Abel Ferreira e a magia do nosso momento

Por Vicente Criscio

A semana foi intensa para o Palmeirense. Após a derrota por 3×0 na altitude de Quito na noite de 23 de outubro, e após um empate bem sem graça contra o Cruzeiro na noite de domingo passado, o torcedor estava preocupado: teremos força para vencer a LDU por três gols de diferença para pelo menos levarmos a decisão aos penais?

O que preocupava: primeiro, o adversário…

A LDU, diferente do que muitos pregam HOJE, não era um time fácil. Classificou-se em primeiro no seu grupo, com 3 vitórias, 2 empates e uma derrota, deixando o Flamengo em segundo com o mesmo número de pontos (11).

Nas oitavas, perdeu o jogo de ida contra o Botafogo no Engenhão por 1×0 mas virou o placar com 2×0 jogando em casa.

Nas quartas, pegou o SPFC em Quito e meteu 2×0. Quando veio ao Morumbi, ganhou por 1×0 novamente.

Ou seja, o time era muito forte na altitude de Quito e competitivo na casa dos adversários. O treinador brasileiro Tiago Nunes, sem muito destaque no Brasil, lá parecia que estava fazendo sucesso.

…. depois, nossa desconfiança

Do lado de cá, também o palmeirense sofria com seus demônios.

Após muitas críticas por não avançar na Libertadores de 2024 (eliminado nas oitavas pelo Botafogo com um empate em 2×2 no Allianz) e ter perdido o Campeonato Brasileiro para o mesmo time em uma partida em casa onde o empate seria um bom resultado (derrota 1×3 no Allianz) a crítica era dura: Abel não sabe jogar contra time grande.

Veio 2025 e perdemos o título do Campeonato Paulista para o Corinthians. Time que sofria e ainda sofre com problemas de pagamento de salário e outros escândalos.

O time cresceu, melhorou no Campeonato Brasileiro e as críticas diminuíram. Mas houve uma recaída forte: a eliminação para o mesmo rival da zona leste na Copa do Brasil, ainda nas oitavas de final, dentro de casa foi um duro golpe na expectativa do torcedor e na relação (de boa parte, mas não de todos) da torcida com Abel. O treinador foi duramente criticado ao final da partida em que perdeu para o Corinthians por 2×0, com a torcida mandando o treinador t***no*** . A repercussão foi grande, e isso mexeu demais com Abel Ferreira.

Isso aconteceu há menos de dois meses.

Mas… mas… mas…

No futebol, assim como na vida, (quase) nada é absoluto. A verdade geralmente está entre dois extremos. Abel não era “pardal”, “incompetente” ou “apenas um cara que deu sorte no início”. Da mesma forma, não era o gênio infalível, que sempre tinha um plano.

Os defensores do treinador argumentavam que o time estava em reformulação. E sustentavam que “não se ganha sempre”.

Os críticos, apontavam que as escolhas por alguns jogadores em determinadas partidas tinham sido catastróficas (contra a LDU a escolha por Veiga e pelo sistema de jogo aberto foi fatal). Relembravam fracassos recentes da Libertadores como eliminações para Boca Juniors e Botafogo. Bruno Fuchs, que estava assumindo a função de Lucas Evangelista, tinha ido muito bem contra o RB mas falhou feio contra o Flamengo na derrota no Maracanã. Assim como Aníbal Moreno.

E assim iniciamos a semana de 27 de outubro. Após três resultados ruins (derrota para Flamengo dia 19/10 por 3×2, derrota para LDU em Quito por 3×0, e empate em casa contra o Cruzeiro num anêmico 0x0) o otimismo de alguns contrastava com o ceticismo de outros.

90 minutos no Allianz é muito tempo

Crédito: divulgação internet

A partida em que o Palmeiras venceu a LDU no Allianz Parque por 4×0 e carimbou seu passaporte para mais uma final de Libertadores, a terceira final em cinco anos e seis edições (2020, 2021, 2025), teve varios adjetivos no pós jogo: épica, mágica, histórica, memorável.

O palmeirense foi do inferno ao paraíso em 90 minutos. E, apesar dos adjetivos, a construção da classificação foi relativamente tranquila: gols acontecendo a intervalos de 20-25 minutos (20’1T, 45+5’1T, 23’2T, 37’2T), 28 chutes a gol contra apenas 8 do adversário (!!), 6 grandes chances, ou seja, o Palmeiras construiu de maneira irrefutável o seu resultado.

E ao final, a emoção de palmeirenses fora e dentro de campo. Os jogadores extasiados. A torcida feliz. E Abel Ferreira, aliviado…. e emocionado.

A magia do nosso momento

Como caracteriza a ampla maioria de treinadores de sucesso, Abel tem suas convicções, tem suas manias, suas preferências, e acerta e erra como qualquer ser humano na sua profissão. Se ganhar a Libertadores, estará no paraíso. Se ainda ganhar o Brasileiro 2025 vai faltar adjetivo a ele nos dicionários em português do Brasil e de Portugal.

Por outro lado, se perder – resultado absolutamente normal – as críticas voltarão. Talvez menos ácidas. Menos ofensivas… mas virão críticas.

Entretanto, qualquer resultado que venha, não há dúvidas que Abel Ferreira é o mais vitorioso treinador do Palmeiras. Isso parece incontestável pelo número de títulos em tão pouco tempo. Não custa repetir: desde que chegou ao Palmeiras (outubro de 2020) Abel foi 3o colocado no Brasileiro de 2021, campeão em 2022 e 2023, e vice-campeão em 2024. Foi campeão do Campeonato Paulista de 2022, 2023 e 2024. Finalista em 2021 e 2025. E campeão da Libertadores de 2020, 2021, semi-finalista de 2022 e 2023, e finalista de 2025. Talvez o único torneio com menor desempenho seja a Copa do Brasil. Foi Campeão em 2020, mas as campanhas seguintes foram ruins.

Mas é o “maior” da história, como a Presidente Leila Pereira fez questão de afirmar na entrevista coletiva do pós jogo? Isto depende de avaliações mais subjetivas ou mais apaixonadas. Depende do contexto. Poderia chamar novamente as estatísticas (prometo fazer isso em breve) e verificar quem treinou por mais tempo consecutivo a SEP. O atual treinador palmeirense poderá se tornar nosso “Alex Ferguson” (27 anos treinando o Manchester United ininterruptamente). Não com 27 anos mas com possíveis (e neste momento, bem provável) sete anos consecutivos de contrato (se renovar até dezembro de 2027, como a Presidente Leila já ventilou).

Se isto de fato ocorrer seguramente teremos muitos momentos de magia e adoração do treinador. E outros momentos, estatisticamente inevitáveis, de eliminações doídas e títulos perdidos. Talvez até com ofensas vindas das cadeiras do Allianz de parte da torcida, ou das redes sociais. Algumas críticas são razoáveis e devem ser relativizadas, dado o papel que ele tem hoje em uma instituição com milhões de torcedores apaixonados que não se conformam em perder “par ou ímpar”. E isto é porque a instituição tem história de vencedora, e o treinador também “acostumou mal” o torcedor (o que não podemos aceitar nem mesmo tolerar são ofensas pesadas e ameaças sejam da arquibancada ou redes sociais, que além de lamentáveis são criminosas e merecem a devida indignação e punição).

E por tudo isso, nenhum palmeirense pode negar uma coisa: a fase que vivemos atualmente realmente é mágica! E essa magia vem exatamente dos momentos de superação como o da última 5a feira no Allianz Parque.

Saudações Alviverdes!

***

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Comments (1)

  1. Disse tudo Vicente.

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