaram as risadas, até o juiz expulsá-lo de campo.  

Jogando pelo Corinthians, o atacante ficou pouco tempo na Fazendinha. Tempo suficiente para, num jogo no interior, ao perceber que seu colega Russo, numa disputa de bola, perdera a dentadura, sair chutando-a cada vez mais longe. Russo não sabia se ia atrás da dentadura ou cuidava do time adversário que voltava atacar. Tentou as duas coisas ao mesmo tempo. Foi difícil. Minutos depois, pediu para o massagista limpar a preciosa peça, que ao encontrá-la colocou na boca ainda com resquícios de grama. 

Maluco lembrou, também de quando, na Copa 74 na Alemanha, descobriu um dispositivo que invertia o fluxo da escada rolante. Esperou a delegação inteira do Zaire estar concentrada na escada e acionou a máquina.  

Perguntei por que na decisão do Paulistão 72 ele usou uniforme diferente dos demais jogadores. Quem vê o tape ou fotos da partida final contra o SPFC nota que a camisa de César tinha a gola e o número diferentes dos companheiros. 

 Ele pensa, com saudade e respeito, e responde: 

– Ordens da Dona Rosa, guru espiritual do mestre Brandão. 

Palestra Itália, 2008 

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SÓ PRA CHATEAR

Palmeiras 5 x 0 São Paulo – 1965

Comments (2)

  1. Pinho – Bauru, SP

    Sensacionais os causos do César Maluco! Boa Jota!!!

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