Opinão: vender x comprar em tempos de perder jovens craques
Por Vicente Criscio
Feliz 2023 a todos!
A saída de Endrick em uma transação que poderá chegar a R$ 340 milhões aos cofres palmeirenses gerou reações comuns nos torcedores, mídia, e mesmo aqueles que pouco acompanham o futebol: “não há o que fazer!”, disseram eles.
Pois é: é muita grana.
Danilo também foi. Dizem, até porque a comunicação do Palmeiras não se pronuncia sobre esse caso, que por R$ 110 milhões (20 milhões de euros) está indo embora. Vários veículos informaram. Nesse link tem a matéria do Terra.com.br/Danilo.
Danilo com 21 anos, alguns acham já “velho” (eu não acho); Endrick, uma jóia rara de 16 anos.
Qual o efeito disso?
Fico pensando se em 1957, Pelé, então um garoto de 16 anos, fosse vendido ao “Real Madrid” da época. Ficaria no time do Santos até 1959, poderia jogar a Copa de 58 e ser campeão mundial.
Mas qual seria a relação do brasileiro com o futebol caso Pelé fosse para a Europa com 18 anos e quem sabe talvez nem conseguisse jogar as próximas copas? Claro, porque se porventura o treinador da seleção da época tivesse arrogância e empáfia, talvez preferisse o Paquetá de então, ou um ex garoto da base do SPFC representado por empresário amigo. Vai saber…..
Mas continuando ainda nas hipóteses: o Santos teria tantos torcedores? O Brasil teria essa legião de apaixonados pelo futebol brasileiro? e teria torcedores fanáticos pela Seleção Brasileira e pelos times nacionais? (que aliás, dia a dia, ano a ano, vem diminuindo; fonte: Data3VV com apoio do DataCriscio)
E se fosse na nossa casa? E se Ademir da Guia, Leão, Luis Pereira, Cesar, Leivinha, saíssem do Palmeiras com 18 anos de idade, ou mesmo 21, quais seriam nossos ídolos daquela época?
Apenas um devaneio…..
Dá pra evitar?
Hoje em dia, com a estrutura do futebol brasileiro que se assemelha ao do velho brasil dos coronéis que ainda existe por aqui, a resposta é não. Uma estrutura do futebol do século retrasado, política, amadora na gestão mas profissional na pilantragem, essa estrutura do futebol (bem como a do país) apenas estimula que os jovens, quando estão com 8, 9, 10 anos dando seus primeiros chutes na bola com a chuteira, sonhem em ir jogar na Europa.
Aí um monte de empresários – alguns, esses sim, muito profissionais – se aproximam de seus familiares e antes de dizermos “hendecacampeão” o pai do garoto já armou contrato de gaveta com o empresário por alguma grana que pra ele faz diferença.
Com honrosas exceções, pai do Endrick é um deles.
Então é com pesar que ainda mantenho minha opinião que é muito difícil segurar esses jovens, porque cresceram com esse sonho, foram estimulados por empresários a irem para lá, e o futebol brasileiro (bem como o país) não oferece condições para eles permanecerem aqui.
Portanto, e sem complexo de vira latas, somos exportadores do pé de obra do futebol para os centros econômicos mais desenvolvidos, assim como a África.
Punto e basta!
E fazer o quê?
Aqui entra a competência, inteligência e capacidade de estrategizar de cada clube.
O Ituano, por exemplo, vai tentar desenvolver a base pra vender para o segundo ou terceiro nível da Europa. Outros pequenos, serão comprados por empresários, que farão uma SAF ou coisa parecida e vão investir na base com o mesmo propósito.
Clubes maiores, os chamados (por mim) “grandes regionais” possuem estratégia (aparente) híbrida. Há tempos que Internacional, Grêmio, Fluminense, Vasco, São Paulo FC, e outros, vendem seus jogadores jovens para pagar as contas. E vão lutando por um título regional e se distanciam cada vez mais da disputa do título nacional, exceção à Copa do Brasil, que permite algumas deformações.
O Athletico, do Paraná, segue um caminho parecido com esse. Red Bull Bragantino é diferente. Caso para discutirmos posteriormente.
O Flamengo? É um caso à parte. Definiu sua estratégia (novamente, enfatizo “estratégia aparente” porque sou mero observador) em vender os jovens e contratar jogadores mais maduros que por algum motivo não vingaram na Europa. Gabigol é um deles. Mais recentemente Gerson. E por aí vai. Destaca-se a capacidade que o Flamengo tem em vender bem seus jogadores. Vai saber qual a mágica. O mais recente é o ilustre desconhecido (por mim) João Gomes (Flamengo encaminha venda de João Gomes por R$ 100 milhões). Perdão pela fonte!
Além disso o Flamengo tem torcida e capacidade de gestão melhores que o Palmeiras (sorry, minha opinião). E um marketing bem mais competente o que o faz ser um clube com mais de R$ 1 BI de faturamento ano.
Claro, isso não apaga o passado da morte das crianças do Ninho do Urubu e nem as benesses governamentais passadas e presentes (Petrobras, BR, BNB) além do apoio sempre presente da Globo…. mas isso um dia acaba. Problema deles.
E o Palmeiras?
Boa pergunta! Não faço ideia!
Dona Leila, a Presidente, informava quando eleita que não faltariam investimentos para fazer o time forte.
Depois de vender (ou deixar sair sem retorno) – puxando rapidamente pela memória, sem dar um google – Danilo, Endrick (esse só vai embora em 2024), Scarpa (esse não era da base), Veron, Wesley – qual a estratégia? Contratar os “mais maduros” parece não ser o caso, uma vez que Abel disse que quer ainda jogador com fome de títulos e vontade de vencer.
As últimas aquisições – Bruno Tabata, Murillo, Jorge (que chegou e saiu), Jaílson, Navarro, Flaco López, Merentiel – podem dar uma pinta que a estratégia seja vender as estrelas e contratar jogadores como “apostas”. Afinal, com todo respeito aos contratados, apenas Murillo vingou e bem. Outros estão ainda na aposta (López, Merentiel) e outros já saíram (Jorge).
E Abel está falando, e não é de hoje, que necessita de reforços.
E aí entra a crítica de hoje (eu sei, tava demorando): se não há uma estratégia clara sobre o que trazer, qualquer um serve. Ou qualquer um NÃO serve.
Além disso: diferente dos clubes pequenos ou regionais, o Palmeiras (assim como o Flamengo) atingiu um nível que precisa de reforços para reposição e manter-se no TOP 2 brasileiro. Para isso precisa de RECEITAS. E cadê a competência em marketing? onde estão as inovações? banco digital? essa é a estratégia? Onde está a monetização da base de torcedores, onde está a produção de conteúdo, onde estão os novos parceiros de negócios do Palmeiras?
Falei um pouco sobre isso em outubro de 2022, numa coluna aqui no 3VV. Se quiser ver, clica no link.
E voltando sobre a estratégia base x contratações, comprar x vender,
Concluindo….
… não há muito mais o que se dizer. Ou o Palmeiras desenvolve uma estratégia clara de elenco e como trabalhar a base, mas consciente que precisa trazer reforços para serem titulares (e não apostas) para ajudarem inclusive no desenvolvimento desses jovens jogadores promovidos, ou vamos ficar nesse limbo entre vender um jogador e ficar com cara de “hora meu deus onde estão os meus biscoitos”.
E isso só se faz com competência e gente qualificada para tal!
Temos isso?
Saudações Alviverdes!
***
Vicente Criscio é conselheiro em 3o mandato da SE Palmeiras. E vai para o 4o mandato em fevereiro de 2023. Por isso se você for sócio e quer entender mais sobre o que faz um conselheiro e como eu posso ser seu representante no Conselho da SEP mande um Telegram para 11 91319 0630 e conversamos.
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