Minuto 98: ousadia, Mestre Brandão, Caninha Campeão 51

Editor: JOTA CHRISTIANINI Colaboradora: Erika Gim

FALA JOTA

Danton*, o francês, quando falava aos seus pedia três coisas: – Ousadia, ousadia e mais ousadia.

O Palmeiras há de ser elogiado pela conduta durante a pandemia, preservando os empregos e pagando os compromissos em dia. Elogiável! Porém, nisso a frase do Danton precisa ser lembrada. O carro-chefe que permite arrecadar o suficiente para manter a estabilidade financeira aqui elogiada é o futebol.

No futebol, ainda que o Palmeiras venha de um ano repleto de vitórias, manter-se no degrau de cima exige investir sempre e, no momento, a falta de investimentos reflete numa oscilação do time que preocupa.

Títulos e craques trazem receitas. 

Um pouco de ousadia ampliaria e consolidaria as chances de fecharmos o ano com conquistas. 

*Danton era francês, estudou e viveu em Paris, mas não torcia pelo PSG, que nem tinha sido fundado – e nem o futebol havia sido inventado.

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MENINOS EU VI

O Mestre dos Mestres

Mestre Brandão era inconfundível. Tinha um jeito todo especial e não abria mão de suas convicções. Aclamado por toda a imprensa e torcida, foi chamado para treinar a seleção brasileira por ocasião da Copa de 74. Perdeu o posto ao empatar contra a Colômbia, em Bogotá, no primeiro jogo das eliminatórias. Demitido no avião, durante a viagem de volta, acabou substituído por Cláudio Coutinho. O resultado da brincadeira todos sabem.

Oswaldo Brandão, mediano jogador gaúcho, chegou ao Palmeiras na metade dos anos quarenta. Machucou-se em meados de 1947, passando, então, para treinador e foi campeão paulista no mesmo ano.

Brandão foi único. Campeão paulista pelos três grandes da capital, treinou também o Santos e a Portuguesa, onde obteve títulos. Foi campeão no Uruguai e, também, no campeonato argentino, pelo Independiente.  Nesse clube, na partida decisiva ao título, ganhou facilmente e nem esperou a volta olímpica. Despediu-se dos jogadores ainda no gramado, enquanto o lendário locutor da rádio Rivadávia, José Maria Muñoz, discursava emocionado, pedindo que Brandão ficasse.  Cada vez que ouvia a gravação, o mestre chorava.

Dono de um estilo peculiar de dirigir seus jogadores, usava linguagem toda própria: “Tem que chegar junto”, “Dá e saí” ou a definitiva “Para ganhar, é só marcar um gol a mais que eles”.

Intuitivo, ganhava campeonatos explorando situações que aos outros pareciam irremediavelmente contrárias.

Foi um dos primeiros a trocar jogadores de posição durante o jogo, e até mesmo antes da partida. Com Ademir da Guia expulso no fim do primeiro tempo, junto com o centroavante da Lusa, Brandão tirou o zagueiro João Carlos no intervalo e colocou o armador Madurga. Ganhou a decisão do Troféu Laudo Natel contra a Portuguesa. No time da fazendinha já tinha feito algo parecido, escalando o centroavante Paulo de lateral e conseguindo ganhar uma taça com gol do improvisado defensor. Na final de 74, surpreendeu até os jogadores do Palmeiras ao escalar na lateral direita o volante Jair Gonçalves, no lugar do eterno titular Eurico. Foi o volante, jogando na lateral, que iniciou a jogada do gol do título.  

Suas entrevistas eram fascinantes.  No aeroporto de Congonhas, um repórter açodado pediu:

– Brandão, você pode me dar o time que vai jogar?

O mestre foi claro:

– Posso sim, são aqueles que estão de terno, tomando café, pode levar todos.

No banco de reservas, em dia que o time estava jogando muito mal, mais pérolas:

– Como o senhor está vendo o jogo?

– Pelos óculos, meu filho, pelos óculos – respondia com seriedade.

Mandou Dudu marcar aquele loirinho número quatorze em cima. Era Cruyff.

Perguntado como César jogaria, foi definitivo:

– De calção, camisa, meias e chuteiras.

Quando Roberto Silva, o repórter Olho Vivo, perguntou como o time entraria em campo, Brandão cortou rente:

– Entrará pelo túnel de acesso e jogará com onze, que se eu pudesse colocava doze, mas a FIFA não deixa.

E, ainda, respondendo ao mesmo repórter por qual motivo colocara o Toninho Vanuza bem aberto na esquerda:

– Porque fica mais perto da saída.

Mestre Brandão morreu duas vezes. Quando seu filho Márcio, vítima da mais traiçoeira das moléstias, que lhe afetou o cérebro, morreu aos 28 anos, o mestre perdeu uma parte de si mesmo; justamente quando o orgulhoso pai dizia que as esperanças eram maiores na cura do garoto, pois, no sábado anterior havia conseguido dirigir quatrocentos quilômetros – Márcio era piloto de corridas e modelo fotográfico. Esse jogo ele perdeu. A partir daí, Oswaldo Brandão perdeu o gosto.  Algum tempo depois, nós perdemos o mestre.

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SÓ PRA CHATEAR

Quando um opossum, pensando ser engraçado, diz que 51 é pinga, agradeço a homenagem que ele faz ao titulo mundial conquistado pelo PALMEIRAS em 1951. Para comemorar a conquista daquele titulo os Irmãos Piccolo lançaram em Pirassununga, interior de S.Paulo, a CANINHA PALMEIRAS 51, depois teve o nome mudado para Pirassununga 51 e atualmente é comercializada como ” Caninha 51″.  

Comments (4)

  1. CLAUDIO COUTINHO

  2. Joao Saldanha que era comentarista de futebol do RJ e para a Copa do mundo realizada no Mexico em 1970 ,o treinador foi zagalo.

  3. Meu Pai Julinho Botelho falava sempre do Mestre Brandão!! Um dos maiores técnicos e conhecedor do Futebol!!

  4. MARIO LUIZ SALVONI

    Brandão foi substituído por alguém que na verdade nem treinador era, era parte da comissão técnica da copa de 70…………….

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