26 de agosto de 1914: o nascimento do Campeão do Século

Por Jota Christianini

No início do século XX, jovens italianos decidiram fundar um clube cujo objetivo principal seria a formação de um time de futebol que representasse toda a enorme colônia italiana diante das grandes equipes da elite paulistana. A presença no Brasil, do Torino e do Pro-Vercelli, impulsionou a vontade destes jovens.

Havia pouco mais de três décadas que a Itália se unificara, fato não muito claro para a imensa maioria dos que já estavam por aqui.

Luigi Marzo e Luigi Cervo, funcionários das Indústrias Matarazzo, encabeçavam esses jovens, a imensa maioria italianos ou descendentes.

Existiam diversos clubes de italianos, mas cada um representava uma província ou então destinavam-se a atividades outras que não o futebol, esporte que já contava com apreciadores em grande número.

Procuraram o Fanfulla, jornal em língua italiana, e pediram a publicação de uma carta, redigida pelo jovem Vicente Ragognetti, 18 anos, que se tornou, imediatamente, entusiasta da ideia da fundação de um time de futebol.

Pela formação de um quadro Italiano de Futebol em São Paulo.

São Paulo, 14 de agosto de 1914.

Egrégio Sr. diretor do “Fanfulla”:

Uma palavra apenas e para esta um cantinho no vosso jornal. Eis do que se trata: alguns conhecidos futebolistas italianos, mas associados à clubes brasileiros, encarregaram-me de escrever-vos acerca de um projeto pôr eles idealizado, entre dois goles de café, fazendo-me então compreender que tal projeto o vosso jornal deverá se tornar o propugnador e o propagandista.

Nós temos em São Paulo – afirmam os referidos esportistas – o clube de futebol dos alemães, dos ingleses, dos portugueses, dos internacionais e mesmo dos católicos e dos protestantes, mas, um clube que seja exclusivamente de “sportmen” italianos, e sendo nossa colônia a maior do Estado, nada se tentou ainda realizar!

Futebolistas italianos que jogam bem encontram-se em São Paulo, porque, de comum acordo, não reunimos os referidos senhores, e assim como temos associações de remo, filodramáticas, mundanas, patrióticas, etc., etc., de estrutura italiana, poderemos também ter um clube de futebol exclusivamente de italianos”.

Aí fica a proposta dos futebolistas italianos; com vossa senhoria, diretor, o comentário.

Vincenzo Ragognetti

***

Reuniões preparatórias foram realizadas; como a imensa maioria, quase a totalidade dos participantes eram italianos ou descendentes. Por proposta do Sr. Luigi Cervo  foi decidido denominar-se a nova sociedade “Palestra Italia”.    

Foi convidado para presidente da reunião, o Sr. Ezequiel Simone, servindo de secretário, o Sr. Luigi Cervo, oriundo do S.C. Internacional, como o mais indicado para organizar a sociedade futebolística italiana.

A primeira assembleia geral foi realizada em 26 de agosto, noite em que oficialmente proclamou-se a fundação da sociedade. Presentes trinta e sete interessados, todos admitidos como sócio fundadores, lista acrescida de mais cinco nomes, também considerados fundadores.

Discute-se por sugestão de Armando Rebucci a constituição de biblioteca e outros detalhes quando, como obviamente se esperava, surge a primeira discussão.

Veemente, Ezequiel Simone, pede para anular o capítulo do estatuto que prevê os sócios-perpétuos, pois como se alega, isso é coisa de associações de mútuo socorro e não para as de prática esportiva.

Depois de ampla e, imagina-se, acaloradas discussões os sócios perpétuos são aprovados.

É eleita a Diretoria:

  • Presidente, Ezequiel Simone – 28 votos
  • Vice-presidente, Luigi E. Marzo – unanimidade;
  • Secretário, Luigi Cervo – unanimidade;
  • Diretor esportivo, Vincenzo Ragognetti – 32 votos.

O Sr. Presidente e depois o Sr. Luigi Cervo, agradecem aos presentes a confiança neles depositada, prometendo fazer o possível, mesmo com sacrifícios, para que o Palestra Italia ocupasse o primeiro lugar entre sociedades congêneres, como digna do nome que leva e que invoca a pátria distante. Em vista do adiantado da hora, e nada havendo de importante a tratar, o presidente dá a sessão por encerrada, às 24 horas e 55 minutos.

Assim, oficialmente, na noite de 26 de agosto de 1914, foi proclamada a fundação do “Palestra Italia”.
Vinte e cinco anos depois, nas festividades do Jubileu de Prata, Luigi Cervo discursou.

“Hoje, vendo a grandeza do Palmeiras, tantos títulos, tantas conquistas, esse patrimônio invejável, emociono-me ao lembrar. Foram tempos difíceis, às vezes as dificuldades indicavam que era melhor não continuar, mas isso jamais passou pelas nossas cabeças. Éramos poucos, mas éramos fortes e sabíamos que unidos seríamos invencíveis.”

Sábias palavras, Sr. Luigi Cervo, sábias palavras! Unidos seremos, sempre, imbatíveis.

Hoje, passados 109 anos, nós todos palestrinos-palmeirenses saudamos aqueles que com fé esperança e entusiasmo abriram caminho da nossa maior paixão. Eles sabiam onde iríamos chegar. Basta lembrar a felicidade premonitória de Luigi Cervo ao escolher o nome Palestra, que em grego significa Academia.  

Ele já sabia!

***

Nota do editor: texto publicado originalmente no 3VV em 26 de agosto de 2021 em celebração ao aniversário do campeão do século XX e XXI …. Avanti Palestra!!! Parabéns Palmeiras! Parabéns Palmeirense

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