Sobre Preços de Ingressos
Sintetizei o debate em três textos, a partir de uma sadia provocação que o palestrino Calil Nakad fez: aumento do ingresso não pode afastar o torcedor? nesse caso, se afastar o torcedor, não seria mais razoável termos ingressos baratos e estádio cheio? mais ainda: os modelos de arenas que se discutem, será que não são longe da realidade brasileira?
Selecionei três textos que exploram essas questões bem levantadas pelo Calil. Seguem abaixo:
De Vicente Criscio, sobre o preço dos ingressos e o equilíbrio entre Receita e Conforto no estádio/Time competitivo:
Comer um lanche de pernil na Turiassu depois do jogo é ótimo. Mas acho que nós vamos ter que perder um pouco desse romantismo se a gente quiser ter times fortes no Brasil e sem ficar [continuar] escravos da receita de TV. A grana que se gasta no entorno do Palestra poderia estar indo pro clube (lanche, bebida, estacionamento).
Só para dar um exemplo, o Rogério Dezembro tem uma idéia de projeto de Hospitality excelente para dar maior conforto ao torcedor palmeirense quando chegar no estádio. Qualquer dia desses, quando a grana começar a sobrar nos cofres, acho que o projeto emplaca. [ para entender melhor o que é um Hospitality em dias de jogos clique aqui e veja exemplos nos times ingleses; um ingresso nesse modelo pode custar até 450 libras ou R$ 1.800 ]
Mas eu concordo que é difícil emplacar a idéia de ingressos mais caros. Mas é preciso fazer contas: um time joga no máximo 35, 40 vezes em seu estádio no ano (19 vezes no Brasileiro, ~10 vezes no Paulista, e mais os jogos de uma Libertadores, Copa do Brasil e Sul Americana). Com renda líquida média de 100 mil por jogo (quando dá isso), não dá prá pagar o salário anual de 2 bons jogadores. Então rapidamente se percebe que é difícil conviver com esse modelo.
Não sei qual é o preço de ingresso mais adequado. Mas a gente tem que concordar que o futebol é o entretenimento mais barato do Brasil. E de custo maior, quando falamos em salários de 100-200 mil por mês para jogadores acima da média.
Tem que ter espaço para todos poderem assistir aos jogos, mas pelo bem do futebol tem que haver uma maior geração de receitas pros clubes. E receitas no sentido amplo, não só no preço de ingresso.
E o torcedor que hoje assiste a três jogos de seu time por mês pagando R$ 20, será que ele não preferiria ir assistir apenas a um jogo, pagando 60, mas com todo conforto, segurança, disponibilidade de alimentação e vendo jogar o Alex, o Valdivia, o Wagner Love, o Scolari no banco… todos juntos?
De Claudio Baptista, sobre um alerta que eu havia feito a respeito dos custos de manutenção, e citando formas de incrementar receitas na arena:
A manutenção de uma arena é muito complicada. Entre os motivos que dificultam a geração de receitas estão o baixo poder aquisitivo e a falta de eventos de grande porte que ocorram de forma constante para utilização do complexo por inteiro.
Tenho uma visão particular sobre a manutenção e qualidade dos serviços que podem ser disponibilizados pela arena aproveitando tudo o que já existe no entorno do Palestra.
Começo perguntando porque todos definem que uma Arena tem que ser um Shopping Center, repleto de lojas, restaurantes, cinema, serviços, etc? Vocês já pensaram que isso tudo É CUSTO? Que isso tudo traz a necessidade, como falou o Vicente, de termos movimento e receita quase que 24 hs x 7 dias por semana somente para sustentar esta DESPESA?
Porque então não tentar simplificar, incrementar entretenimento, conforto, segurança em um cenário das condições brasileiras?
Pensando nas funcionalidades presentes de um Shopping Center já temos uma condição no entorno do Palestra que não permite mais a criação destes espaços em igual quantidade dentro do Estádio. Fazendo-se isso nos tornamos concorrentes do Shopping ao lado e certamente ele nos “matará” neste campo.
Assim deve-se pensar em uma espécie de parceria. Algo que fisicamente una o Estádio ao Shopping. No Estádio teríamos serviços complementares e mais específicos para o Palmeiras. O Palmeiras aproveita de forma indireta o Shopping para agregar suas funcionalidades ao Estádio e o Shopping aproveita os eventos e jogos para incrementar receita com o crescente movimento.
Positivo também para o Palmeiras é que as despesas de manutenção do Shopping com tudo o que ele oferece não fica com o Clube. Isso já é uma considerável redução de custos.
Pensem também que até os custos de construção eles já tiveram.
Agora vamos olhar para dentro do Estádio e ver o que pode ser feito para incrementar entretenimento, serviços, segurança, conforto, mas sem complicar.
Entretenimento: gosto muito do entretenimento Áudio Visual. Telões, monitores nas áreas de circulação e camarotes aliados a um sistema de som eficiente já trazem o ar da modernidade. A estação de edição e operação disso é pequena, pouco complexa e o principal, o custo de manutenção de um sistema desses não é alto. Com o sistema instalado, os equipamentos são confiáveis trazendo baixo índices por falhas e o custo de sua operação é baixo, pois necessita de pouquíssimos recursos humanos.
Serviços: como disse acima, devemos instalar serviços complementares e específicos para o Palmeiras. Pensem em pacotes. Nas áreas mais nobres e vips do estádio criem espaços para a instalação de alguns poucos restaurantes, bares diferenciados e áreas que possam ser alugadas para empresas para convenções e eventos. Estes locais ainda podem ficar abertos e à disposição do clube social todos os dias, exceto jogos, visando amortizar um pouco dos custos. Ah, um programa eficaz para aquisição de novos sócios é importante para este item.
Já nas áreas mais comuns do estádio teríamos serviços mais simples, porém de qualidade. Lanches e bares montados/desmontados somente nos dias de eventos e jogos. O Palmeiras terceiriza e aluga estes espaços para empresas de fora. A receita é fixa para o Clube e a preocupação do lucro é das empresas.
Segurança: Como na parte de entretenimento citada acima, um sistema de Circuito Fechado de Câmeras (CFTV) também tem custo de manutenção controlável, são equipamentos confiáveis e atendem às necessidades de segurança. Também é possível que este sistema faça interface com o Sistema Áudio Visual da parte de entretenimento para aproveitamento das suas imagens geradas pelas câmeras espalhadas pelo estádio.
Conforto: O que é mais normal, atendendo plenamente esta necessidade a um custo de manutenção também baixo do que a cobertura para o público, acentos numerados com encosto e no padrão FIFA, acessos em número suficiente e áreas de circulação compatíveis?
Nas áreas mais nobres e vips faz-se um acabamento diferenciado através de um projeto de arquitetura que poderá também ser extensivo às áreas comuns para criar uma aparência agradável. Lembremos que nestas áreas comuns já existirão os monitores para entretenimento áudio visual, bares e lanches de qualidade terceirizados.
Vagas de Estacionamento são problema em qualquer estádio no Brasil. No cenário do Palestra, temos as vagas disponíveis nos shoppings do entorno e a minimização deste problema devido à localização do estádio e à proximidade do metrô, trem e linhas de transporte público. Estes últimos, como nós sabemos são de responsabilidade do Estado em melhorar e incrementar qualidade.
Ainda temos áreas próximas ao Estádio para construção de estacionamento e a possibilidade de criarmos estacionamento interno ao Estádio para atendimento às necessidades daqueles que estarão nos camarotes, áreas mais diferenciadas e vips.
E os custos para manter uma estrutura de promoção de eventos para a Arena?
Fico imaginando quantas empresas não se interessariam e fazer acordo com o Palmeiras para gerir esta estrutura.
Portanto, na minha visão temos mais problema nos custos de construção do que nos custos de manutenção da Arena.
E ainda existe a possibilidade de se pensar em projetos que podem trazer mais marketing e que podem ajudar na redução de custos que são aqueles de aproveitamento de água e geração de energia. Preocupações crescentes na engenharia.
Claro que tudo isso não passam de premissas que devem ser comprovadas através de estudos por profissionais do ramo, como bem disse o Vicente. Porém estas premissas trazem funcionalidades modernas para uma realidade brasileira e certamente o Palestra Itália é o Estádio que mais oferece condições para estas instalações.
Para terminar, um fator importantíssimo que também ajuda em muito no incremento de receita para a Arena é o óbvio. Uma gestão profissional e competente do Depto de Futebol.
De Luciano Pasqualini, provocando sobre a capacidade de se colocar público no Palestra:
A Grande SP tem hoje 20 milhões de habitantes. Poderiamos fazer um cálculo baseado na estrutura etária e econômica da cidade para identificar o potencial, mas é mais fácil pegar duas observações práticas:
1. Nos anos 70 o Palmeiras colocava rotineiramente mais de 30 mil torcedores no Pacaembu e Morumbi contra adversários de pouca expressão, e mais de 50 mil contra equipes como Bahia, Santa Cruz, … Os clássicos levavam até 100 mil… Hoje, este público sumiu. Dizem que há mais opções de lazer. Quais ? Fora o Cinemark, o que há de tão novo que não havia naquela época ? Shoppings ? Parques ? … A verdade é que futebol deixou de ser opção de lazer. É opção de fanático, ou falta de opção mesmo, porque enfrentar a violência, desconforto, pra ver espetáculos pra lá de ruim dá uma tese de psicologia.
2. Quantos colegas de trabalho você conhece que são palmeirenses e que não frequentam estádio ? Quantos parentes ? Este é o potencial. Cada um de nós conhece facilmente 5, 10, 15 pessoas que voltariam aos Estádios com espetáculo melhor [infra e jogadores]. Dinheiro definitivamente não é o problema, ou melhor, é mas no sentido inverso.
Hoje um dos pilares de sustentação do futebol são os sofazeiros. São eles que sustentam os clubes, graças às cotas que as TVs pagam. Só que estes sofazeiros não consomem outros produtos como poderiam fazer indo ao estádio. É preciso inverter isso.
É isso aí… tema denso…
Saudações Alviverdes