Morumbi e seus problemas
Excelente porque no marasmo de elogios míopes ao São Paulo FC e sua estrutura, surge uma reportagem apontando de maneira técnica a inviabilidade do estádio Morumbi como palco para a Copa do Mundo. Ou seja, disse de forma técnica o que muitos vêm falando, seja nesse blog, seja em outros (veja links no final do texto).
Baseada em uma tese de doutorado sobre estádios brasileiros recém concluída pelo arquiteto Carlos de La Corte, da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP, de Dentre outras coisas, a jornalista aponta os principais problemas:
Lugares cegos nas arquibancadas, problemas de evacuação, estacionamento escasso e distância do público em relação ao gramado são os principais problemas apontados por especialistas em arenas esportivas consultados pela Folha.
O arquiteto utilizou como parâmetro a normativa adotada pela Europa e a “bíblia das construções esportivas”, o Green Book, da Inglaterra. Ele fala na matéria:
“De que adianta colocar as cadeirinhas só para atender à Fifa se o Morumbi
tem problemas de visibilidade e a tendência é que as pessoas acabem ficando em
pé para ver melhor? Temos que estar atentos à demanda do público”.
La Corte constatou que quase 9 mil lugares do estádio têm a visibilidade prejudicada por placas de publicidade, banco de reservas, guarda-corpos ou grades de separação. A matéria dizia “13% das 67.500 pessoas que compraram ingressos terão problemas para ver Kaká, Ronaldinho e cia.”.
E bota problema nisso! E a FIFA, diferente de muitas outras instituições e meios de comunicação, tem capacidade de análise e julgamento para identificar quais estádios estão dentro ou fora da regra. E é extremamente rígida quando se trata do seu principal produto: a Copa do Mundo.
PRIMEIRO PROBLEMA: VISIBILIDADE
Como foi dito no parágrafo anterior, há 8.820 pontos cegos no Morumbi. As razões são:
– Grande distância em relação ao campo por causa da pista de atletismo;
– Pouca inclinação nas cadeiras/arquibancadas;
– Áreas de obstrução aos espectadores.
Veja as imagens escaneadas da matéria da Folha. É absolutamente clara e didática.
Na matéria dá-se o exemplo de Wemblei: são 15 metros entre a fileira mais próxima do campo e o campo de jogo. No Morumbi são 36,40 metros! Acho que na reforma o São Paulo não destinou orçamento para aproximar a área das cadeiras e arquibancadas.
E sobre a inclinação, a matéria é também muito clara: como visto na figura acima, o piso térreo chega a ter 9 graus de inclinação. Essa inclinação é nada perto do que exige a FIFA em termos de linha de visibilidade (veja a figura abaixo extraída do documento Football Stadiums: Technical Recommendations and Requirements):
Além disso, nesse mesmo documento, a FIFA exige que a visão máxima do torcedor seja de 190 metros. A ideal é de 90 metros. Três vezes maior do que a MENOR distância do Morumbi (não tenho a informação da maior distância de visão do Morumbi; mas já estive no referido estádio e sei que é bem maior que 190 metros. Se alguém souber exatamente a medida e puder informar, o 3VV agradece!).
SEGUNDO PROBLEMA: ESTACIONAMENTO
Essa é fácil! No projeto apresentado pelo São Paulo FC, a matéria afirma que existem 1.400 vagas considerando áreas clandestinas (??) e outros bolsões. Recentemente foi anunciado em uma matéria no Lance! que seriam construídas 4.800 vagas no subterrâneo da praça em frente ao Estádio. Opa! Mas a praça é pública? Então quem vai construir? Ou vai ser privatizada?
De qualquer forma são necessários 11 mil vagas (de acordo com os “guidelines” da FIFA) para um estádio com essa capacidade. O que fazer?
TERCEIRO: ACESSO
Quem esteve ao jogo reclamou muito! Porque os problemas não desaparecem com discurso! O estádio é longe, não tem opções de transporte coletivo, congestiona em frente aos portões e pessoas e carros caminham juntos. Ou seja, um risco à segurança dos espectadores. Sobre segurança dá uma olhada no material da FIFA que fala exatamente sobre esse tema (link abaixo).
Nesse caso a Direção do São Paulo joga o encargo para o “público”. Afirmam que está nos planos do Governo do Estado levar o Metrô à região. Pode ser…
Alguns outros problemas parecem menores se comparados a esses. E poderão ser explorados em outros POSTs.
Mas a solução para a abertura da Copa de 2014 passa longe desse Morumbi que está aí. A não ser que o joguem no chão e levantem outro. E isso não me parece uma solução capaz de ser “bancada” pelo clube.
Então qual a solução?
Ah, se eles acham que esse é o estádio da Copa de 2014, colocando mais camarotes, sala de imprensa, cobertura e apoio de parte da mídia, ok. Mas se as coisas derem errado, fazemos o quê? Vamos abrir a Copa do Mundo no Canindé?
Mas “péra lá”… parece que vai haver outra solução de arena, em ótimas condições ao lado do metrô, mas isso é assunto prá outro POST.
Saudações Alviverdes! E à Folha de São Paulo, algumas vezes criticada aqui, parabéns à matéria e à jornalista Mariana Bastos.
Leia mais:
Baixe aqui o “guia de segurança” em estádios da FIFA (em inglês, formato PDF);
Série Arenas Esportivas, no 3VV (14 posts, incluindo este);
Matéria da Folha de São Paulo de 21 de novembro (para assinantes do UOL ou da Folha);
Blog Morumbinão!.