Minuto 98: quem são os culpados, saudades de Fedato e a má vontade da imprensa
Editor: JOTA CHRISTIANINI Colaboradora: Erika Gim
FALA JOTA
Há, sem dúvida, que endurecer, mas sem perder a ternura jamais.
A direção técnica do Palmeiras tem que ser cobrada com o propósito de melhorar e não de exigir mudanças. Estamos perdendo pontos, que analisados como torcedores, nos fazem criticar e reclamar, às vezes, até fora do tom.
Porém, se observarmos com rigor técnico o que temos, chegamos a algumas conclusões importantes: é inadmissível o número de gols que nosso atacantes têm perdido – apenas no jogo de ontem foram 3 chances inacreditáveis; assusta a passividade dos defensores, principalmente ao assistirem a troca de passes dos adversários nos arredores da nossa área; e a indisfarçável complacência com que nossa diretoria aceita as arbitragens danosas ao Palmeiras.
Ainda, pode-se falar que não estamos jogando com o time completo, mas, para vencer os últimos adversários que tivemos pelo Campeonato Brasileiro, nosso elenco é mais que suficiente.
Resumindo: falta-nos atitude, de alto a baixo. E disto o treinador Abel não é, com certeza, o maior culpado.
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MENINOS EU VI
É impossível falar do Fedato sem falar em Oswaldo Brandão. Fica incompleto, errado e difícil.
O apelido do “mestre” Brandão era Caçamba; nunca se falou da “corda”. Suspeito que era o Fedato. Impossível dissociá-los. Fedato jamais foi titular, nem daqueles jogadores que qualquer outra torcida desejasse. Mas, indiscutivelmente, foi um dos maiores artilheiros e, mais que isso, autor de gols “salvadores” dos verdes de Parque Antártica.
Entendiam-se pelo olhar, os dois. Quando o jogo estava no meio do segundo tempo e a vitória difícil, Fedato já sabia: Brandão o mandava aquecer. Uma vez, contra o Atlético Mineiro, faltavam alguns minutos e o atacante entrou. Rigorosamente na primeira vez em que tocou na bola, enfiou para o fundo das redes do Galo, decretando a vitória do Palmeiras. Ao marcar o gol, continuou a corrida até o alambrado do Pacaembu para comemorar com os torcedores. Nem voltou ao jogo, pois acabou sendo expulso lá mesmo – era o regulamento vigente. O jogo acabou em seguida e nunca um jogador expulso foi tão aplaudido à saída do campo.
De outra feita, contra o Grêmio, mestre Brandão foi bem claro:
– Você entra no lugar do Hector Silva e fica no bico da área que o Ademir vai te dar um gol de bandeja.
Falou e disse. Minutos depois, Ademir da Guia, outro mestre, rolou a bola para Fedato, que decidiu a partida. Feito o gol, voltou ao banco de reservas e fez menção de se sentar, dizendo:
– Se era isso que o senhor queria, já fiz.
Fedato ficou tantas vezes no banco de reservas que a revista Placar fez disso uma longa matéria, na qual o jogador analisou todos os bancos de reserva dos principais estádios brasileiros, dando notas de conforto, visibilidade e outros quesitos mais.
Sem dúvida, o grande momento de entendimento entre o treinador e o jogador aconteceu em 22 de dezembro de 1974. Palmeiras e Corinthians decidiam o Paulistão daquele ano. Segundo tempo, empate, jogo difícil. Oswaldo Brandão notou uma certa apatia nos atacantes do Verdão e, por via das dúvidas, mandou Fedato aquecer. Leivinha, Ronaldo, Edu e Nei perceberam e sabiam que qualquer um deles poderia sair. Resolveram, então, correr mais. Enquanto isso, Fedato continuava empenhado em seu aquecimento ao lado do campo. De repente, Leivinha ajeita de cabeça e Ronaldo marca o gol do título. Todos comemoram. Fedato nem espera a ordem do técnico. Humilde e inteligentemente, volta ao banco e senta-se. Brandão olha e dá sua célebre piscada. Fedato tinha feito a parte dele, outra vez.
Como sempre fez, até a semana passada, quando partiu para encontrar-se com o mestre e relembrar todas essas histórias.
Publicado em fevereiro de 2000.
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SÓ PRA CHATEAR
Para quem pensa que tudo isso que se lê, ouve ou vê contra o Palmeiras começou agora, aqui vai uma pequena amostra.
Março de 1945: o Palmeiras venceu o São Paulo. Percebam: o Palmeiras venceu o clássico por 1 a 0 e eis a capa da Gazeta Esportiva e as duas manchetes dos paginas internas…
Gijo, citado na capa, era goleiro do São Paulo, time derrotado.
Comments (2)
Mario Giannini
Parabéns Jota!
Excelente matéria. Digna das lembranças daqueles que viveram e vivem Palmeiras e conhece no fundo d’alma o que isso significa. Obrigado pela sua contribuição à história do Palmeiras.
Pinho – Bauru, SP
Boas histórias… bons causos…. delícia de coluna!!!