
O dia em que o Palmeiras venceu a grande guerra
Por Marcos Lúcido Donato
Em meados do século XIX, durante o período da unificação italiana, muitos cidadãos resolveram deixar o país, por conta da grave crise vigente. Assim, em fevereiro de 1874, desembarcaram, no porto de Vitória/ES, os primeiros imigrantes vindos da “terra da bota”.
Este evento marcou o início de um fluxo migratório contínuo, impulsionado pela necessidade de mão de obra nos cafezais brasileiros e pela situação econômica na Itália, consolidando-se com a chegada de milhões de italianos, principalmente nas regiões Sudeste e Sul do país.
E é inegável que a imigração italiana contribuiu significativamente para a economia, cultura e sociedade brasileira, deixando um vasto legado que se manifesta na formação da identidade do país.
Como exemplos, podemos citar o Conde Francesco Matarazzo, um dos mais sólidos pilares da industrialização do Brasil e a Sociedade Esportiva Palmeiras, Primeiro Campeão Mundial Interclubes, Campeão do Século XX e o Maior Campeão do Brasil.
Durante o período da Segunda Guerra, mais precisamente em 1942, o Brasil, oficialmente, decidiu se juntar aos “Aliados” e lutar contra os países do “Eixo”. Infelizmente, seja por ignorância ou mesmo por estupidez do governo brasileiro, estabeleceu-se uma inexplicável perseguição interna contra os imigrantes italianos, alemães e japoneses, que estavam contribuindo para o desenvolvimento do país e, em nada tinham a ver com o grande conflito em curso. Milhares deles, juntamente com seus descendentes, foram levados para campos de concentração e de exílio no Brasil.
Os italianos, em especial, eram a “presa preferida” da alta sociedade, pois, para a elite brasileira, era inadmissível o fato de que italianos que vieram para o Brasil (fugindo de um clima de tensão em seu país de origem) pudessem conquistar algum tipo de status dentro da pátria. O simples fato de os italianos terem colaborado extensivamente com a popularização do futebol, que anos antes era um esporte exclusivo da burguesia, incomodava em grande escala a elite brasileira, que, por sua vez, conseguiu apoio do governo, para pressionar os Palestrinos e demais Oriundi.
Em março de 1942, a diretoria palestrina foi obrigada a se alinhar às exigências do governo brasileiro e, pela primeira vez, foi assinada a mudança de nome da instituição, para “Palestra de São Paulo”, retirando-se o “Italia” do nome. O escudo institucional ganhou uma adaptação: saiu o vermelho, passando a ser basicamente verde e amarelo (cores da bandeira nacional).
Aparentemente, tudo estava certo, com o Palestra caminhando a firmes passos para a conquista do Campeonato Paulista daquele ano. Porém, em mais uma atitude incoerente, o governo brasileiro determinou que o nome do clube fosse novamente alterado, alegando que a palavra “Palestra” fazia alusão à Itália. A etimologia, no entanto, revela que “Palestra” é uma palavra de origem grega.
Essa imposição foi muito conveniente para um clube rival, que já havia passado por dois processos de falência, e só não enfrentou o terceiro, por conta das esmolas recebidas do Palestra, no famoso jogo das barricas, realizado em 1938. Enxergavam ali a possibilidade de tomar o patrimônio Palestrino, construído com trabalho e competência. Fato que esta nova determinação, deixava claríssima a existência de uma situação de perseguição.
A fim de evitar qualquer tipo de cisão com o governo e de driblar o preconceito, os dirigentes do Palestra se reuniram novamente e decidiram que haveria uma segunda mudança de nome, caso contrário, certamente o clube estaria sujeito à perda total de patrimônio.
No dia 14 de setembro de 1942, Ítalo Adami reuniu os dirigentes palestrinos para oficializar o novo nome do clube, que, por sugestão de Mário Minervino, passou a se chamar Sociedade Esportiva Palmeiras. Dois fatores teriam motivado a escolha: a quantidade abundante de palmeiras dentro das dependências do clube e a decisão de homenagear a extinta Associação Atlética das Palmeiras, agremiação com o qual o Palestra manteve bom relacionamento institucional nos primórdios de sua existência, além do principal, que era manter o P como primeira letra.
Após uma semana extremamente conturbada com o episódio da mudança de nome, o agora Palmeiras teria de disputar, no dia 20 de setembro, uma partida que poderia definir o Campeonato daquele ano, justamente contra o rival que tanto lutou para tomar nosso patrimônio. O fato de disputar um jogo decisivo contra o spfc, tinha um sabor especial para os palestrinos-palmeirenses, até porque aquela partida sintetizava a chance real de um resgate à memória do velho Palestra Italia.
O ambiente para a partida decisiva era extremamente hostil para o Palmeiras. Os rivais e a imprensa da época trataram de tentar macular a imagem do clube, o tachando de clube “fascista” e inimigo da pátria.
Naquela tarde, milhares de pessoas lotaram o Pacaembu e, como já era de se esperar, a torcida rival, que estava concentrada em grande número, já ensaiava uma impiedosa vaia para executá-la assim que o Alviverde surgisse no gramado. Ao perceberem a maneira com que seriam recebidos em campo, o time alviverde (intimidado) nada poderia fazer a não ser entrar de cabeça baixa e submeter-se às vaias, que, naquele momento, iriam arder na alma palestrina mais do que qualquer tipo de calúnia, injuria ou difamação. Foi exatamente neste momento que o capitão Adalberto Mendes entrou em cena de maneira mais enfática, entrando em campo fardado e entregando a bandeira brasileira para eu o time a carregasse quando adentrasse o gramado. Certamente, ninguém ousaria vaiar um time que estava sendo representado por um capitão do exército e entrava em campo com a bandeira nacional. Desarmaram-se, desta forma, os atos hostis programados para ocorrerem contra nossos jogadores.

Quando a bola rolou, um verdadeiro baile Alviverde. O placar marcava 3 a 1, quando o zagueiro “trika” quase arrancou a perna do nosso meio campista Og Moreira. Pênalti escandaloso, apontado pelo árbitro. Temendo por sofrer uma goleada histórica, restou ao adversário, humilhado e acovardado, fugir de campo.
O Palestra morria líder e o Palmeiras nascia Campeão.
A partir daquele dia, os arqueiros Palmeirenses passaram a jogar preferencialmente de azul, (até então, os arqueiros do Palestra usavam branco na grande maioria das vezes), fazendo alusão à cor da camisa da Seleção Italiana, de forma proposital, já que havíamos sido proibidos de associar sua imagem à do país europeu que inspirou nossa fundação. Para alegria do Palmeiras, as autoridades da época não entenderam o trocadilho.
Outra “mensagem subliminar” foi a forma como “P” do nosso escudo foi adaptada, para manter a curva do “I” do antigo nome, eternizando assim a ligação com o Palestra Italia.
Pelos atos de coragem e bravura citados acima, ficarão marcados para sempre na memória da Sociedade Esportiva Palmeiras nomes ilustres como dos dirigentes Adalberto Mendes, Ítalo Adami, Mário Minervino, Higinio Pellegrini, dos jogadores Oberdan Cattani, Junqueira, Del Nero, Waldemar Fiume, Lima, o treinador Del Debbio e tantos outros que fizeram parte desta história, pois estes homens foram os responsáveis pelo início de uma nova era, que levou o Verdão a consagrar-se como o Primeiro Campeão Mundial, Campeão do Século XX e Maior Campeão do Brasil.
20 de setembro: Dia da Sociedade Esportiva Palmeiras, o clube que nem a segunda grande guerra conseguiu parar!
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Comments (2)
Pinho – Bauru, SP
Show! Parabéns Donato por esse resgate histórico!
Diego Portes
Texto lindo e histórico Donato! Parabéns
Avanti Palestra!!
Viva a Sociedade Esportiva Palmeiras🇳🇬🇳🇬🇳🇬🇳🇬🏆