O curioso caso do Atlético MG

Por Luis Fernando Trednnick

Abençoados Palmeirenses, imaginem um time de cunho, digamos, mais regional do que nacional, com uma dívida de mais de um bilhão de reais, que jamais teve receitas no nível dos principais clubes do país e que, de repente, monta um dos elencos mais fortes – e caros – do país para ser campeão brasileiro e da Copa do Brasil em 2021 e que só não chegou à final da Libertadores porque encontrou um time absolutamente iluminado pela frente.

Sim, esse seria um interessante resumo do que aconteceu com o Atlético-MG.

A história nós conhecemos pela mídia: alguns torcedores milionários (ou seriam bilionários?) colocaram um caminhão de dinheiro no clube com uma estratégia bem definida:

  1. Financiá-lo temporariamente para montar um time de ponta;
  2. O time de ponta ganha campeonatos – o que aumenta a receita;
  3. O aumento de receitas permite ao clube manter o elenco forte – e caro – enquanto seu estádio está em construção;
  4. Vender o restante da participação no shopping Diamond Mall para ajudar a reduzir a dívida e a construção do estádio (quantos clubes são donos de um shopping?);
  5. Quando o estádio do clube ficar pronto suas receitas aumentarão (vide o Allianz), o que permitirá manter o time de ponta ao mesmo tempo em que obtém lucro nos balanços;
  6. Quando o time tiver os lucros no balanço, os torcedores milionários começarão a ser pagos e as dívidas serão reduzidas;

No papel o plano é simplesmente perfeito. Mas me contaram que os militares têm uma máxima que diz que “nenhum plano sobrevive ao contato com o inimigo”.

Vamos discutir se esse é o caso do Atlético-MG.

Receitas:

As receitas de 2021 são bem ruins de se analisar, pois parte das receitas de 2020 “migraram” para 2021 devido à pandemia, mas é o que é possível fazer.  No gráfico abaixo vemos à esquerda a evolução da receita do Atlético-MG nos últimos anos e à direita vemos as receitas dos principais clubes do país.

Nota 1: está cada vez mais difícil comparar as receitas dos clubes pois cada um contabiliza de um jeito diferente, então, para facilitar o entendimento considerei a receita bruta total

Nota 2: para o Atlético-MG não são consideradas as receitas com a venda de 50% do shopping ocorrida em 2020

Reparem que em um ano que o Atlético-MG ganhou os principais campeonatos nacionais ele obteve receitas pouco superiores a São Paulo (que ganhou somente o Campeonato Paulista) e Corinthians que não ganhou absolutamente nada no período em questão.

Então é um clube que mesmo sendo campeoníssimo não teve receitas tão grandes assim? Pois é.

Mas como ficou seu resultado em 2021?  Podemos ver isso no gráfico abaixo e comparar com os demais clubes:

Nota 1: o balanço do Atlético-MG aponta um “lucro” de 102 milhões em 2021, porém também contabiliza um “ganho com valor justo” de 240 milhões.  Esse ganho não é dinheiro que entrou no clube, é apenas a reavaliação do valor do fundo imobiliário que o Atlético-MG criou para viabilizar o estádio e do shopping, portanto não tem efeito prático em 2021 e não deve ser considerado no resultado do ano.

Ou seja, mesmo com os títulos e as premiações decorrentes deles, o Atlético-MG teve um grande prejuízo? Isso mesmo. 

Para entender a situação do Atlético-MG de forma simples.  A receita bruta foi de R$ 532 milhões, a receita líquida foi de R$ 494 milhões e apenas o gasto com o futebol foi de R$ 522 milhões. 

Se alguém aí pensou “a conta não fecha”, BINGO!

E é preciso lembrar que, se não errei a conta, pela Copa do Brasil, em todas as fases, a premiação foi de R$ 71 milhões e pelo título brasileiro foram mais R$ 33 milhões, ou seja, um total de mais de R$ 100 milhões com as premiações, sem contar as premiações adicionais dos patrocinadores.

Aqui podemos ver o tamanho da aposta do Atlético-MG: se o clube não ganhar ou a Copa do Brasil ou a Libertadores o custo do futebol se torna simplesmente inviável. 

E olha que ainda vamos discutir a dívida desse clube no próximo post.

Que bom que somos Palmeirenses!!!

Saudações AlviVerdes

Comments (3)

  1. O Curioso Caso do Atlético-MG IV: eu avisei – 3VV

    […] Curioso Caso …. I: a conta não fecha, […]

  2. O curioso caso do Atlético MG II: aposta alta – 3VV

    […] Clique aqui e leia O curioso caso do Atlético MG parte I […]

  3. Alberto Cunio

    Essa análise não só é brilhante do ponto de vista contábil (ressalvada a condição de todas informações serem corretas) como corrobora a obviedade que é: grandes investimentos no futebol exigem muita retaguarda financeira, coisa que pouquíssimos clubes sul-americanos podem se dar o luxo. E pelo visto o Galo não é um deles.

Comments are closed.