Opinião: a vida dos outros… Flamengo e Palmeiras

Por Vicente Criscio; colaborou Julio Moretti

Algumas lições que a vida me ensinou na minha vida profissional e pessoal ao longo de quase seis décadas:

  1. A receita do sucesso do passado não significa que será para o sucesso do futuro;
  2. O competidor também trabalha!
  3. É preciso ter coragem e ousadia pra mudar o que “parece” que está dando certo;
  4. Quem é o caçador hoje, se não ficar atento, será a caça amanhã!
  5. Se você não tiver humildade para reconhecer seus erros e fragilidades e buscar a mudança, mais cedo ou mais tarde você será vítima deles.

Eu teria outras, mas essas servem para a Opinião de hoje.

Lição 1: deitado em berço esplêndido

Anos atrás, o Palmeiras subiu o patamar do futebol. Com o Allianz Parque e as receitas de bilheteria, com uma boa receita de patrocínio Crefisa, e com a reorganização de sua dívida, o Palmeiras a partir de 2015 elevou a “barra” do futebol. Em 2018, quando chegávamos ao segundo título brasileiro (16-18) além da Copa do Brasil de 2015, comentei com um grande cacique das alamedas que o Palmeiras teria a oportunidade de ter a hegemonia do futebol brasileiro e sul-americano nos próximos 10 anos.

Bastava fazer as mudanças necessárias naquele momento de “paz” política e controle do Conselho e do COF, para se posicionar na frente dos competidores em outro nível. Em outras palavras, reconhecer erros e fragilidades daquele modelo e não acreditar que o sucesso daquele momento seria perene.

Não fez o que devia ter feito. Ficou enebriado com o sucesso recente achando que essa fórmula é perene.

Voltaremos a esse tema!

Lição 2 e 3: a vida dos outros!

Desde 2015 salvo melhor juízo o Flamengo começou a fazer a sua lição de casa.

Com um grupo de dirigentes que era do mercado, liderados por Eduardo Bandeira de Melo e Luiz Alberto Baptista, naquele momento aliados, montaram um time de executivos e políticos de mercado. Desenvolveram um plano – naquele momento, lá nos idos de 2015, enquanto o Palmeiras ganhava sua Copa do Brasil e rumava para ser Campeão Brasileiro em 2016, o Flamengo desenvolveu um plano para equacionar sua dívida e atingir R$ 1 BI de receitas.

Como eu sei disso? Basta dizer que eu sei. E quando me contaram láaaaaaa em 2015, eu fiquei com enorme pulga atrás da orelha: conseguirão?

Vejam a receita anual do Flamengo entre 2014 e 2021, em milhões de reais:

Fonte: Relatório SportsValue Finanças TOP 20 clubes brasileiros 2021; análises 3vv.com.br

De 2015 a 2021 a receita anual do Flamengo cresceu em média 17,6% todo ano, atingindo R$ 1,08 bilhão em 2021. Tem aí dentro receitas de tv, patrocínio, bilheteria, venda de jogadores, etc.

E agora vejam sua dívida, em milhões de reais:

Fonte: Relatório SportsValue Finanças TOP 20 clubes brasileiros 2021; análises 3vv.com.br

A dívida do Flamengo não apenas caiu em valores nominais – de R$ 698 milhões em 2014 para R$ 428 milhões em 2021 – como também a relação Dívida/Receita despencou de 2x (a dívida total do Flamengo era duas vezes sua receita anual) para menos da metade da receita (0,4 em 2021).

Ah, mas eles têm a Globo, têm a ajuda da arbitragem, trocaram treinador, queimaram os meninos do ninho…. verdade.

Mas os números estão aí. E não se pode dizer que faltou ousadia. Quando foram buscar os melhores jogadores e mantiveram esses jogadores, e fortaleceram a marca, e buscaram ganhar títulos, o retorno veio.

Lições 2 e 3: o competidor trabalha, colocou dirigentes competentes tanto na gestão, quanto nos bastidores, olharam o longo prazo, fizeram um plano e tiveram ousadia.

E o Palmeiras?

Foi de um amigo muito próximo que conhece bem as alamedas que li a explicação que sintetiza bem o que houve com o competidor Flamengo nesse período, enquanto nós olhávamos para o umbigo:

O turn point deles foi muito eficaz. Se você analisar como a Leila compôs a sua chapa, isso diz muita coisa. No Flamengo, quando compôs a ideia de reerguer o clube, de voar longe, o Bap, que organizou tudo isso, trouxe consigo executivos parrudos. Se vc olhar os vices do Flamengo hoje, tirando o Marcos Braz, são todos executivos rodados. É de fato uma diretoria profissional.
Do nosso lado, escolhemos quem? Veja nossos vice-presidentes. O Tarso talvez seja equivalente ao Marcos Braz. O resto nem se compara.
Colocamos nos cargos mais relevantes a tia da piscina, da patinação, etc.

Enquanto o Landim tá dia sim dia não fazendo lobby com a turma com a qual ele se relaciona (incluído o presidente da República) a Leila tá no café 1914, batendo papo com os de sempre, falando isso ou aquilo, e pensando em como dominar o COF e reduzir vitalícios…

Isso é um retrato indiscutível e definitivo sobre o tema.

Em 2020 San Genaro olhou pra gente pra trazer o Abel. Isso tem equilibrado as coisas até aqui. Mas ou o Palmeiras pensa no futuro ou nem São Abel nem San Genaro vão segurar nossa onda.

Lição 4: de caçador a caça

O Palmeiras será campeão brasileiro de 2022. As chances são enormes e isso é muito bom. Além desse, comemoramos outros dois títulos em 2022, Campeonato Paulista e da Recopa.

As receitas anuais cresceram mais de 20% ao ano, todo ano, de 2015 a 2021. E isso é bom!

Fonte: Relatório SportsValue Finanças TOP 20 clubes brasileiros 2021; análises 3vv.com.br

Então está tudo bem e por que estou falando do adversário carioca?

Não, não está tudo bem! As receitas de 2021, de R$ 910 milhões, estão “infladas” com os títulos da Libertadores – 2020 e 2021 – e não teremos essa receita em 2022. Além disso enquanto o principal adversário está em duas finais – Copa do Brasil e Libertadores, em 2022 – o Palmeiras está fora dessas competições e não terá o prêmio de campeão ou vice.

Portanto as receitas minguarão em 2022.

Enquanto isso as dívidas cresceram em 2019 e 2020, fruto da pandemia, mas já retrocedeu em 2021.

Fonte: Relatório SportsValue Finanças TOP 20 clubes brasileiros 2021; análises 3vv.com.br

A dívida palmeirense é semelhante à de 2015. A vantagem para o Verdão é que hoje ela é metade do seu faturamento de 2021.

Entretanto, o caixa não estava bem em 2022. Tivemos que fazer antecipações e essa dívida deve aumentar até o final do ano.

Ou seja, receitas em 2022 serão menores que 2021, dívidas serão maiores. O caixa apertado, com necessidade de antecipação de receitas e empréstimo bancário.

Mas isso tudo seria talvez o de menos…. se nossa Presidente tivesse – como Abel Ferreira – um plano. E capacidade de executar o plano, com profissionais e dirigentes adequados a cada função.

Só que não! Para não “quebrar o Palmeiras” (essa frase não é minha, é da Presidente logo após os discursos inflamados quando assumiu a tão sonhada presidência da SEP), não tivemos ousadia e fomos de caçadores a caça em 2022. De protagonistas a coadjuvantes em duas finais.

Lição 5, 4, 3, …. : humildade, mudança de curso, ousadia… o que esperar?

Aprender com os erros passados. Antes disso, é necessário reconhecer que errou.

Essa reflexão existe nas alamedas? No 1o andar do prédio administrativo? ou vamos continuar regurgitando que temos o melhor patrocínio do Brasil (mas não temos a maior receita de marketing), o melhor patrocinador (WTF???), o melhor blá blá blá….

Se no início de 2022, com números positivos – pelo menos de receitas e resultados – não podíamos fazer loucuras, poderemos fazer para 2023?

Teremos a devida humildade para saber reconhecer onde erramos para corrigirmos o rumo e não deixarmos a concorrência que está na frente descolar? e para não deixar a concorrência que vem atrás grudar no nosso retrovisor?

Essas reflexões pairam na minha cabeça, mas o mais importante: estão na cabeça de quem decide na SEP? Ou estamos ainda acreditando que o sucesso passado nos levará ao sucesso no futuro imediato?

Saudações Alviverdes!

Leia mais:

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Vicente Criscio é conselheiro em 3o mandato da SEP. As opiniões colocadas nas colunas do 3VV nem sempre coincidem com a opinião dos editores e colaboradores do site.

Comments (10)

  1. Análise da Arbitragem CAM 0x1 SEP 3VV

    […] Pós Jogo: CAM 0x1 PalmeirasPalmeiras e Cimed fecham parceria (no site do Palmeiras)SAF: a coluna de Cesar Grafieti está esplêndida. Leia lá e comente aquiOpinião do Criscio: a vida dos outros […]

  2. Ricardo Lucchesi

    Caro conselheiro,
    “Vicente Criscio é conselheiro em 3o mandato da SEP., sendo um excelente analista e muito bem exposto o comparativo com nosso rival mais próximo, é de se estranhar que Você como um formador de opinião, não faça espalhar essa sua visão pelas Alamedas da Sociedade.. Entendo que isso é um trabalho de formiguinha e não tenho noção do que é ser conselheiro.Até que ponto o futebol, que é um Grande negócio, ainda seja tratado de forma amadora pelos conselheiros que não possuam uma visão minima, sem cobrar o presidente a respeito do negócio que sustenta a Sociedade. Ainda mais sendo ela uma mulher do mercado financeiro, líder de mercado.
    Até quando ficaremos na mão desses conselheiros amadores ?

    • Ricardo obrigado pelas palavras. O ecossistema político do Palmeiras é algo que repele técnicos e atrai oportunistas e bajuladores. Por isso eu ainda insisto em um modelo 100% profissional e separado do clube social. Infelizmente muitos, a maioria, dos jovens conselheiros são picados pelo vírus da carteirinha e se deixam levar por essa bobagem de ter pequenos poderes. Então nem mesmo lutar ou pedir para votarem em novos conselheiros ou batalhar por novos nomes adianta. O que precisa é uma mudança profunda no modelo de gestão da SEP, onde eu por um instante acreditei que a Dona Leila era esse vetor de mudança. Ledo e quase que imperdoável engano da minha parte.

  3. CAM 0x1 SEP: traiçoeiro e mortal 3VV – Terceira Via Verdão

    […] Opinião do Criscio: a vida dos outros […]

  4. Primeiro Campeão Mundial 51

    Esse texto dá arrepios, exatamente porque parece que é isso mesmo: bumba meu boi, a não ser que a Leila tenha um plano mirabolante que nós não percebemos, o que me parece totalmente improvável.

  5. A total falência da imprensa – 3VV – Terceira Via Verdão

    […] Opinião: a vida dos outros […]

  6. Disse tudo Vicente. Infelizmente retrocedemos. Enquanto tivermos essa diretoria estagiária, os urubus nadarão de braçada. Imagine agora se eles fizerem o estádio. Nossa esperança é que o Nobre volte. Enquanto isso, nossa diretoria zzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzz e flashs.

  7. Pinho – Bauru, SP

    Perfeito e preocupante!!!

  8. Excelente texto, me da a impressão que só vamos ter uma mudança de direção quando passarmos um ano sem ganhar nada, ae essa Leila acorda, infelizmente gastamos mal de mais nas últimas contratações pagando caro em jogadores meia boca, por tudo que o Abel fez, pelos títulos acho ridículo esse tipo de contratações, falaram tanto do Mattos contratando jogadores ruins por preços altos, mas ultimamente tá a mesma coisa, é um absurdo pagar 50 m nesse lopez, levando em consideração que jogadores como arrascaeta, Pedro e gabigol foram contratados ae na faixa de 70-80 milhões, pelo menos uma contratação desse nível tínhamos que ter por ano, a cada ano o plantel fica mais fraco, não dá pra entender

  9. Parabéns pela análise , lembrando que a atual presidente, fraudou documentos da Secretaria do clube , que a tornaram elegível, ao cargo de Conselheira , com anuência de Mustafá , e dos já conhecidos parasitas , o ex presidente, Maurício, inclusive alterou o contrato em vigor , com a ” patrocinadora ” , prejudicando a Entidade Alviverde, trazendo a tona uma relação promíscua , que altera números de uma dívida que terá fim em alguma data distante , lembrando que o COF , está em silêncio, omisso e delinquente, pois o Reino Feudal da Rua Palestra Itália , mantém vassalos obesos e idiotas sorrindo , pelas migalhas ofertadas .

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