Opinião: Abel tem um plano? temos um plano para Abel?
Por Vicente Criscio
No último domingo, dia 4 de agosto, Abel Ferreira completou 3 anos e 8 meses de Palmeiras. Enumerar os títulos que Abel ganhou nesses 44 meses de clube seria perda de tempo: o leitor palmeirense sabe muito bem isso.
Mesmo assim, uma sucessão de jogos ruins, insistência com jogadores que não têm mais a simpatia de parte da torcida, e uma sequência de derrotas inédita na era Abel, mudou completamente o clima. Os grupos de Whatsapp parecem fritadeiras entre haters e lovers. De Abel Pardal a “vaza Ríos“, os herois de ontem são os vilões de hoje. O time que era admirado há um mês, hoje é criticado pela mídia, gera euforia nos torcedores rivais, e até os próprios torcedores palmeirenses – alguns, é verdade – não colocam mais fé.
O que mudou?
Abel não desaprendeu. Não deixou de ser o treinador que trabalha incansavelmente. A comissão técnica é a mesma. O elenco, ainda é o mesmo, com algumas baixas por negociação (Endrick), e com algumas novas contratações, até recentemente elogiadas por todos – Felipe Anderson, Maurício, Giay.
Então qual o diagnóstico?
Falando de longe, sem acompanhar um mísero treino, sem inside information, apenas um mero torcedor especulando (mais um) podemos listar eventos que tiraram o time da normalidade.
- Contusões: Abel citou na entrevista coletiva do pós jogo contra o Internacional o número de jogadores afastados por contusão ou ainda em processo de recuperação. Piquerez (não joga mais esse ano), Mayke, Murillo, Estevão, Bruno Rodrigues (contratado esse ano fez poucas partidas e contundiu-se), Zé Rafael.
- Jogadores em má fase: seja pelas contusões, pelo excesso de jogos, ou porque estão com a cabeça em propostas do mercado externo (isso é o que se pode abstrair das falas de Abel), alguns jogadores passam por uma fase ruim. Rony, Veiga, Marcos Rocha, Richard Ríos e o próprio Zé Rafael (citado acima, mas que aparentemente também teve proposta e o Palmeiras não quis negociar).
- Efeito Dudu: não se sabe se por conta do imbróglio que o próprio jogador se meteu – negociação com o Cruzeiro – ou se a recuperação da lesão é mais lenta do que se esperava, o jogador que era considerado o grande reforço para a metade da temporada não consegue fazer boas partidas. Vai voltar a ser o que era? Pode ser! Mas quanto tempo vai levar?
- As novas contratações ainda não vingaram. Felipe Anderson foi a grande sensação nesta janela. Mas ainda não desempenhou o que se espera. Pode ser o tempo de adaptação. Pode ser a posição onde Abel o colocou. Maurício, contratação cara junto ao Internacional, também ainda não decolou. Giay, poucas partidas. Rômulo, praticamente não jogou, e só Abel pode responder porque. Lázaro, vem jogando e alguns acham que fez ótimas partidas, e outros acham mediocre. E Caio Paulista. Mas neste caso os torcedores concordam sobre seu desempenho.
- Abel: acabou a magia? acabaram-se os planos?
Sobre Abel, um capítulo a parte.
Abel Ferreira tem um plano?
Muitos atribuem a Abel Ferreira a grande ou totalidade da responsabilidade pela queda de desempenho do time. Jogadores mal escalados, em posição errada, o não aproveitamento de Rômulo, a insistência com Rony, um monte de laterais em campo, falhas na cobertura (ironicamente, nas laterais), são as principais críticas que consigo elencar aqui. Alguns chegam a sugerir que os jogadores estão boicotando o treinador.
Tem razão a torcida?
Na minha opinião, como tudo na vida, a resposta está no meio. Abel tem errado mais que acertado e ele reconhece isso. Mas insiste que tem o respeito dos jogadores e da Direção. Em sua última coletiva novamente insistiu nas mudanças que teve que fazer pelas contusões além das propostas do mercado externo que balançaram a cabeça de alguns atletas.
Abel é antes de um treinador de futebol um gestor de elenco. Difícil acreditar que perdeu o elenco. Mas o ser humano é sempre surpreendente e pode ter uma ou outra figura no meio de um elenco de 30 a 40 jogadores (garotos da base incluídos) que são candidatos a laranja podre no cesto.
Existe? É possível. Mas na minha opinião, pouco provável.
O que parece mesmo é que o treinador está no que chamamos de “burnout“. Estressado. Basta ver seu olhar, suas entrevistas. Não é de hoje. Sempre foi bastante duro nas entrevistas mas ultimamente tem estado (aparentemente, claro, e olhando aqui de longe) mais triste ao mesmo tempo que de saco mais cheio com a mediocridade de perguntas e de ataques pessoais.
E estando ou não em “burnout“, Abel não está em boa fase. Pelo menos as escalações não estão funcionando.
Contra o Internacional, apesar do resultado não muito favorável, o time voltou a finalizar ao gol. De acordo com o Sofascore.com, o Palmeiras acertou cinco finalizações no gol do Inter. Nas três partidas anteriores – Flamengo, Vitória e Fluminense – tinha feito menos que isso, quatro finalizações ao gol no total. Veja quadro abaixo.
Conclusão: conclusão?
Não sei se dá pra concluir algo. Dá pra se falar o óbvio, mas que muitas vezes na emoção não falamos nem vemos.
- Não há bem que sempre dure nem mal que nunca termine. O futebol brasileiro não é (ainda) hegemônico. Nenhum time ganhará sempre (como o Bayern de Munique fez na Alemanha) nem haverá polarização apenas entre dois times (como na Espanha de Real e Barça). O Palmeiras deixará de ser a sensação em algum momento. A gente apenas torce que esse tempo demore a chegar, e quando chegar, que passe rápido.
- Há um desgaste natural desse elenco e do próprio treinador. A mudança do elenco parece inevitável e isso tem que ser encarado como uma fase em que dificilmente o Palmeiras ganhará títulos. O Flamengo de 2024, favorito a tudo (de acordo com alguns), não ganhou nada (repito, NADA) em 2023. Portanto, paciência é a palavra.
- Abel erra, e quando erra deve ser criticado. Mas não pode ser unicamente responsabilizado pelo mau momento. Todos ganham, todos perdem. E não faz o menor sentido uma caça às bruxas nesse momento, nem ao elenco, e nem ao treinador.
Alguns chegaram a comentar nas redes sociais sobre a saída de Abel. Insanidade. Se uma reformulação for necessária, ou ainda na improvável hipótese de jogadores insatisfeitos, a receita (mais difícil, mas a mais correta após 44 meses do treinador e comissão técnica à frente do time e ganhando muitos títulos) é simples: troca-se o elenco, mas não o treinador.
E sobre isso, ou sobre tudo isso, pra encerrar, vou colocar um texto quase que na íntegra, que recebi em um grupo de Whatsapp, de nosso colunista de momentos incertos, alcunha Santino Corleone.
Segue o texto, onde concordo em 100%!
Discordo em demitir o Abel primeiramente porque sou conceitualmente contra demitir treinadores ao longo da temporada. O balanço deve ser feito ao final da mesma. Além disso, Abel é possivelmente um dos maiores ídolos da nossa história e, dados os simbolismos do futebol, jamais deveria sair pela porta dos fundos (como fizeram com o Felipão e como quase aconteceu com o Dudu). Abel precisa encerrar o ciclo quando chegar o momento e sair com honrarias e festa.
Mas… mais do que isso… eu realmente acho que o problema não é o Abel. Ele é parcialmente responsável, mas não é a causa dos maus desempenhos… Ontem a coletiva dele (que foi muito boa) deu pistas que já coloquei aqui: a janela de transferência está aberta, propostas chegam e a cabeça dos jogadores fica bagunçada… tal qual aconteceu ano passado, quando fomos eliminados pelos trikas na Copa do Brasil com uma postura muito parecida com a atual.
Claro que não são são as transferências as responsáveis, estamos vivenciando uma reformulação de elenco (tardia na minha opinião) com chegadas e saídas de atletas. Além disso, o nível subiu com os rivais se reforçando muito bem.
Se o Palmeiras for eliminado das Copas (é o mais provável HOJE, mas tudo pode mudar) e não pegar sequer G6 no Brasileiro, eu ainda assim renovaria com ele (Abel) para mais um ciclo – desde que ele tope se comprometer a ficar até 2027… Abel é o melhor treinador no futebol brasileiro, disparadamente. Já deu resultados aqui. Por que mudar? Desgastou com o elenco? Troque-se alguns jogadores mais insatisfeitos e sequimos adiante.
Ou seja. É só isso! Ou tudo isso… na minha opinião e na de Santino, claro.
Saudações Alviverdes! Que venha a Green Wednesday!
***
Leia mais no 3VV
+Análise da arbitragem de Wagner Magalhães
Comments (7)
Ademir Divino, Primeiro Campeão Mundial
Eu estava com certa confiança em uma partida de superação do Palmeiras hoje e a oportunidade de assistirmos uma classificação histórica, porém admito que com essa escalação a minha expectativa nesse jogo reduziu bastante.
Ver os péssimos Rony e Caio Paulista de titulares é de uma piada de mau gosto do Abel Ferreira e sua comissão com os torcedores, principalmente aqueles que pagarão ingressos caros no Allianz hoje.
Que uma eventual desclassificação seja o começo de uma reestruturação no clube, começando pela demissão imediata do Anderson Barros e a derrota da madame agiota Leila Pereira nas eleições do clube no fim do ano.
Ronaldo
Também olhando de binoculo, acho que essa turbulência é por uma série de fatores, dentre eles, óbvio, a janela de transferência para a Europa, mas principalmente, ainda estamos limpando os resquícios do caso Dudu/Cruzeiro. Diversos foram os erros, de todas as partes, mas tratando-se de gestão, infelizmente quem está na direção não pode errar como foi.
Fazendo um exercício rápido de empatia, não seria sequer necessário ser um jogador amigo do Dudu para se se colocar no lugar dele diante da entrevista da nossa Presidente. As colocações dela, embora concorde com a posição, possivelmente criaram nos outros jogadores a sensação de “somos apenas mais um”, ou ainda, “comigo um dia vai ser igual”. Dudu vacilou feio e agora precisa arcar com as consequências, mas a Presidente deveria tb saber medir as palavras, principalmente se elas tiverem efeito sobre os demais.
Já o Abel, como foi muito bem colocado no texto, acho sim um grande gestor, e agindo como tal, sempre assume a responsabilidade e é quem da a cara pra bater. Comete erros, como todo ser humano, mas tem o principal para a função, que é a determinação e a preocupação em acertar.
Tomara que tenhamos ele no comando por mais 26 anos.
Ademir Divino, Primeiro Campeão Mundial
Escalação ideal para o decisivo confronto de hoje contra o nosso Eterno Vice da Libertadores 2021:
Weverton; Mayke, Gustavo Gomez, Murilo e Vanderlan; Aníbal Moreno, Fabinho, Raphael Veiga e Felipe Anderson; Estevão e Flaco Lopez.
Caso o Estevão não possa começar jogando, a melhor formação seria com o esquema de três zagueiros com a entrada do Vítor Reis e o Richard Ríos começando no lugar do Fabinho.
O time precisará começar a partida abafando o cheirinho e tentar fazer um gol logo nos primeiros 20 minutos. Caso isso aconteça, a torcida no Allianz vai pegar fogo e o ambiente vai tornar-se propício a uma virada histórica nesse confronto. AVANTE PALESTRA!
Paulo
Parabéns pelo texto ponderado e assertivo, Vicente! Como disse o Abel em sua última coletiva, após o jogo contra o Internacional, “É nós momentos ruins que identificamos quem de fato está ao nosso lado!”.
Diogo Belotto
Eu compactuo com essa ideia de manter Técnico e Comissão, principalmente estes que são tão vitoriosos e trabalhadores, se acertaram por quase 4 anos, o que os impede de continuar acertando? Fase ruim é coisa de momento, o trabalho a longo prazo é o que importa. Alex Ferguson ficou por 26 anos no United, ganhou 13 Premiers e 2 Champions, depois que saiu o time nunca mais foi o mesmo. Às vezes me pergunto: o que será do Verdão quando o Abel sair? Espero de verdade (mas duvido muito) que a presidência tenha um planejamento adequado pra quando isso ocorrer, pois já falei e continuo falando, todos esses títulos que ganhamos nestes 4 anos são por mérito principal do Abel, duvido que qualquer outro treinador conseguiria tanto com esse elenco meia-boca que temos.
Donato, o Lúcido
Um grande amigo meu, que é Colorado, costuma dizer que o S.C. Internacional é o clube que mais odeia seu torcedor. Pelo visto, o Palmeirense é o torcedor que mais odeia seu próprio Clube. O Palmeiras, pela primeira vez em sua história, conquistou títulos de primeira prateleira por 5 anos seguidos – 20/21/22/23/24 – em um total de 11 conquistas. No esporte, como na vida, ganha-se e perde-se. Infelizmente, com o advento das redes sociais, a maioria das pessoas, que não sabem utilizar os recursos de comunicação com sabedoria, precisam sempre estar “por cima”, e se utilizam do clube pra se vangloriarem. Caso algo saia errado, o tribunal das redes sociais já entra em ação, para condenar.
Um dia, este ciclo findará, Abel passará, assim como passou Brandão, Felipão, Ademir da Guia, Evair, Jair Rosa Pinto, etc…
O mais inteligente a se fazer, e que é responsabilidade da Direção do Clube (Presidente, Diretor de Futebol, etc…), é ter pronto o planejamento para que a transição seja rápida.
lito
Vicente, como sempre certeiro em seus comentários. Concordo plenamente. O problema é que estamos entrando na onda da “imprensa marrom” que quer fazer com que percamos o Abel. Errar todo mundo erra. Outra coisa, eu acho que tem jogador descontente sim. O time não poderia ter caído tanto de rendimento, como caiu. O Abel é ídolo, tem que renovar sim. Os descontentes que sigam o seu caminho. Fica portuga.