Palmeiras e o ano de 2024: ano novo e problemas velhos?

Por Vicente Criscio

Retornando das férias, esta coluna encontra um Palmeiras eliminado da Copinha (sem problemas, superestimaram os meninos que eram muito jovens para a competição; segue o jogo), três contratações – veja na seção contratações do 3VV o balanço até aqui -, e alguns dias para o início do Campeonato PAulista 2024 (esse merece um post à parte que será feito até domingo).

Timevom também a Presidente do Palmeiras, Leila Pereira, em mais uma coletiva midiática, em mais de duas horas na última terça feira, dia 16 de janeiro. Apenas para jornalistas mulheres.

E eu que achava que já tinha visto de tudo em termos de entrevistas de dirigentes do Palmeiras.

Resumo da entrevista

Sobre a entrevista, se espremer bem, tem pouco conteúdo relevante. Senão, vejamos:

  1. O mais importante foi dito: o contrato do treinador Abel Ferreira e sua comissão técnica foi renovado até o fim do ano de 2025. Isso permitirá o time ter Abel no banco no mundial. Ótima notícia! Ponto positivo!
  2. Sobre a renovação do patrocínio: falou que irá fazer uma concorrência para definir o patrocinador para o período de 2025 a 2027. Mas disse que só fará isso quando encerrar esse patrocínio. Não explicou portanto como vai conseguir fazer uma concorrência tão rápida, uma vez que o contrato termina em dezembro de 2024. A não ser que aceite passar meses sem a receita de patrocínio. Também não explicou como pretende resolver o tema de conflito de interesses.
  3. Sobre o atual patrocínio: duvidou sobre o contrato de patrocínio do Corinthians. E disse ser contra a confidencialidade. Nesta quinta-feira, dia 18, o jornalista Danilo Lavieri informa que teve acesso ao contrato. Clique aqui e leia.
  4. Sobre contratações, novamente a Presidente desvia do assunto e fala dos outros. Pediu para os jornalistas perguntarem aos jogadores dos times adversários o que acham de ficar sem receber salários. Deselegante…
  5. Falou mal da WTorre, depreciou o Allianz Parque (vai virar o Coliseu de Roma) e fez a boiada alegre mais feliz.
  6. Mais uma vez usou o chavão “Quanta verdade vocês podem suportar?”.

Foram mais de duas horas de entrevistas, com perguntas superficiais e respostas no estilo que estamos acostumados.

Repercussão

Boa parte dos torcedores com quem conversei gostou da entrevista. Gostam dessa postura agressiva e ao mesmo tempo altiva. Também elogiaram que desta vez ela estava mais tranquila.

A conquista do Campeonato Brasileiro de 2023 deu uma acalmada nos mais acalorados palmeirenses. A reação do Palmeiras e o desastre (prá eles) da campanha do segundo turno do Botafogo salvou um ano de frustrações com a Copa do Brasil e Libertadores. Ah, mas ganhamos o Paulista…. grande coisa…

Quem acha que está tudo bem e curte essa postura, este tipo de entrevista, não está prestando atenção no todo, não está vendo os sinais. Há mais coisas entre o que os palmeirenses veem e a Rua Palestra Italia do que pode estar escrito em nossa vã filosofia.

Preocupação de alguns….

O palmeirense “comum” (não é pejorativo), aquele que vai no Allianz, ou assiste jogos em casa, acompanha o Palmeiras na mídia ou nas redes sociais, e comemora vitórias e xinga nas derrotas, nesse momento está tranquilo. Título de Campeão Brasileiro estampado no peito e uma final da Super Copa pela frente.

Lembram que no início de 2023 parte da torcida criticava a falta de contratações. E no final de 2023 comemoramos mais um título importante.

Entretanto, aquele palmeirense que está mais por dentro do Palmeiras, seus números, sua situação financeira, a gestão atual, a política do clube, está mais preocupado.

Temos muitas críticas à atual gestão, que se não forem corrigidas, podem destruir de vez uma vantagem competitiva que outras gestões (Paulo Nobre e Maurício Galiotte) levaram anos para construir.

Estou exagerando? Talvez. Mas se algumas práticas, ações, atitudes, da atual gestão palmeirense não mudarem, teremos problemas graves no Palmeiras no médio e longo prazo. E não falo apenas politicamente nem economicamente, mas esportivamente!

Quais críticas?

As principais críticas – construtivas, diga-se de passagem – a essa gestão dizem respeito aos planos de longo prazo, ao marketing e à Governança em prática atualmente no clube.

Vamos a elas.

  • Por mais que a Presidente negue, há um enorme conflito de interesses na relação comercial (patrocínio) entre Palmeiras e patrocinador. Além disso, os órgãos que fiscalizam querem ter acesso aos contratos, mas estes não são divulgados aos principais órgãos do clube. E quem cobra isso publicamente sofre algum tipo de retaliação.
  • O Palmeiras não está crescendo nas suas receitas de marketing. A causa aparente é a perda de profissionais do ramo. Regredimos e estamos pagando um preço por isso.
  • A camisa do Palmeiras está perdendo valor para os clubes concorrentes. Estamos perdendo patrocinadores importantes, por exemplo a CIMED, que tinha enorme potencial no Palmeiras, mas surpreendentemente está saindo.
  • O Palmeiras não tem um projeto de longo prazo. Não há um projeto para valorizar seus ativos nem sua marca. Não há um projeto de internacionalização, ou de inovação das mídias, ou ainda para atrair novos parceiros comerciais. Não há um projeto para o clube de campo. Não se preocupam com a longevidade da SEP. Implementaram o Palmeiras Pay, ligado ao mercado financeiro, única área onde parece termos alguma expertise. Muito pouco.
  • As instituições do Palmeiras perderam força. Conselho de Orientação e Fiscalização não orienta nem fiscaliza. E o Conselho Deliberativo, exceto por algumas dezenas de conselheiros, se transformou em um órgão que apenas valida o que a Presidente quer.
  • A parceria com a WTorre vai de mal a pior. Culpa da WTorre que não paga o Palmeiras, é verdade. Entretanto, de certa forma, a Presidente detratou a própria marca e o Allianz Parque quando afirmou na entrevista que em breve o estádio seria comparável ao coliseu romano. Certas coisas não se fala abertamente, nem que se pense assim. A Presidente é responsável por preservar a marca e seus ativos. E também é responsável por buscar uma solução ao caso WTorre. E não pega bem brigar em público com a construtora.
  • Financeiramente o Palmeiras não gera caixa. É um daqueles curiosos casos de fazer lucro econômico mas tem geração de caixa negativa. Nas reuniões de conselho o Diretor Financeiro trata o tema com normalidade, dizendo que essa é a prática do futebol prasileiro. E, aparentemente, a solução adotada é vender as jóias da base. Uma geração vencedora e que será liquidada antes de ser campeã pelo time profisisonal.

Este último ponto, sobre o financeiro, justiça seja feita, vem desde a gestão Galiotte. Abel Ferreira ganhou a Libertadores de 2020 outros títulos relevantes que vieram posteriormente. Isso gerou uma receita extraordinária de premiação. Mas ainda assim a conta não fechou.

Por isso o clube vem fazendo antecipações de receitas futuras para pagar as contas do presente. E é por esse motivo que o Palmeiras precisa vender mais do que comprar. Sem reforços e um elenco qualificado, dependemos de Abel Ferreira e seus planos.

E é aí que deveria entrar a gestão e o seu marketing para gerar novas fontes de receitas.

E para encerrar, peço desculpas à Presidente pelas críticas abertas. Mas todas elas são baseadas em fatos. E quanta verdade esta gestão pode suportar?

Sobre 2024….

Até agora Abel Ferreira com seus “planos” conseguiu superar as carências do elenco. Melhor dizendo: os planos de Abel Ferreira funcionaram em alguns casos e em outros, não! Contra o Boca, fomos eliminados.

Nem sempre o treinador vai fazer o seu milagre. E sua cota pode estar acabando. Afinal os rivais estão chegando. Seja financeiramente, seja tecnicamente, seja em termos de elenco. O maior rival nesse momento está à frente, nas receitas e na qualificação do elenco.

E teremos ainda a saída do jovem Endrick. Jogará até o meio do ano. Quem vai substituí-lo?

O ditado “prefiro ser feliz do que ter razão” é apropriado aqui. Espero estar errado. Completamente errado. Mas só saberemos disso no final da temporada de 2024. E teremos alguns sinais até a metade do ano, quando os campeonatos mais competitivos estarão decolando.

Mas eu, aqui, fazendo apenas um prognóstico, estou preocupado com o ano de 2024, que começou com os mesmos problemas de 2023.

Saudações Alviverdes!

Comments (4)

  1. Paulistão 2024: a pré temporada mais bem paga do futebol 3VV

    […] de janeiro de 2024 Opinião do […]

  2. Concordo Vicente. O ponto positivo a ser atribuído a “presidenta” é a continuidade do portuga. Tomara que se estenda por muito mais. Por outro lado, como sempre dito aqui no 3vv, a administração atual se “esconde” atrás do sucesso do portuga e das condições deixadas por Paulo Nobre e Galliotte. Principalmente o Nobre. Também acho que determinados assuntos não podem ser expostos, o que cria munição para a imprensa marrom.
    Falta ainda contratar um 9 e um 10. Vamos aguardar para ver o que vai acontecer. Mas o futuro é ?????

    • Uma pena que quando você pôde fazer alguma coisa, decidiu por votar para extender o mandato do Galiote, permitindo a chegada da Leila.

      E qual o nome da oposição que será lançando candidato a presidência?

      Além de uma situação terrível, temos uma oposição que é boa com textão. O nome do candidato já deveria ter sido lançado. O dia que textão resolver alguma coisa, o Palmeiras estará em boas mãos.

      PS: parabéns, foi a primeira vez que vi você escrever uma coluna sem passar pano paro os assassinatos no ninho do urubu. Uma evolução

  3. Pinho – Bauru, SP

    Compactuo da sua preocupação Criscio. Administração inerte… até quando?!

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