Regras de futebol: o campo de jogo

Por Oiti Cipriani

Com a ausência de jogos do campeonato brasileiro e demais competições, em razão da seleção brasileira em fase de eliminatórias para a Copa do Mundo, vamos fazer uma divulgação de regras do futebol que não são do conhecimento geral do público amante deste esporte.

Vamos iniciar falando especificamente de onde se pratica o futebol: o campo de jogo. 

Regra 1: Campo de Jogo

No terreno onde se pratica o futebol, existe uma série de normas, medidas, distâncias e recomendações para aparelhar um jogo de futebol. 

O campo pode ser natural, artificial ou híbrido (mistura de grama natural e sintética, como no caso da Neo Química Arena) e deve, repito, deve ser verde (para desespero dos corintianos). 

Os campos possuem 5 (cinco) medidas autorizadas pela FIFA: 

• Máxima de 120 x 90 metros (m).; 
• Mínima 90 x 45 m; 
• Para jogos internacionais, as medidas se alteram um pouco: 
  • Máx. de 110 x 75 m; 
  • Mín. de 100 x 64 m;
• Por recomendação da FIFA, em jogos por ela patrocinado, usa-se a medida de 105 x 68 m., que é a média entre o máximo e mínimo para jogos internacionais. 

A distância para um adversário se postar em uma reposição de bola dentro de campo – faltas, escanteio, tiro inicial, cobrança de impedimento, é de 9,15 m. Para arremesso lateral 2 metros. 

Ora, se temos estas medidas, por que a marca penal é de 11 metros e não 9,15 do gol? Esclarecendo: a área de meta (área pequena) tem comprimento de 5,50 m. a partir da linha de fundo. A área penal (área grande) tem comprimento de 16,50 m. também a partir da linha de fundo. Ou seja, a diferença entre elas é de 11 metros. 

Logo, o ponto médio entre as duas é de 5,50 m. que somados aos 5,50 da área de meta  perfazem os 11 metros do ponto penal. 

A partir da liberação do tiro de meta, em não ser mais necessário que a bola saia da área penal para a ela entrar em jogo e ser disputada, a distância para os adversários também é de 11 metros, visto estes serem obrigados a se postarem fora da área citada. A bola pode ser disputada a partir do primeiro toque, mesmo dentro da área de meta ou penal.

Os gramados

A altura do gramado não deve exceder o 5 cm. de altura.

Mas quantos gramados bons temos no Brasil?

Grosso modo eu diria que temos seis ou sete estádios com gramados bons:

• os três artificiais: Allianz Parque, Arena da Baixada (Athletico PR) e Nilton Santos (Botafogo);
• a Neo Química (Corinthians), Arena do Grêmio, e Morumbi (SPFC);
• aparentemente, a Arena MRV (Galo), que inaugurou recentemente, mas precisamos de mais jogos lá para atestarmos que mantenha sua qualidade. 

O restante dos campos da série A são verdadeiros pastos, impraticáveis para a prática do futebol, inclusive o Maracanã, que é considerado o templo do futebol brasileiro, e que vive fechado para reforma do gramado e que está sempre em condições precárias.

Os dirigentes, de um modo geral, argumentam que o clima brasileiro é muito severo para os gramados. Argumento fácil de rebater. A Europa tem um clima muito mais severo que o nosso em relação a frio, nevascas, chuvas etc. e os gramados são impecáveis.

Mesmo no leste europeu, que amiúde vemos montes de neve acumulada atrás dos gols e jogando com bolas na cor vermelha, para dar contraste com a neve branca, os gramados são impecáveis. 

Outro argumento que poderiam utilizar seria que nas regiões Norte e Nordeste do Brasil o sol é inclemente e prejudica o gramado. Justificam que o custo para hidratação é alto opara os clubes.

Não vamos falar dos estádios de clubes pequenos, mas sim dos grandes destas regiões, ou mesmo os estádios que pertencem ao Governo do Estado. Existem diversas maneiras de molhar o gramado, investindo-se pouco dinheiro, e dando condições para o gramado enfrentar as épocas mais quentes do ano.

Outros afirmam que o número de jogos é um ofensor dos gramados. O treinador Abel Ferreira cansa de falar em suas entrevistas que idealmente deveriam diminuir o número de jogos para preservação dos gramados. 

Mas nem essa justificativa do podemos aceitar como desculpa para os péssimos gramados. Na Europa, normalmente, temos a Liga principal de cada país, com 20 equipes; temos ainda a Copa de cada país (equivalente à Copa do Brasil); temos ainda  a Champions e Liga Europa, equivalentes à Libertadores e Copa Sul Americana, e mesmo assim os gramados são impecáveis. 

Não se faz um campeonato de sinuca em uma mesa esburacada, com o feltro rasgado, mesa inclinada, etc. No futebol deveríamos ter o mesmo cuidado, porém o item que dão menos importância são para as condições do gramado.

Tamanho dos gols

O gol mede 2,44 x 7,32 m. Por que medidas quebradas?

Estas medidas equivalem a 8 jardas (7,32 m.) x 8 pés (2,44 m.). Para justificar estas medidas existem duas hipóteses, e cada um pode escolher a que melhor lhe aprouver.

1. Historiadores defendem que este tamanho do gol era do portão da universidade de Cambridge, por onde os alunos adentravam no recinto escolar. Na confecção das primeiras regras do futebol, em 1860, utilizaram as medidas do portão para definir o objetivo do jogo (goal) e assim determinar o vencedor de uma partida. Essa é a mais poética.

2. Outra corrente define que estas medidas foram feitas baseadas na premissa que um homem de estatura normal, na época, no tempo certo de bola, atingiria os quatros ângulos do objetivo (goal) e impediria a entrada da bola em sua meta.

Sobre a segunda hipótese, vamos fazer uma digressão na história. Com o passar dos anos, décadas, a altura média da população mundial foi aumentando, de geração para geração, e o gol, apesar de manter o tamanho físico, foi “diminuindo” de forma relativa, pois aumentou a altura média dos goleiros e os treinamentos passaram a ser mais específicos.

Assim a anotação de gols por partida foi reduzindo.  

Vou contar uma experiência pessoal. No início dos anos 2000 fui fazer um jogo da Copa São Paulo no Campo do Nacional (SP) e o delegado da sede era Gilmar dos Santos Neves, considerado por muitos, o maior goleiro do futebol brasileiro, em toda a sua história. Seu apelido, no início dos anos 50, era Girafa, pela sua altura. 

Em longa conversa com ele, me disse que na sua época de goleiro ele era relativamente alto, comparando com outros jogadores de futebol. Veja imagem abaixo (nota da redação do 3VV: pedimos desculpas aos palmeirenses pelo conteúdo quase pornográfico da foto, mas é apenas para exemplificar a altura de Gilmar versus os demais jogadores).

Já nos anos 2000, ou seja, 23 anos atrás, o goleiro Gilmar não conseguiria nem treinar em um clube profissional, devido a sua altura ser baixa (1,81 m.). Atualmente os goleiros atingem facilmente entre 1,90 e 2 metros. 

Em 1990, 130 anos depois da divulgação das primeiras regras em 1860, a FIFA lançou um balão de ensaio que projetava aumentar o tamanho dos gols e assim proporcionar placares maiores nos jogos. Foi uma grita geral dos goleiros da época e a entidade recolheu as armas. 

Mas não desistiu 

A FIFA usou de um subterfúgio para atingir seus objetivos: diminuiu o tamanho das bolas em 2 cm., passando de 72 para 70 cm. Os mestres em números podem fazer o cálculo de “aumento relativo” dos gols dada a diminuição da circunferência das bolas (João Brasil e Victor Maimone, um desafio para vocês).

Mastros da bandeira de escanteio

Recentemente tivemos polêmicas quando jogadores chutaram o mastro das bandeiras de campo na comemoração de um gol.

Em tempo: estes mastros têm tamanho determinado de 1,50 m.

Até um tempo, não muito longo, atrás, era proibido ter qualquer marcação nas bandeiras, quer sejam de clubes ou de patrocinadores. Depois foi liberado e passou-se a ter mais atenção a elas, os jogadores passaram a comemorar o gol perto dos mastros, alguns beijando o símbolo dos seus clubes…. e daí vieram as polêmicas. Pelo menos aqui no Brasil. 

Em outros países não existe polêmica: por quê? Porque não dão a mínima atenção para isto. 

Mas aqui em terra brasilis, continuam inventando regras e orientações esdrúxulas, punindo disciplinarmente quem esmurrar ou chutar o mastro da bandeira de escanteio.

Usam a regra “agir de forma provocativa, em comemoração de gols, ao time adversário e sua torcida, deve ser punido com cartão amarelo” para punir o jogador que se manifesta no mastro da bandeira na comemoração do seu gol.

Temos dois bons exemplos: Raphael Veiga há muito tempo comemora seus gols desta maneira, em qualquer campo; seja no Allianz Parque ou em campos do interior de SP, ele dá uma voadora no mastro e se vira para comemorar com seus companheiros. 

Diferentemente do atleta do SPFC, Luciano, que no campo do Corinthians fez um gol, chutou o mastro e foi provocar a torcida adversaria, pedindo silêncio. 

Mas a CBF tirou o sofá da sala e resolveu punir disciplinarmente, qualquer que seja a intenção do atleta ao comemorar o gol junto ao mastro da bandeira.

Mudanças e adaptações

A regra Campo de Jogo é muito mais importante do que pode parecer para nossa vã filosofia. Não apenas pela qualidade do gramado (não respeitada), mas também pela tentativa da FIFA em alterar pontos para deixar o espetáculo mais atraente, como no caso do aumento das traves e diminuição do diâmetro das bolas.

Mas algo que o futebol precisa de alguma forma se atualizar é com relação às mudanças inerentes que a sociedade passa ao longo das décadas. Como no caso dos treinamentos específicos a goleiros, ou ainda ao seu biotipo, e ainda a outros elementos que podem influenciar uma partida de futebol e que não eram presentes quando da definição das regras lá nos idos de 1860.

A própria tecnologia é um caso, mas não o único.

Por isso é imperativo que a FIFA e o comitê que analisa e cuida das regras do futebol estejam sempre atentos e principalmente abertos a mudanças por vezes mais que necessárias para adaptar o futebol a uma sociedade em constante evolução.

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