PROFISSIONALISMO JÁ!

POR DOMINGOS ZAINAGHI

Sempre fui contra a profissionalização dos árbitros de futebol. A arbitragem é praticada como uma segunda (ou terceira) atividade de seus membros. São advogados, vendedores, contadores, militares, corretores de seguros, enfim, uma gama de profissionais que buscam uma remuneração extra, uma forma de sair do anonimato ou, ainda, como recentemente assisti num programa esportivo na televisão, a declaração de um árbitro que afirmou que para ele a atividade era um passatempo.

Pelo pouco tempo dedicado à atividade de árbitro, pensava que a profissionalização, entendida esta como um a profissão com dedicação exclusiva ou ao menos a principal de seu exercente, seria um desperdício de tempo e talento, já que um árbitro pode apitar no máximo 8 partidas num mês. O que fariam no restante do tempo?

Diz a Lei n. 9.615/98 (Lei Pelé), que: Art. 88. Os árbitros e auxiliares de arbitragem poderão constituir entidades nacionais e estaduais, por modalidade desportiva ou grupo de modalidades, objetivando o recrutamento, a formação e a prestação de serviços às entidades de administração do desporto. Parágrafo único. Independentemente da constituição de sociedade ou entidades, os árbitros e seus auxiliares não terão qualquer vínculo empregatício com as entidades desportivas diretivas onde atuarem, e sua remuneração como autônomos exonera tais entidades de quaisquer outras responsabilidades trabalhistas, securitárias e previdenciárias.

Logo, os árbitros não têm vínculo empregatício nem com clubes nem com federações. Aliás, a Justiça do Trabalho tem invariavelmente julgado improcedentes ações de árbitros que requerem direitos trabalhistas contra federações, o que deixa claro o caráter autônomo da atividade. Os árbitros não recebem salários, mas sim taxas previstas em regulamento próprio, que variam conforme a classificação em quadro específico.

Explicando, se um árbitro é do quadro da FIFA, sua taxa é maior do que aquela paga a um que não seja da FIFA. Sócrates, o ex-jogador de futebol e não o filósofo, uma vez disse que ele era radical até o momento em que mudava de idéia. Este é o meu caso no tocante a este assunto. Mudei de idéia, e entendo que seria salutar à arbitragem o profissionalismo de seus membros. Acompanho futebol desde os oito anos (estou com cinqüenta, meu Deus!), e posso afirmar que críticas aos árbitros sempre existiram, mas nunca como agora. O que será que está ocorrendo?

Os erros de arbitragem são inerentes à atividade, pois não é nada fácil dirigir uma partida de futebol. Basta experimentar apitar um inocente jogo entre amigos no fim de semana para se saber a dificuldade que é tal atividade, além do risco de perder os amigos. Nos últimos anos os árbitros nem são mais tão vaiados quando adentram ao campo de jogo como ocorria no passado. O torcedor talvez tenha percebido que isso não tem a mínima graça, ou tem dó do coitado, ou sei lá o quê. Árbitro processando judicialmente atletas, dirigentes e jornalistas, tem sido constante; clube protestando oficialmente contra árbitros também ocorre com frequência.

Tenho notado ainda que os árbitros não têm exercido sua autoridade, mas sim um autoritarismo dentro de uma partida de futebol. Gritam com jogadores e técnicos, como se estes fossem seus filhos ou subordinados (aliás, nem nestes casos se justificariam os gritos). Basta uma simples reclamação de um jogador quanto a uma marcação com a qual não concorde, para que o árbitro lhe aplique um cartão amarelo. Dificilmente vemos um árbitro sereno, pois a maioria tem um semblante de ansiedade e irritação durante uma partida.

Com relação aos técnicos, especificamente, basta uma reclamação para que os árbitros (alguns) deem seu show ameaçando expulsar, ou, pior do que isso, em alguns casos “mandando calar a boca”, em total falta de educação e de respeito. Ainda que correndo o risco de estar errado, minha avaliação deste momento da arbitragem no Brasil, é que os árbitros são autoritários por falta de uma melhor e mais acurada preparação técnica, incluindo aqui o aspecto psicológico para a atividade, pois quando alguém é talhado para uma profissão, está é um prazer e consegue despertar o respeito à sua autoridade sem ser autoritário.

Em postos de comando como é bom ver seu ocupante exercendo-o com autoridade e serenidade. Um policial, um professor, um gerente, enfim, aqueles que têm autoridade em razão da função, quando estão no cargo por vocação a autoridade aparece sem maiores problemas e sem sinais de autoritarismo. Entendo que a profissionalização da arbitragem seria uma saída para a atual crise da mesma. Sim, afirmo que é uma crise que se vive atualmente na arbitragem brasileira, em razão do quadro aqui demonstrado. Com os árbitros dedicando-se somente à arbitragem, tendo aulas e cursos e preparação física contínua, com um quadro de carreira pré-concebido, e com pessoas que realmente sejam apaixonadas pela atividade, o esporte só teria a ganhar, atraindo aqueles que realmente queiram se dedicar à profissão. Inclusive poderia ser uma especialização dentro dos cursos de educação física, e, ainda,a criação de cursos de pós-graduação, ou seja, uma carreira profissional e acadêmica, como todas as outras atividades.

Domingos Sávio Zainaghi.
Presidente da Comissão de Direito Desportivo da OAB/SP.
Apresentador do programa Direito Desportivo em Debate, da TV Justiça
e colunista esportivo da Rádio Justiça. Advogado e jornalista.

Comments (10)

  1. Danilo Cersosimo

    Prezado Domingos, excelente artigo!
    Também defendo a profissionalização da arbitragem – sem ela sempre seremos refens dos vícios da politicagem do futebol nacional.
    A profissionalizaçaõ não será a cura de todas as chagas, mas pode melhorar bastante o quadro.
    abraço e parabens!

  2. Fernando Talarico

    rogerio..
    tudo isso??
    se o arbitro FIFA apitar 4 jogos ele ganha mais de 11MIL…
    CBF com 4 jogos no mes ganha mais de 7MIL
    e tem jornalista q fala q eles ganham pouco

  3. Olha talarico, eu sei que pra fifa é R$ 2.800,00 e R$ 1.800,00 pela CBF agora da FPF eu não sei.

  4. Fernando Talarico

    antes de eu dar minha opiniao…
    alguem sabe as taxas que os arbitro recebem??
    FPF:
    CBF:
    FIFA:
    valeuu

  5. Olha este assunto da arbitragem tambem já esta complicado, toda vez é a mesma ladainha e ninguem faz nada. E a bagunça vai continuar ainda por muito tempo.

  6. Marco Túlio de Vasconcelos Dias

    #4 bem lembrando. Tem mtos “torcedores e conselheiros” lá no STJD !! ABSURDO

  7. marco antonio nishimura

    Concordo e apoio o texto e comentários! Precisa profisionalizar também os tribunais desportivos, colocando pessoas sérias e não “torcedores e conselheiros” de determinados clubes!

  8. Marco Túlio de Vasconcelos Dias

    Concordo com ele. Faz tempo q defendo a profissionalização dos árbitros. Isso parece ser a melhor solução para a crise na arbitragem. Mas também devemos colocar pessoas melhores na comissão de arbitragem, uma vez q Sergio Correa é uma piada e nao tem seriedade, nem competencia para exercer o cargo de chefe da Comissão de arbitragem no Brasil. A menos que os árbitros sejam realmente ruins ou burros ou sejam mal-intecionados, ainda há uma salvação para essa ‘bagaça’.

  9. Lucélia Batista de Almeida

    Primeiramente, eu gostaria de elogiar o colunista pelo tema escolhido. É um tema que comumente vemos e discutimos, mas ficamos sempre na mesmice.
    E gostaria de frisar essa última parte:
    “Entendo que a profissionalização da arbitragem seria uma saída para a atual crise da mesma. Sim, afirmo que é uma crise que se vive atualmente na arbitragem brasileira, em razão do quadro aqui demonstrado. Com os árbitros dedicando-se somente à arbitragem, tendo aulas e cursos e preparação física contínua, com um quadro de carreira pré-concebido, e com pessoas que realmente sejam apaixonadas pela atividade, o esporte só teria a ganhar, atraindo aqueles que realmente queiram se dedicar à profissão.
    Inclusive poderia ser uma especialização dentro dos cursos de educação física, e, ainda,a criação de cursos de pós-graduação, ou seja, uma carreira profissional e acadêmica, como todas as outras atividades. ”
    EXCELENTE! Meus parabéns! Concordo em gênero, número e grau!
    Pra mim, a ÚNICA saída pra essa vergonha que vemos por parte da arbitragem, é a profissionalização dos árbitros. Os que vemos hoje em campo, são profissionais de outras áreas fazendo aquilo, como você mesmo disse, por passatempo. Mas se o futebol é profissional, pq os árbitros não TEM que ser?
    Só com a profissionalização dos árbitros é que isso pode mudar…com cursos, dedicação, preparação física e técnica, pra consequentemente melhorar a atuação HORRIVEL dos arbitros que vemos hoje em dia.
    E também concordo que poderia vir a ser uma especialização do curso de Ed. Física ou pós-graduação do mesmo.
    Se o jogador de futebol, ou o técnico ou a comissão técnica, tem toda a preparação antes de atuar e são vistos como profissionais, com o árbitro DEVE ser do mesmo jeito. Sim, DEVE, e não apenas poderia. Só assim para acabar com toda essa palhaçada de Gaciba’s e Seneme’s que vemos hoje em dia.

  10. Eduardo Forastiero

    Eu acho que os arbitros precisam de uma profissionalização sim. Eles só apitam 8 jogos por mes, mas os jogadores tb soh jogam 8 jogos por mes.
    O condicionamento fisico dos atletas mudou mto. O nosso ultimo jogo foi um exemplo do que pode ser um jogo de futebol hj em dia, se o arbitro não for mto bem treinado tecnica e fisicamente, vai assistir ao jogo a 20-30 metros d distancia.
    Acho até que com a profissionalização, os arbitros poderiam ficar ainda mais amadores. Talvez, alguns que fazem por passatempo, desistam da profissão e apenas pessoas realmente interessadas aceitem as condições de trabalho e os salarios oferecidos. Pessoas mais comprometidas, mais preocupadas em fazer o seu trabalho bem para ter uma melhor graduação que poderia render um pouco mais no fim do mes.
    Só espero que quando começar a profissionalização, os instrutores não sejam o Marcilia, o Coelho, etc.

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