Quais as vantagens de uma abertura de capital?
Por Luís Fernando Tredinnick*
Palmeirense, depois do marco histórico que é a aprovação da Arena,
espero que após esse dia 30 de agosto possamos ter outras datas tão
marcantes quanto esta! Quem sabe uma dessas datas seria a abertura de
capital do clube?
Como vocês puderam ver é importante manter
salvaguardas na abertura de capital, ou casos como o do Manchester City
podem ocorrer por aqui. Gente dos Emirados Árabes comprou o clube do
ex-primeiro ministro da Tailândia, Thaksin Shinawatra. No meio do
caminho, aproveitaram e compraram o passe do Robinho. Podemos imaginar
o que gente da Tailândia e dos Emirados Árabes têm a ver com um clube
de futebol inglês? Particularmente sou contra a compra de clubes
brasileiros por estrangeiros ou mesmo que uma pessoa possa comprar um
clube de futebol.
Mas, depois de apontar os problemas e questões
pertinentes a uma abertura de capital, chegou a hora de falar sobre as
vantagens existentes. Sim, existem muitas vantagens potenciais, mas
resumi no quadro abaixo aquilo que acredito ser mais relevante:
São dos pilares fundamentais: a profissionalização e a transparência
A profissionalização dos times de futebol é o primeiro passo necessário para uma abertura de capital.
Os
principais cargos do clube devem ser preenchidos por profissionais, com
experiências relevantes no mercado, com metas claras e definidas.
Atualmente
muitas das pessoas que ocupam posições importantes dentro do clube não
conseguem dedicar integralmente seu tempo os clube e raramente são
cobrados pelo seu desempenho contra metas objetivas. Ainda que muitos
sejam realmente apaixonados pelo clube a falta de tempo, ou a
inadequação ao cargo/responsabilidade, ou os dois, faz com que seu
desempenho seja baixo.
Talvez a maior mudança seja mesmo o
estabelecimento de metas: o profissional que está lá sabe que resultado
deve atingir e essas metas são do conhecimento de todos. Isso requer a
existência de um planejamento macro para o clube e o detalhamento desse
planejamento para todo os outros departamentos do clube.
Uma
meta para o diretor das Divisões de Base pode ser o aproveitamento de
dois jogadores da base no time principal. Então o diretor deve
trabalhar para atingir essa meta, garantindo que exista um
desenvolvimento adequado dos atletas, de acordo com os padrões de
exigência do clube.
Evidentemente que mesmo empresas
profissionais podem falir, mas as chances de profissionais terem bons
resultados é infinitamente maior do que a dos amadores.
A transparência é um grande sonho que temos no futebol brasileiro.
Durante
anos culpamos os dirigentes dos clubes por acordos obscuros que lesam
os clubes. Durante anos a imprensa acusou que “empresários ficaram
ricos com a compra e venda de jogadores”.
Honestamente falando, muito pouco se sabe DE FATO sobre o que acontece nos bastidores.
Escutei
no Estádio 97 no dia 26 de agosto o seguinte comentário do Sombra: o
Juan Figger está para o São Paulo assim como a Traffic está para o
Palmeiras (a frase foi mais ou menos essa) . Estavam discutindo sobre a
venda de um zagueiro onde apenas 20% seria do clube. No caso do
Palmeiras, é fácil saber quais jogadores pertencem à Traffic e quanto
eles custaram. No caso do pessoal do Jr. Leonor, é fácil saber quais
jogadores pertencem ao empresário? Alguém sabe quanto eles custaram?
Que tipo de contrato existe entre o clube e o empresário?
Um bom
exemplo de transparência é o balanço do Internacional. Lá para cada
jogador vendido aparece o valor pago, quem pagou e que parte pertence
ao Internacional. Seria tão difícil fazer isso ser obrigatório para
todos os clubes?
A transparência não seria apenas a divulgação
sobre a compra e venda de jogadores, mas também sobre a estrutura do
clube e a utilização dos recursos dentro do clube.
A divulgação
da estrutura permite que todos saibam quem é responsável por que
atividades dentro do clube. Quem é responsável pelas parcerias? Quem é
o responsável pela manutenção do estádio? Quanto custa a manutenção?
Os
acionistas do clube demandam mais informações sobre a utilização do
dinheiro do que as atualmente divulgadas (afinal, é o dinheiro deles
que está em jogo) e acompanham o que acontece com as finanças do time.
Assim
seria fácil comparar os custos e receitas entre os times e verificar
quem é mais eficiente. Assim, os acionistas podem demandar uma melhor
gestão do clube com base em fatos e estabelecer metas! Por exemplo,
imagina o acionista olhar o jornal e descobrir que os custos
administrativos (tudo aquilo que não é ligado ao futebol e à
comercialização) do Corinthians são de R$ 10 milhões/ano e o do
Palmeiras é de 6. Imediatamente o acionista pode demandar uma REDUÇÃO nos custos do Corinthians. Sim, ele pode demandar, afinal, é dono de um pedaço do clube!
Evidentemente, uma maior transparência diminui em muito as possibilidades de corrupção dentro dos clubes.
As conseqüências: o acesso a mais empresas e a novas formas de financiamento
Muitas empresas e empresários temem se envolver com o futebol justamente por acreditar que é um meio corrupto e amador.
Com a profissionalização e um aumento de transparência, mais empresas passam a ter a possibilidade de desenvolver parcerias com os clubes de futebol. Parcerias com os clubes vão muito além de contratos de patrocínio.
Oferecer
serviços de transporte, viagens, convenções, etc, podem ser feitas
através de parcerias entre o clube e as empresas. Imaginem convenções
de vendas sendo realizadas no CT do clube, com direito a disputa de
pênaltis contra os goleiros do time? Se hoje um empresário tentar
prestar um serviço ou fechar uma parceria, ele nem ao menos vai saber
com quem ele deve falar.
Adicionalmente às novas parcerias com empresas, o clube pode captar dinheiro no mercado de uma maneira mais eficiente.
Dentro
de um regime profissional, os gestores do clube só poderiam solicitar
empréstimos para projetos específicos e dentro de limites seguros para
o clube. Os bancos tenderiam a cobrar menos por empréstimos, já que ele
conhece melhor as finanças do clube. O dinheiro viria para o clube
melhorar seus resultados e não para cobrir rombos.
O clube
também poderia captar dinheiro via emissão de debêntures, que podem ser
mais interessantes para o clube do que empréstimos bancários. Como
existe transparência em relação à situação do clube, seria mais fácil
encontrar interessados em financiar o clube via esse tipo de empréstimo.
Em tempo: o Real Madri vendeu o seu centro de treinamento para comprar o passe do Beckham. Vendeu para o governo espanhol, mas isso já é uma outra história….
Conclusão:
Com
uma gestão melhor, maior transparência das finanças, adicionados a
novos mercados os clubes e novas fontes de financiamento, os clubes
podem iniciar um círculo virtuoso de crescimento! Esse círculo virtuoso
poderia mesmo levar o futebol brasileiro a novos patamares e garantir
uma melhoria do esporte no país.
Obviamente a abertura de capital de um clube tem muitos benefícios POTENCIAIS, porém NÃO É a solução para todos os problemas do clube, como pensam alguns psedo-entendidos.
Resta saber se você, leitor, é a favor ou contra a abertura de capital dos clubes?
Saudações AlviVerdes
p.s.:
nas próximas semanas iremos explorar o novo projeto da Traffic, que
acaba de contratar Carlos Alberto Parreira e nossa sugestão de passos
para a abertura de capital para os clubes brasileiros
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*Luis Fernando Tredinnick escreve todas as sextas-feiras no 3VV, explicando a quem conhece e também a quem não conhece os números no futebol.