Para reflexão: custa caro manter um time no topo!
Crédito da imagem, Cesar Greco/divulgação Palmeiras
Por Vicente Criscio
Analisar uma derrota dolorosa como a da última terça-feira, requer tempo para ser mais racional e menos emocional. Por isso decidi escrever somente quase uma semana depois da fatídica terça feira, dia 26.
E lendo e vendo e ouvindo muitos torcedores palmeirenses, nos grupos de whats, nos programas esportivos, nos podcasts, há uma completa falta de consenso (e às vezes de bom senso) quanto às razões de praticamente termos jogado no lixo a chance de um tricampeonato brasileiro, o que seria mais do que um prêmio de consolação pelo ano “ruim”.
Ok ok… antes das críticas, ainda temos chance, eu sei. Enquanto há bambu há flecha…. enquanto há vida há esperança…. aqui é Palmeiras…. etc etc etc…. concordo com tudo e acompanharei atentamente, torcerei como sepre, e secarei bastante o time de bairro, até o último minuto da rodada da próxima 4a feira.
Dito isto… leia até o fim para entender meu ponto de vista.
Por que perdeu…. perdeu por quê?
Perdeu porque o Botafogo foi mais eficiente e fez 0x1 quando tinha tomado oito finalizações (duas delas com amplas chances de gol) e finalizado zero contra Weverton. E depois fez mais dois gols enquanto o Palmeiras descontou já nos minutos finais.
Ah…. mas o escanteio…. a expulsão do Marcos Rocha.
Óbvio que os “erros” de arbitragem alteraram o resultado da partida. Um árbitro “bom” não teria dado nem o primeiro e nem o segundo escanteio que foram os vetores do gol que mudou a história da partida.
Marcos Rocha, com todo respeito, foi “burro” em reagir daquele jeito. Mas é difícil falar de fora, enquanto dentro de campo o jogador está com a adrenalina a mil. Deu chance pro azar (ou pra má intenção) e foi expulso.
O resto é história.
Ah sim… perdeu também porque o Botafogo, através do seu dirigente, montou um time pra ser campeão. E apagar o papelão que fez em 2023. Teve ambição. Quando viu no meio do ano que os jogadores que tinha contratado para a temporada 2024 não estavam funcionando, aproveitou a janela e reforçou pra valer seu time.
Elenco forte. Treinador bom! Bastante conversa fiada na imprensa pra influenciar CBF e arbitragem… Vontade de vencer…. fez diferença, pelo menos, por enquanto, na Libertadores.
E se fosse diferente?
Se fosse diferente, e o Palmeiras tivesse ganho (ou mesmo empatado) na última terça feira e colocado uma mão no tricampeonato, estaríamos todos aqui comemorando e bradando: como esse grupo é cascudo; como Abel é “fodão”; e como o Palmeiras é gigante!
E não discutiríamos o que deveríamos ter discutido lá atrás, talvez no final de 2023, que o elenco palmeirense precisava de uma mudança forte. E reforço. Reforço pronto.
Nosso ano perdido na verdade foi em 2023. As duas eliminações, da Libertadores e da Copa do Brasil, por dois times com orçamento muito abaixo do nosso, já deveriam ter sido um sinal claro de que algo estava errado. O título brasileiro de 2023, depois de uma enorme pipocada do Botafogo, encobriu os problemas de elenco e os erros de escolhas de Abel.
E agora, apesar das chances matemáticas do tricampeonato brasileiro de 2024, estamos escancarando os mesmos problemas.
Escolhas e estratégias
Como o Palmeiras se preparou para a temporada de 2024? Minha opinião, a coisa vem lá de trás. Poderíamos puxar desde 2022, quando iniciamos o ano com o “bi” consecutivo da Libertadores e cheios de confiança.
Os últimos minutos da partida contra o Chelsea foram pra esquecer, mas a linda festa da torcida e o “acaso” de um pênalti nos minutos finais da prorrogação deixaram o palmeirense “orgulhoso” da postura do time. Mesmo com Navarro e Atuesta em campo, os reforços prometidos para o Mundial.
Ao final de 2022 começamos a ver o mesmo filme. Como a Diretoria, a Presidente e a Comissão Técnica se preparavam para o ano de 2023:
Entre fins de 22 e início de 23 perdemos peças chave. A saída do volante Danilo foi anunciada em janeiro de 2013. Antes, Gustavo Scarpa também tinha dado Adeus. Um pouco antes dessas saídas serem formalizadas, o que fazia a direção palmeirense? “Monitorava” o mercado (abaixo print da matéria de novembro de 2022 no ge.com).
Veio 2023. Ganhamos o Paulista e o bicampeonato consecutivo Brasileiro. Não se pode desprezar esse título. Dudu se machucou e ficaria quase um ano fora dos gramados. Endrick pegava firma como titular no segundo semestre e liderou o time, apesar da pouca idade. A recuperação no Campeonato Brasileiro veio nas últimas 10 rodadas.
E mesmo diante de toda a dificuldade e eliminações que doeram no coração de quem realmente é palmeirense, antes mesmo do título consagrado no final de 2023, o discurso era o que vemos abaixo (print da matéria da espn.com de outubro de 2023).
Quem veio em 2024?
Antes de tudo: não penso que estamos em terra arrasada. Nem acho que treinador tem que sair, e que tem que mudar tudo.
Nada disso!
E também não se pode negar que o Palmeiras gastou dinheiro em 2024 em suas contratações.
Aníbal Moreno, jovem, 24 anos, foi o melhor! Foi anunciado em dezembro de 2023. E pelos padrões, foi até que “barato”. US$ 7 MM, na época, R$ 34 MM, mais bônus. Excelente relação custo/benefício. Abel chegou a comentar em uma das entrevistas coletiva: “veio com um ano de atraso“…. por que será que demorou tanto? E quanto custou essa demora? Deixa prá lá….
Quem mais? Maurício, mais jovem ainda que Moreno, 23 anos. Foi a segunda melhor contratação da lista. E a mais cara! 10,5 MM de euros. Ou R$ 62 MM na cotação da época. Foi uma contratação na janela do meio do ano, ou seja, quando alguém percebeu que os reforços do início do ano não tinham vingado. Não se pode dizer que aqui houve uma boa relação custo/benefício. Pelo menos por enquanto…
Outra jovem promessa e que também veio no meio do ano foi o lateral Giay, 20 anos. US$ 7,5 MM. Mais caro que Aníbal Moreno. Com Marcos Rocha e Mayke para a posição. Mas não vingou ainda….
Veio também Felipe Anderson… negócio de ocasião. Livre da Lazio, pretendido pela Juventus, o jogador não custou “direitos econômicos”. Mas deve ter tido luvas generosas. 31 anos, contrato até dezembro de 2027. Também no meio do ano…. chegou em julho. Em tese esse já seria um jogador pronto pra ser titular.
Além destes, vieram em 2024: Caio Paulista (tínhamos Vanderlan e Piquerez para a posição), Bruno Rodrigues (jogou pouco, contundiu-se e está até agora se recuperando) e Lázaro (atacante, por empréstimo) e Rômulo (este ainda está subindo a montanha do Abel e não tem jogado).
No balanço…. jogadores jovens, com pouca experiência, 20 a 24 anos, exceto por Caio Paulista e Felipe Anderson.
Mas e o ataque?
O curioso é que nenhum nome de peso foi contratado para substituir Dudu (contundido em 2023) e Endrick (que sairia na metade do ano de 2024 para o Real). Tínhamos apenas Estêvão, 17 anos, recém promovido. Craque, sem dúvida. Mas peso demais para um garoto….
E quem mais? Ah…. tínhamos Flaco López…. e Rony.
Claaaaaro…. é fácil falar agora, dirá o atento leitor. Mas quando fazemos esse breve diagnóstico, olhamos as datas de contratação, vemos a idade dos jogadores, voltamos no tempo e vemos as entrevistas da Presidente sobre a sua estratégia de contratações (não queremos jogadores aposentados em atividade) pode-se concluir algumas coisas.
E antes que eu cometa uma injustiça, o treinador Abel Ferreira tem sua parcela de responsabilidade nisso. O senso comum diz que o foi consultado pela Diretoria ANTES de fecharem todas estas contratações. Se é que não partiu dele e sua comissão técnica a indicação.
Mas qual a conclusão?
É possível sermos campeões ainda esse ano? Claro que sim, a matemática está aí pra provar que isso pode acontecer.
É provável? Infelizmente hoje, 1o de dezembro de 2024, 19h37m, não. Não é provável. A probabilidade maior é do Botafogo ser campeão. A estatística está aí pra provar isso.
Portanto, independentemente das rodadas 37 e 38, toda essa ladainha da minha parte é pra concluir, ou trazer a reflexão, ou provocar o debate, com o seguinte resumo: este papo de não gastar com jogador experiente e que chegue pra ser titular não deu certo!
Ou ainda: custa caro colocar um time no topo. E custa mais caro ainda manter um time no topo.
Tem que se contratar, e contratar bem. Mesclar jovens jogadores (Aníbal, Maurício, …) com jogadores já prontos (quais mesmo?). Estes custam caro. E podem dar certo e podem dar errado. Mas se quem escolhe for um bom profissional, com boas ferramentas de scout, a chance de acertar é maior que errar.
Só pra se ter uma ideia…. Luis Henrique, do Botafogo, custou 20 milhões de euros. Ou 2x o Giay. Quanto o LH entregou para o time de Textor? E se quiser pesquisar, basta ver os outros que acabaram de colocar a medalha de campeão da Libertadores no peito.
É imperativo que dentro da SEP todos que influenciam ou decidem sobre esse assunto reconheçam que o modus operandi para formar elenco não funcionou em 2023/2024. E que mudem sua forma de “planejar” e contratar jogadores. Que tragam mais jogadores prontos (e portanto, caros) do que apostas “com ótimo custo benefício”.
Porque, se não mudarem essa maneira de trabalhar, teremos um 2025 muito parecido com 2024.
Repito: não acho que estamos em terra arrasada. Nem tem que se mandar todo mundo embora. Mas tem que se manter o Palmeiras no topo, como tem sido há alguns anos. E isso custa caro, requer coragem, ambição e apostas.
O diagnóstico tá claro e aprende quem quer. E quem tem humildade pra aprender com os erros…
Saudações Alviverdes!
Comments (4)
Donato, o Lúcido
Infelizmente, o ano da SEP foi contaminado pelas eleições presidenciais realizadas. Muito foco pra agradar o associado – ivete sangalo, jota quest, noite do halloween, dia das crianças com distribuição de brinquedos, noites da pizza… e pouco foco no futebol.
Certamente, a postura da diretoria influenciou negativamente a postura da comissão técnica, que parece resignada, e junta se à receita, um elenco claramente envelhecido e alguns até acomodados. O resultado é esse. Eliminação precoce nas copas e desempenho abaixo no Brasileirão.
Se não mudar rapidamente a postura, teremos, certamente, um 2025 pior que 2024. E quem tem que liderar a mudança, é a Dona Madame Leila Pereira.
Diogo Belotto
Exatamente! Agora com as SAFs e os (bi)milhões de dólares/euros entrando no futebol brasileiro, o time que não investir ficará do meio da tabela pra baixo. Estar no topo requer investimentos. E outra, Estevão está de saída, quem virá pro lugar do garoto? Pq sem ele o time atual do Palmeiras é medíocre.
mario
Assino embaixo.
lito
Concordo plenamente. Porém, está na hora de uma renovação no elenco. Nota-se que muitos estão acomodados.
Primeiro, trazer aquele Abel de volta. Aquele que brigava na beira do campo, mostrava ambição (assim como o técnico do Botafogo). Esse Abel paz e amor não vira;
Segundo, na minha opinião: Muito obrigado Weverton, Marcos Rocha (Meu Deus), Caio Paulista, Gabriel Menino (meu Deus), Zé Rafael, F Anderson (veio passear), Dudu (vá para o Cruzeiro);
Terceiro, o Hulk queria ter vindo para o verdão, teríamos ganho do Chelsea com um pé nas costas, mas sabe-se lá porque não veio (até sabemos);
Quarto, chega de flash, flash, flash e zzzzzzzzzzzzzzzzzzz;
Olha o que o presidente do Botafogo fez. Campeonato se ganha com times bons e reforços a altura de nossa tradição (até os gambás são exemplos disso).