Não ficou mais fácil, mas o clima será diferente em Montevidéu
Por Marcelo Moreira
A armadilha funcionou de novo. Um time superior jogou melhor em parte do jogo, amassou o adversário, chutou bolas nas traves e criou jogadas, ainda que no abafa. E perdeu de 3 a 0 a classificação dentro de casa preso a uma marcação forte e a uma defesa que se segurou como pôde.
O Athletico Paranaense teve méritos, utilizou bem o contra-ataque e bateu o Flamengo no Maracanã. Deixou o adversário jogar e viveu perigosamente no segundo tempo, mas está na final da Copa do Brasil contra o forte Atlético-MG. Tudo bem, contou com certa falta de inspiração e muito nervosismo dos cariocas, mas a estratégia de certo.
Ponto para os defensores de Abel Ferreira, que amarrou adversários que tinham mais posse de bola, como o São Paulo – vitória de 3 a 0 na Libertadores – ou que eram melhores tecnicamente, como o Atlético-MG (dois empates). O que esses resultados podem ensinar para a final da Libertadores.
O momento do Flamengo é ruim, com o técnico Renato Gaúcho ameaçado de demissão – entregou o cargo ao final do jogo contra os paranaenses, mas a diretoria recusou – e a torcida ensandecida xingando muito os jogadores. O encanto parece perdido, assim como elenco e treinador. E pensar que o time tinha organização tática e volume de jogo com qualidade na era Rogério Ceni, hoje no São Paulo…
Não, longe disso. Nem o Flamengo é o time desmontado e desestruturado como sugerem comentarista de TV e a torcida, nem o Palmeiras recuperou a confiança necessária de um futebol minimamente aceitável, como as três vitórias seguidas sugerem.
Os dois times ainda sofrem com desfalques e a irregularidade de seus principais jogadores. Carecem de uma melhor organização tática e de sistemas defensivos mais consolidados. O Palmeiras tem a terceira pior defesa do Brasileiro 2021; a do Flamengo toma três ou quatro em jogos decisivos. São muitos os problemas a serem corrigidos em apenas um mês.
O certo é que dá para melhorar um pouco – desde que as causas dos problemas sejam encontradas. Por que o Palmeiras caiu tanto de rendimento no Brasileiro? Por que teve de jogar tão defensivamente na Libertadores, contra os mineiros, jogando apenas por uma bola, contrariando a história e o retrospecto recente da época?
O Palmeiras também jogou dessa maneira, em 1999, sob o comando vencedor de Luiz Felipe Scolari. a diferença é que o time era recheado de craques, oscilava pouco e tinha fartos recursos técnicos para reverter resultados.
O atual time é disciplinado e tem conseguido cumprir bem as estratégias elaboradas por Abel Ferreira, que é um estudioso, mas não milagreiro.
Diante das atuais circunstâncias, e do aprendizado do trauma na Copa do Brasil, o Flamengo deverá chegar a Montevidéu mais pressionado, mas não necessariamente mais fragilizado. O fim do sonho do título da copa deverá tornar os cariocas mais focados, ainda que tensos. Jogar por uma bola talvez não seja uma opção.
E é bom Abel ter prestado a atenção no começo do segundo tempo do Flamengo contra o Athletico, em que o volume de jogo monstruoso quase reverteu o resultado.
O que parece é que o Flamengo perdeu parte de seu encanto na reta final da temporada, deixando o confronto único no Uruguai mais equilibrado. Parece mais cansado e menos inspirado, errando muito mais do que o normal.
Já o Palmeiras aparenta estar revigorado e menos tenso com a série de vitórias e a vice-liderança do Brasileiro. O futebol permanece feio e aparentemente insuficiente para ganhar o título continental, mas a situação era a mesma contra o forte Atlético-MG. A eliminação dos mineiros fortaleceu a convicção de Ferreira e mostrou que as circunstâncias não eram tão definitivas como muitos profetas vaticinaram.
A decisão não ficou mais fácil ou mais difícil com o Flamengo fora da Copa do Brasil. Abel sabe, desde sempre, que a partida será decidida em detalhes, mas esperamos que não conte com um segundo milagre de um gol salvador no final de um Breno Lopes ou de Deyverson inspirado.
Será necessário mais do que inspiração de Dudu, Veiga, Scarpa e Luiz Adriano para superar a técnica mais refinada e o melhor entrosamento dos cariocas. E é bom lembrarmos que Abel Ferreira ainda não venceu o Flamengo desde que chegou ao Brasil – já são nove jogos sem vitórias verdes contra o Flamengo.
É prematuro dizer que a situação ficou mais fácil ou melhorou para o Palmeiras ou melhorou por conta da crise no adversário. Mas é fato que o climão estão diferente, ou seja, aquele momento de favoritismo absoluto dos cariocas não existe mais. Como bem lembrou o nosso Jota Christiani, nem o Palmeiras é a porcaria que muitos acharam que era e nem o Flamengo é o rolo compressor que a maioria enxergava.