Tempo de bola no Paulistão 23: como melhorar o controle?

Por Oiti Cipriani; colaborou Vicente Criscio

Com a fase de grupos do Campeonato Paulista indo para seu final, fizemos uma varredura nas súmulas dos jogos e percebemos um padrão nos no número de faltas e tempo de bola rolando. E desenvolvemos uma tese: a qualidade da marcação do tempo de jogo (e por tabela, do número de faltas) é baixa e a rigor não está servindo para nada!

Então para comprovar – ou rejeitar – a tese, analisamos uma amostragem dentre os 80 jogos do Paulistão 2023 realizados até aqui. Como critério, procuramos escolher um jogo de um chamado “grande” ou um clássico e um jogo de menor apelo popular.

Definido o critério, selecionamos os jogos e fomos às sumulas. Nela levantamos número de faltas por tempo de jogo, acréscimos concedidos e tempo de bola rolando. Além da análise das súmulas da amostragem, fizemos, “in loco”, o tempo de bola rolando em dois jogos do Palmeiras. Foi feito esse exercício dentro do estádio, de forma criteriosa, com o cronômetro sendo disparado ou pausado conforme o andamento do jogo.

Os jogos assistidos no estádio estão abaixo identificados com o símbolo (*) destacado em amarelo. E todos os itens analisados são de domínio público e estão disponíveis no site da Federação Paulista de Futebol.

Fonte: 3vv.com.br/OitiCipriani

Os menores tempos de bola rolando

Notamos que o tempo de bola rolando obedece a um padrão. Somente em dois jogos nesta amostragem foram registrados menos de 60 minutos de bola rolando (jogos destacados em azul).

Um desses jogos foi Palmeiras x São Paulo. Foi aquele jogo em que o time visitante usou e abusou do retardamento (lembram da ópera circense promovida pelo jogador Rafinha?). E surpresa!!! O tempo de bola rolando foi de 58 minutos. Entretanto na saída do estádio restou a sensação de que não tivemos 40 minutos de bola em jogo. (leia a análise da arbitragem deste jogo por Oiti Cipriani no 3VV clicando aqui)

O outro jogo, coincidência ou não também do SPFC, desta vez contra o Corinthians pela 5ª rodada, apresentou tempo foi inferior a 60 minutos. Podemos interpretar que o motivo desse baixo tempo fica por conta da prática do árbitro Rafael Claus raramente conceder um tempo de recuperação muito longo, dada sua maneira de conduzir o jogo, não permitindo que os jogadores abusem da chamada “cera”. Nesse caso não funcionou dado que o tempo de bola rolando ficou abaixo da média.

Algumas aberrações

Estou tentando entender como o árbitro Lucas Belotte, no jogo Botafogo x Mirassol na 3ª rodada, deu 10+5 (quinze!!!) minutos de acréscimos, tendo assinalado apenas 26 faltas no total. Assim a partida atingiu a marca de 66min30seg de bola em jogo (quem anotou teve o capricho de anotar minutos mais segundos!!!!).

Na súmula desta partida foi relatado pelo árbitro somente substituições e consulta ao VAR. Ou seja, nada destacado que exigisse tamanho acréscimo ao final dos tempos.

Tira teima

No jogo Palmeiras x RBB, dia 22 de janeiro, pela rodada 10, o árbitro Douglas Flores anotou na súmula 64 minutos de bola rolando.

Esta partida foi uma das duas que acompanhamos dentro do estádio com o cronômetro na mão. E na nossa marcação – rigorosamente cronometrado – foi registrado 23min45seg no primeiro tempo e 27 minutos (redondo) no segundo tempo.

Ou seja, um total de 50min45seg (figuras abaixo).

Ora, o cronômetro deste colunista não mente! Foram quase 14 minutos de diferença entre o que o árbitro reportou e o que realmente aconteceu dentro de campo. Um aumento no registro do tempo de jogo de 30%. Diferença injustificável!

Já no jogo Palmeiras x Ferroviária, foi anotado 61 minutos de bola rolando na súmula, quando pelo cronometro no nosso tira teima dentro do estádio, tivemos anotado 31min09seg no primeiro tempo e 32min52seg no segundo, perfazendo 64 minutos e 1 segundo. Nesse caso o tempo registrado na súmula ficou 3 minutos de diferença para baixo, o que representou uma “deflação” de 5% do tempo de jogo computado.

Por estes dois exemplos podemos questionar se esses números registrados nas súmulas são verdadeiros ou fictícios. E ficamos ainda com a frustração por não termos feito esta verificação desde o início do campeonato, nos jogos do Palmeiras onde conseguimos comparecer “in loco”.

Nas fases de quartas, e avançando para as demais, nos jogos a serem realizados no Allianz Parque, faremos esta aferição.

Concluindo e perguntando

Numa amostragem de 20 partidas dentre oitenta jogadas (25% do total) identificamos uma média de 62 minutos de tempo de bola rolando. Duas partidas ficaram abaixo dos 60 minutos. E tivemos 11 partidas (55%) que ficaram dentro do intervalo de 60 a 64 minutos. E para quem gosta de estatísticas, 75% dos jogos ficaram dentro do desvio padrão da média identificada. Um número que indica um certo padrão.

Mas nossa preocupação também é com a qualidade do tempo de bola rolando registrado. Pois entendemos se esse um indicador vital para ajudar a comissão de arbitragem a buscar maneiras de inibir o retardamento e aumentar o tempo de bola rolando, atendendo a expectativa do público e tornando o jogo mais justo e punindo quem quer buscar resultado com o antijogo.

Entretanto, o número de faltas e o tempo de bola rolando foge ao controle do juiz da partida, seus assistentes e árbitro de VAR; estes controles e medição ficam na responsabilidade do 4º árbitro. Mas o profissional escalado nesta função tem ainda outras atribuições, como acompanhar as substituições, controlar os bancos e assinalar o número de faltas e bola rolando.

Consegue fazer isso com qualidade? Parece que não!

Então fica a pergunta deste colunista aos ilustres membros da comissão de arbitragem do futebol paulista: o que fazem os inúmeros “aspones” que proliferam em um jogo de futebol? Estas funções não poderiam ser delegadas a um deles, ao invés de sobrecarregar as funções inerentes ao 4º árbitro? O que os senhores irão fazer para usar corretamente as informações (que devem igualmente ser corretas) das súmulas para ajudar e orientar os árbitros a controlar melhor o tempo de jogo?

***

Leia mais

Leave a Reply