O Palmeiras corre o risco de voltar ao que era antes?

Por Vicente Criscio

Faltando quatro semanas para as eleições na SE Palmeiras, o destaque da semana que passou foi a entrevista da Presidente Leila Pereira ao Estadão onde afirmou “se a oposição vencer, Palmeiras volta ao que era antes de cair e não ganha mais nada“.

O candidato de oposição Savério Orlandi respondeu em seu perfil no Instagram.

A Presidente insiste em um estilo de campanha que deixa de lado o debate de ideias e tenta apequenar o seu oponente. Entretanto, ao invés de acertar o adversário, acerta exatamente a instituição em que ela está presidente e deveria proteger e respeitar. E aí erra feio!

O Palmeiras teve momentos difíceis em sua história. Todos nós palmeirenses sabemos disso. Mas teve muito mais momentos de glória. O apelido de “campeão do século” não foi por acaso. As Academias I e II foram anteriores à gestão atual e também não ocorreram por acaso. O time com maior número de títulos brasileiros foi conquistado ao longo de décadas, e os resultados pós 2015 foram uma pequena parcela que contribuiu no todo.

Assim, os assessores da campanha da Presidente poderiam sugerir uma postura construtiva – minha opinião, claro – e tentar mostrar o que foi feito de bom nesses três anos, além de mostrar planos, projetos e compromissos para os próximos três, caso vença. Mas não é o que acontece.

Ao não fazer isso, e usar de um discurso pejorativo contra a instituição (mais do que contra o adversário) a Presidente escolhe ignorar fatos básicos que dão a sustentação ao atual sucesso da SEP. Ou então demonstra no mínimo uma falta de compreensão do que foi construído ao longos dos anos anteriores à sua gestão e que hoje permite que o palmeirense (e a própria Presidente e sua Diretoria) desfrutem dos resultados.

Construção de capacitações

De fato 2012, citado indiretamente na entrevista, foi um ano muito negativo para a SEP. A queda naquele ano para a série B, logo após um título de Copa do Brasil ganho sobre o Coritiba, foi por uma consequência de erros da gestão daquele ano – onde Arnaldo Tirone era o Presidente.

Em 2013 o ex Presidente Paulo Nobre assumiu a presidência ganhando uma disputa com o então candidato Décio Perin*. Teve ali o começo de um difícil processo de reestruturação, com erros no início e acertos posteriores, e que levaram o Palmeiras a outro patamar nos anos que vieram.

Esta reestruturação, que a Presidente conhece bem, passou por uma renegociação da dívida (inclusive com aporte de recursos por parte de Paulo Nobre), a profissionalização de algumas áreas – financeiro e marketing, por exemplo – e o foco no desenvolvimento de uma infra-estrutura para o futebol (da base ao profissional) que foram os pilares de sustentação dos resultados que vemos hoje.

Esses pilares – aqui vamos chamar de capacitações ou ativos – foram construídos ao longo de quatro anos de dois mandatos de Paulo Nobre e tiveram continuidade nos cinco anos da gestão de Maurício Galiotte, apesar deste último ter praticamente desmantelado o equilíbrio financeiro que herdou de seu antecessor.

E quais foram estes ativos construídos nesse período? Podemos sintetizar em cinco pontos:

  • Equilíbrio financeiro
  • Categorias de base
  • Academia
  • Allianz Parque
  • Abel Ferreira

Estes “ativos” podem ser destruídas por um mau gestor? Sim, é possível. Mas no cenário de hoje é improvável. E na eventual vitória de Savério Orlandi, é impensável!

Apesar da baixa governança que vivemos hoje, responsabilidade da atual gestão que em nenhum momento se preocupou em reforçar, há processos na SEP que possuem quase que vida própria, como veremos a seguir.

Mas até para analisarmos de maneira objetiva se as palavras da Presidente são consistentes ou apenas um discurso equivocado (para sermos elegantes com a mandatária), vamos verificar se no plano de gestão do candidato da oposição, Savério Orlandi, estes ativos são reconhecidos como tal, e quais os compromissos do candidato sobre eles.

Começo pelas reestruturação financeira.

Busca do equilíbrio financeiro

Em 2013 o Palmeiras estava literalmente quebrado. Na segunda divisão, com receitas do ano que haviam sido antecipadas em anos anteriores, o clube não tinha capacidade de pagar suas despesas correntes e muito menos capacidade de investimento. Estava naquela situação em que “vendia o almoço para pagar o jantar”.

Paulo Nobre instituiu uma gestão austera, com corte de custos no futebol. Isso custou caro ao desempenho esportivo. O clube voltou para a série A ao final de 2013 nas mãos de Gilson Kleina, mas no ano seguinte, ano do centenário, ainda com poucos recursos para investimento no futebol, quase caiu novamente.

O então mandatário teve que colocar recursos financeiros próprios para alongar a dívida, sair da pressão financeira de curto prazo, ao mesmo tempo que tentava estruturar um time mais competitivo para a temporada de 2015.

Enquanto organizava a parte financeira corria em paralelo alguns investimentos na estrutura do futebol – que veremos abaixo. Em termos de elenco e comissão técnica, em 2015 veio Alexandre Mattos, substituindo uma ineficiente gestão de Brunoro. Com Mattos, vieram Zé Roberto e Dudu.

Na paralela a Crefisa batia na porta do Palmeiras para patrocinar. Sim, isso ajudou bastante o processo de reestruturação, ninguém duvida.

Mas não foi doação. Foi patrocínio, com retorno em exposição de imagem.

Paulo Nobre entregou a gestão no final de 2016 para Maurício Galiotte que se elegeu sem opositor, com equilíbrio financeiro e um time campeão brasileiro depois de longos anos de espera.

A gestão de Galiotte, considerado por alguns como a melhor de todos os tempos, foi desastrosa do ponto de vista financeiro. Alexandre Mattos contratou demais, acertou alguns e errou outros, e deixou um legado de contratos de jogadores com pouca utilidade, ruins e caros.

Mattos saiu no final de 2019, após muitas críticas por parte da torcida e da imprensa. Anderson Barros foi contratado com a missão de arrumar a casa do ponto de vista financeiro. Já era o segundo mandato de Galiotte e tudo o que o ex Presidente queria era salvar o caixa e sair de cabeça erguida. O ano de 2019 que se iniciou com Scolari terminou com Mano Menezes e um ano pouco proveitoso esportivamente e desastrado financeiramente.

O equilíbrio financeiro que Paulo Nobre havia deixado se perdeu, e até hoje gera sequelas. Para piorar, a gestão Galiotte/Mattos fez contratações usando recursos da Crefisa, a princípio declarados como verba de marketing e que no final transformou-se em empréstimo. Com nova dívida nas costas, e um fluxo de caixa negativo, o Palmeiras foi buscar mais empréstimos bancários.

Como essa conta foi paga? Com o valor de prêmios dos campeonatos conquistados entre 2020 e 2022 – Copa do Brasil e duas Libertadores – e principalmente com a venda dos direitos econômicos de uma geração de ouro que surgiu nas categorias de base.

Com vendas de mais de um bilhão de reais em quatro anos, Endrick e companhia ajudaram e ainda estão ajudando a cobrir o buraco financeiro que se originou naquela época. Pouco se falou sobre isso porque os títulos encobriram essa situação. Mas o Palmeiras hoje gera lucro e algum caixa por conta de suas categorias de base que renasceram em 2013 (leia o próximo tópico e entenda).

E qual a visão do candidato Savério Orlandi sobre o tema equilíbrio financeiro?

Veja abaixo a ambição declarada no seu plano de gestão, no capítulo 4) Objetivos Estratégicos. (O plano de gestão de Savério Orlandi pode ser baixado clicando nesse link).

Em outro capítulo, sobre Governança, novamente o assunto financeiro:

Vamos falar agora sobre um importantíssimo ativo gerado nos anos anteriores: as categorias de base.

Categorias de base, o motor de geração de craques

Lá em 2013, quando Paulo Nobre assumiu a Presidência, foi contratado o profissional Erasmo Damiani para dirigir as categorias de base do Palmeiras. Poucos conhecem esse nome.

Até aquele ano a base palmeirense mal gerava jogadores para o time profissional. Antes de Gabriel Jesus que surgiu em 2015-2016, apenas Vagner Love e Galeano – pois é – eram referências de jogadores que tinham sido revelados nos campos de Guarulhos.

Assim em 2013 iniciou-se então um processo de mudança dentro do CT de Guarulhos tanto em termos de equipe de profissionais quanto de infra-estrutura.

No início de 2015 Erasmo Damiani recebeu um convite para dirigir a base da CBF. Naquele momento já era Alexandre Mattos e Cicero Souza que comandavam o futebol palmeirense, e para substituir Damiani foram buscar João Paulo Sampaio no Vitória.

JP Sampaio continuou e melhorou o trabalho dos dois prmeiros anos. Coordenou o processo de desenvolvimento da base palmeirense, junto com outros profissionais, desde técnicos a psicólogos, nutricionistas a “olheiros”, e que permitiram ao Palmeiras ser hoje a equipe que mais gera jogadores da base dentre as equipes do futebol brasileiro.

Em entrevista à revista Piauí, em abril de 2024 (vale a pena a leitura), Sampaio comentou que em sua passagem o Palmeiras investiu mais de R$ 260 milhões. Mas trouxe R$ 1,4 bilhão de retorno ao clube. Porém, mais importante do que o retorno financeiro, foi o retorno esportivo. Jogadores como Danilo, Patrick de Paula, Gabriel Veron, Gabriel Menino, Vitor Reis, Fabinho, Naves, Vanderlan, Endrick e mais recentemente Estevão, e tantos outros, ganharam títulos! E os títulos ficam.

Portanto, para o Palmeiras “voltar ao que era” deveria sofrer uma hecatombe na sua gestão, e algum maluco (que felizmente hoje NÃO ESTÁ concorrendo à Presidência da SEP pela oposição) destruir um trabalho já consolidado dentro da base palmeirense.

O próprio candidato Savério Orlandi, que conhece muito bem essa estrutura, já discorreu em suas entrevistas sobre a manutenção de João Paulo Sampaio. Em seu plano de gestão, no capítulo 5.9.1, item v) está explícito a manutenção de Sampaio e seu compromisso de pensar no desenvolvimento da sucessão desses profissionais. Reproduzo abaixo.

Por sinal, o plano do candidato Savério possui, apenas para o futebol masculino da SE Palmeiras, 14 compromissos para sua melhoria tanto da base quando do profissional, com elementos que vão desde o desenvolvimento de atletas, internacionalização, capacitação, profissionalização de áreas de suporte, e até mesmo preparação para a pós carreira dos atletas. Seria interessante ver no plano de gestão para o próximo triênio da candidata à reeleição quais são seus compromissos com a SEP.

Academia, a excelência no centro de treinamento

Em matéria de junho de 2023 o ge.com mostava os diferenciais da Academia do Palmeiras, como é conhecido o centro de treinamento na Marquês de São Vicente.

https://ge.globo.com/futebol/times/palmeiras/noticia/2023/06/23/saiba-quais-inovacoes-da-academia-sao-diferenciais-para-abel-e-ajudam-o-palmeiras-a-economizar-milhoes.ghtml

Eu pessoalmente lembro de uma visita que fiz na Academia em 2013. Onze anos atrás não tínhamos a estrutura que temos hoje. Mas havia um projeto para transformar a Academia. Projeto esse que foi idealizado em 2007-2008, época que o candidato Savério Orlandi era diretor de futebol e este que vos escreve ajudava a diretoria de planejamento. Por diversos motivos apenas em 2013 o ex-presidente Paulo Nobre pegou o projeto na mão, fez melhorias, e implementou.

Paulo Nobre com apoio na época se não me engano da Ambev – por conta do programa sócio torcedor de então – iniciou a implantação do projeto (inclusive aportando recursos financeiros do próprio bolso).

Essa Academia, que faz parte da engrenagem do sucesso do Palmeiras de hoje em dia e é um ativo elogiado por profissionais do futebol e até mesmo rivais, não será desmontada, perdida, evaporada, no dia que a Presidente sair do cargo que ocupa.

Mas não é só isso.

Allianz Parque, um divisor de águas

O Allianz Parque, a arena palmeirense, é um divisor de águas em termos de história. Inaugurado em 2014, este projeto foi iniciado em 2007, na gestão Afonso Della Monica e onde Luiz Gonzaga de Mello Belluzzo era o diretor de planejamento. Foi aprovado com muitas batalhas internas, ceticismo de dentro e de fora do Palmeiras (claro, como sempre), e muita gente jogando contra.

Mas hoje o Allianz Parque está aí. E é parte desse sucesso do Palmeiras. Desde sua inauguração, o Allianz Parque foi o palco de 308 jogos (até a data deste sábado, 26 de outubro, Palmeiras 2×2 Fortaleza; dentro desse número, há uma partida cujo mando de campo não era do Palmeiras).

E nestes 308 jogos, em quase 11 anos foram arrecadados R$ 575,7 milhões. O público pagante nesse período foi de 8 milhões de torcedores. Entre 2022 e 2024 a média de torcedores é de 35 mil por jogo, uma impressionante média de 83% de ocupação. E mesmo antes da pandemia e antes da era Abel, o público pagante médio girava entre 31 e 32 mil torcedores por partida. Vejam quadro abaixo.

Assim podemos caracterizar o Allianz Parque como um divisor de águas em termos de receitas, em termos de presença do torcedor, e também porque impulsionou o Avanti. O programa de sócio torcedor tem um enorme apelo no fato de ser condição básica para haver prioridade de compra de ingressos.

É certo que nos últimos anos a relação com a WTorre era conflituosa, e estava há tempos em processo de arbitragem. A gestão de Leila Pereira anunciou recentemente o acordo do Palmeiras com a construtora, que dentre outras coisas irá pagar R$ 50 milhões à vista por conta de dívidas passadas além de ceder propriedades ao Palmeiras que podem gerar outras receitas. Sem conhecer os detalhes, apenas lendo na mídia sobre o acordo, é difícil avaliar se foi bom ou não. Mas o fato de encerrar o conflito e as duas instituições trabalharem juntas já é um importante passo.

Entretanto não se pode dizer que uma gestão diferente da dela colocaria em risco esse importante ativo para a SE Palmeiras e seu torcedores.

O candidato Savério Orlandi em seu plano de gestão promete um Allianz Parque com as contas separadas e estudar formas de ampliação da capacidade do estádio (capítulo 5.6 Marketing, Avanti e Torcida, item vi)

Em seus objetivos estratégicos, capítulo 4), mais sobre o Allianz:

Mais sobre o Allianz, no capítulo 5.1 a respeito de organização e profissionalização:

E por fim, um ativo relevante nesse processo, que sem ele talvez não tivéssemos realizado todas as conquistas, Abel Ferreira e sua comissão técnica.

Abel Ferreira e comissão técnica

Talvez essa seja o “ativo” mais “frágil” dentre todos. Primeiro, porque Abel e sua comissão não são eternos e um dia irão embora. Segundo porque aí sim, dependendo de quem tem a caneta na mão, a troca de técnicos passa a ser uma prática quase que leviana. Tá aí o Flamengo como o melhor exemplo para comprovar essa tese.

Mas olhando apenas para nosso umbigo, é importante olhar o passado anterior a Abel para relembrarmos como chegamos aqui.

Entre janeiro de 2017 e outubro de 2020, o ex-presidente Mauricio Galiotte, atual aliado da Presidente, teve como treinadores: Eduardo Baptista (aquele do “DIZ A FONTE!”), Cuca (o retorno), Alberto Valentim, Roger Machado, Felipão, Mano Menezes e Vanderlei Luxemburgo.

Sete treinadores em menos de quatro anos. Quase dois treinadores por ano.

Com a demissão de Vanderlei Luxemburgo, Abel Ferreira foi contratado e chegou ao Palmeiras no dia 2 de novembro de 2020. Praticamente quatro anos atrás.

O treinador português, até então desconhecido pelos brasileiros, não era a primeira opção do então Presidente Maurício Galiotte. Miguel Ángel Ramirez era a primeira opção. Mas recusou o convite.

Trecho da matéria de Danilo Lavieri no UOL em outubro de 2020

Fica difícil até imaginar se Ángel Ramirez aceitasse deixar o IDV no meio da temporada e viesse para o Palmeiras quando convidado antes de Abel. Onde estaríamos hoje?

O fato é que Abel chegou, viu e venceu. Abel e sua comissão técnica sem dúvida fazem parte dessa lista de “capacitações” ou ativos construídos ao longo dos últimos anos. O número de títulos que ganhou, a identificação com a instituição, os jogadores revelados, a comissão técnica obstinada por trabalho e pela excelência, fazem de Abel e sua equipe um ativo importantíssimo hoje da SE Palmeiras.

Abel já falou publicamente que tem um suporte grande da Presidente do Palmeiras e isso é bom! O treinador se sente seguro com ela no comando. Mas é profissional e se sentirá igualmente seguro de (eventualmente) ter um novo Presidente no clube que paga em dia seus salários. Além disso, Abel tem contrato até dezembro de 2025.

Este ativo ou esta “capacitação” pode ser destruída por um presidente irresponsável ou pouco competente? Sim. É provável? Não! E no caso do candidato da oposição, Savério Orlandi, é impensável!

Savério Orlandi já comentou em entrevistas anteriores que não conhece pessoalmente o treinador mas aposta em sua renovação e de toda a comissão técnica (além de citar igualmente Anderson Barros e João Paulo Sampaio). Portanto nesse tema o torcedor não precisa se preocupar com um eminente novo Presidente chegando, demitindo Abel Ferreira e contratando por exemplo, Gilson Kleina! ou pior…. a dupla Tite e Titinho!

Mas, mas, mas…. sempre existe um mas, um dia Abel Ferreira sairá do Palmeiras. Hoje em dia dificilmente teríamos um Ferguson (que ficou 27 anos no Manchester United) no futebol mundial e principalmente no futebol brasileiro.

E o que um bom Presidente deveria fazer? Preparar todo o departamento de futebol para i) formar novos profissionais que possam se desenvolver com a atual comissão técnica; e ii) quem sabe gerar dentro do Palmeiras os novos abeis, joãomartins, castanheiras, etc.

Então vou repetir o que publiquei lá em cima, do plano de gestão do candidato da oposição:

E estar sempre antenado no mercado. Para poder buscar, se necessário, um treinador que possa substituir o atual. Isso quando ele sair…

Mas o que realmente nos preocupa?

Há um tema realmente preocupante após a saída da Presidente: a capacidade do Palmeiras em gerar receitas.

As vendas de jogadores como Endrick, Estevão, além de Kevin, Giovani, Jhon Jhon, Danilo, e outros garotos, cobriram déficits de caixa em todos esses anos e no agregado mostram receitas imponentes. Porém quando retiramos essas receitas da venda de direitos econômicos, vemos a realidade.

Há uma estagnação nas receitas comerciais palmeirenses. Muito se fala no patrocínio master e a Presidente vem dizendo que não mais continuará com a Crefisa na camisa (esse é outro tema, ligado ao conflito de interesses, mas deixemos esse assunto pra outro momento).

Alguns “apostam” em alguma das bets para patrocinar o peito. No agregado – patrocínio master e outras propriedades – o Palmeiras poderia chegar a R$ 150 milhões por ano, muito acima dos anêmicos R$ 81 milhões (fixos), congelados desde 2019, sem reajuste.

Mas não é só o patrocínio Crefisa que é o problema. A estrutura de marketing palmeirense é hoje pouco eficiente. Não é profissional em sua gestão. Suas atividades estão concentradas nas mãos de um diretor estatutário, competente em sua área de atuação, sério, mas que focou naquilo que conhece bem: o sistema financeiro. Criaram o Palmeiras Pay, que dizem ser um sucesso, pois ganhou prêmio de marketing, etc. Entretanto no demonstrativo de resultados não é possível identificar a receita e a margem que o Palmeiras Pay gera para o clube, portanto é difícil avaliar qual seu impacto.

Por outro lado identificamos que de janeiro a setembro de 2024 as receitas do Palmeiras somaram R$ 906 milhões. Destes, R$ 443milhões (49%) são receitas de negociação de atletas.

Outros R$ 135 milhões (15%) são receitas de publicidade, patrocínio e licenciamento da marca. Uma média de R$ 12,7 milhões mensais. Guarde este número.

O amigo leitor do 3VV sabe quanto, por exemplo, o Flamengo gera de receita de marketing? Analisando o balanço do segundo trimestre do rival carioca, vemos que eles geraram R$ 142,5 milhões em seis meses em receitas de publicidade, patrocínio e licenciamento da marca. Em seis meses geraram mais do que o Palmeiras gerou em nove meses. R$ 23,8 milhões por mês. 58% a mais que a receita mensal palmeirense!

E por que isso é importante? Porque hoje rivalizamos diretamente com este clube e com as SAFs (estilo Botafogo e Atlético MG). E o que faz um clube vitorioso? Além de todas as capacitações citadas neste longo post, é preciso investir em elenco.

E como podemos investir? Gerando mais receitas!

Temos aqui um clube centenário, campeão do século, tri campeão paulista, bi campeão brasileiro, disputando todas as competições até as rodadas finais, com torcida em todo o Brasil e também internacional, com exposição de marca, mas sem um departamento comercial. Sem uma abordagem mais agressiva na busca de receitas. Sem uma postura criativa para gerar novas propriedades para comercialização.

Paradoxalmente a eventual saída da Crefisa hoje não seria um problema grave ao Palmeiras. Os valores que a patrocinadora paga ao clube poderiam ser realizados por outro parceiro. Entretanto, o sucateamento do marketing e a não existência de um departamento comercial, são preocupações que rondam na cabeça de quem conhece um pouco dos números e da estrutura econômico-financeira do nosso clube do coração.

Pra encerrar

A Presidente tem acertos**? Claro que tem! Em três anos sob sua gestão o clube conquistou títulos e isso ninguém tira. Mas o que também é cobrado de um gestor é o seu legado. Um dia todos nós não estaremos mais na posição que estamos hoje. Isso serve pro treinador de futebol tanto quanto para o Presidente de qualquer clube.

Portanto quando a Presidente provoca a oposição dizendo que “quando ela sair e a oposição assumir o Palmeiras volta a ser o que era” (de maneira pejorativa) podemos interpretar que a mensagem por detrás desta frase é que na sua gestão não há nada duradouro, perene, sustentável, e que poderá ser desfeito com uma simples canetada em apenas três anos de mandato de qualquer outro presidente que possa assumir no lugar dela. Inclusive um sucessor que seja do seu grupo político.

Vimos acima que, apesar de possível, não é assim tão fácil desmontar o que foi construído a duras penas. E vimos ainda que não é desta oposição que a Presidente está falando. Fica claro as intenções do candidato Savério Orlandi em seu plano de gestão e compromissos firmados.

Mas também nos parece importante que a atual Presidente e candidata à reeleição apresente seus compromissos. Que tenha, caso reeleita, o compromisso de construir um legado ou um projeto com visão de longo prazo, sustentável. Que implemente uma governança, para deixar a instituição blindada contra qualquer aventureiro que eventualmente um dia possa assumir essa posição.

E que, por favor, invista no marketing e em uma diretoria comercial, para pelo menos diminuir a distância que temos hoje de receitas com outros clubes. Mais conteúdo e menos festa e discurso.

O palmeirense agradece!

***

Concordam? Discordam? Como sempre digo, não tenho o monopólio da verdade, e este espaço é para opinião. Então comente aqui embaixo, sempre de acordo com as regras para comentários, se você concorda com a Presidente com os riscos de uma nova gestão. Ou não!

Saudações Alviverdes!

*Décio Perin, candidato em 2013 a Presidente do Palmeiras, faleceu nesse fim de semana. Nossos sentimentos à família e que Perin descanse em paz.
**Falamos nessa coluna exclusivamente sobre futebol, por conta da entrevista da Presidente. Mas temos ciência de que há ainda um clube social inteiro a se discutir em termos de plano de gestão e compromissos.

***

Leia mais

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+entrevista de Leila Pereira no ge.com

+o plano de gestão de Savério Orlandi pode ser baixado clicando nesse link

Comments (6)

  1. O maior medo do palmeirense é voltarmos a era negra. Se continuar da forma que está, caminharemos a passos largos para essa fase. É muito preocupante.

  2. Excelente post, como sempre. O Palmeiras ressurgiu e voltou ao que nunca deveria deixar de ser no início de seu segundo centenário, em 2015. Gostaria de saber quem das gestões anteriores a 2015 (exceção feita a 2013/14) teve alguma relevância na década 2015-2024.
    O Palmeiras precisou se livrar de inúmeras excrescências políticas (apesar de algumas ainda frequentarem as alamedas) para voltar a ser vitorioso. Ou seja, é imprescindível que novos nomes surjam para oxigenar nossa política. Pelas contas de Savério, ele estava “ativo” durante os dois rebaixamentos. Gestores desta época deveriam ser excomungados da política palmeirense.

  3. Excelente matéria! Foi possível ter uma visão geral da condição presente do clube e os caminhos que nos trouxeram até aqui.
    Quanto ao planejamento estratégico apresentado, de fato é bem completo e audacioso. Entretanto para implementação dos planos de ação decorrentes de cada estratégia será preciso muito trabalho duro e uma equipe de gestão profissional muito forte. Talvez a divulgação de algumas pessoas-chave que estarão envolvidas pra fazer tudo acontecer seja uma boa opção para fortalecer a confiança e atrair mais adeptos. Avanti Palestra!

  4. Perfeito meu amigo

  5. Rafael Sugiyama

    Excelente matéria e apresentação dos pilares desenvolvidos ao longo da última década. Gostei muito do plano do candidato da oposição. Uma pena faltarem insumos para compará-lo com a da atual presidente. Abs!

  6. Pinho – Bauru, SP

    Perfeita análise Criscio!!!

    Na torcida aqui pela vitória do Savério.

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