Quanto vale um comentarista esportivo?
Por Luís Fernando Tredinnick*
Há
muito tempo eu brinco que meu sonho de carreira seria ser comentarista
de futebol na TV: eu GANHARIA para ASSISTIR jogos de futebol e FALAR
BOBAGENS! Afinal, hoje eu PAGO para assistir os jogos e falo bobagens
de GRAÇA para os meus amigos.
Então, qual seria o valor dos comentaristas esportivos e narradores em geral? Para mim o valor é um só:
NENHUM!
Antes
que alguém se espante, deixe-me explicar. Os comentaristas não trazem
nenhuma informação nova, não fazem nenhum comentário que meus amigos
não conseguiriam fazer. Se alguém não traz informação nova ou
observações exclusivas, ele não traz valor nenhum, certo?
Temos
inúmeros exemplos: Muller dizendo que o Léo Moura fez toda a diferença
em um jogo em que o time dele perdeu; Cleber Machado ficando um jogo
inteiro perguntando se o São Paulo iria conseguir ganhar a Libertadores
sendo que o Internacional também é um time brasileiro; o Luciano do
Valle trocando o nome de inúmeros jogadores; o Noronha dormindo durante
uma transmissão; o Arnaldo dizendo que “fora o pênalti não marcado e o
jogador que não foi expulso, o juiz foi muito bem”; o Marcília teimando
em contradizer as imagens da TV; o pessoal do Debate-bola Transamérica
mais preocupado em brigar entre si do que tecer comentários, e por aí
vai. Ah, o Galvão não precisa de comentários.
Quando eu penso nos narradores e comentaristas e nas inúmeras “pérolas” que já escutei, realmente não se salva muita coisa.
O IMPACTO DA MÍDA INDEPENDENTE
Antigamente
o público em geral não conseguia responder aos comentários e “pérolas”
dos comentaristas em geral a não ser pelo envio de cartas para as
redações. E ninguém saberia se essas cartas seriam lidas…
Hoje
em dia o público em geral pode rapidamente enviar milhares de emails de
protesto contra bobagens e também pode produzir o próprio conteúdo e
expressar opiniões para milhares de pessoas. O 3VV é um exemplo
clássico dessa mídia alternativa. Surgido há pouco mais de um ano, o
blog já tem uma audiência respeitável e tem impactado até algumas das
reportagens em jornais.
É mais fácil achar opiniões originais e
diferentes nos blogs do que nos mesmos comentaristas de sempre. E como
o pessoal que escreve nesses blogs geralmente também é um profissional
de outra área, é mais fácil ter informações mais precisas sobre
marketing, estratégia, planejamento, direito, finanças, etc. E como
geralmente se faz isso de graça, é mais fácil fazer críticas
contundentes aos envolvidos no mundo do futebol.
Toda essa mídia
serviu para escancarar o quanto os comentaristas utilizam os mesmos
métodos há décadas e o quanto eles precisariam evoluir para acompanhar
a velocidade da internet.
AS EXECEÇÕES
Na minha opinião existem apenas duas exceções e duas “menções honrosas”.
Tostão
é para mim o melhor comentarista de futebol que eu já vi. Escrevendo de
maneira simples ele sempre consegue fazer observações que ninguém mais
faz. Como ele foi craque de bola ele realmente ENTENDE do que fala e
compreende mais do que seus colegas as variações do jogo.
Um dos
comentários que me chamou a atenção foi quando ele disse que ele
colocaria na seleção brasileira com dois atacantes rápidos e
habilidosos (tipo David, Nilmar ou Robinho), já que o atacante de
referência serve mais de referência aos zagueiros dos que ao próprio
time. Assim os dois atacantes poderiam correr na diagonal pela linha de
zagueiros ou fazer tabelas entre si ou com os laterais, dificultando
muito a marcação do adversário, esteja ele no 3-5-2 ou no 4-4-2.
Outro
comentário dizia que o Dagoberto, do Jr. Leonor não sabia chutar. Ele
explica que o jogador está sempre com o corpo desequilibrado quando
chuta, o que se observa nos muitos gols que ele perde. Outro comentário
é sobre o modo de jogar dos europeus, onde os laterais basicamente não
avançam, fazendo com que o meio-de-campo dos times europeus tenha uma
configuração diferente dos times brasileiros.
Você já viu alguém comentar algo minimante parecido?
Outra
exceção é o Caio, que se mostrou melhor comentarista do que jogador. De
maneira simples e segura, costuma ter comentários melhores e mais
inteligentes que seus colegas. Apesar de não ter sido um craque, usa
seu conhecimento do jogo a seu favor. Pena que o Muller não consiga
aprender com ele.
Uma das menções honrosas fica para o Sócrates,
que não tem o mínimo pudor em criticar o Binner e dizer que não
concorda com os seus comentários. Como eu não vejo muito o programa não
consigo dizer se ele é uma exceção ou não.
A outra menção
honrosa fica para o Godói. Não que eu ache ele seja um bom comentarista
e tampouco gosto do seu estilo espalhafatoso que utiliza, mas ao menos
ele foge do corporativismo dos demais ex-árbitros e não tem pudores de
criticá-los pesadamente. Particularmente eu gosto muito quando ele dá a
“medalha de lata” para algum árbitro.
ENTÃO?
Bom,
então acho que o melhor é acompanhar a mídia independente e continuar
cobrando da mídia tradicional um mínimo de isenção. No pior dos casos,
o negócio é simplesmente deixar de acompanhar a mídia tradicional como
eu já deixei há algum tempo. Quem sabe eles não mudam para melhor para
tentar recuperar a audiência?
APROVEITANDO…
Aproveitando
o tema, deixe o seu comentário com os melhores e piores comentários que
os nossos ilustres “comentaristas” já fizeram. Aposto que é diversão
garantida para todos nós.
Saudações AlviVerdes
*Luis
Fernando Tredinnick escreve todas as sextas-feiras no 3VV, explicando a
quem conhece e também a quem não conhece os números no futebol.