Conselho aprova redução de vitalícios

Por Vicente Criscio

Vamos voltar a falar de Política da SE Palmeiras. Na semana anterior, segunda feira passada, na noite de 8 de agosto de 2022 o Conselho Deliberativo (CD) da SEP aprovou, em reunião extraordinária, a redução do número de conselheiros vitalícios de 148 para 130 imediatamente, e para 120 a partir de 2024.

Foram 215 conselheiros presentes onde 199 votaram a favor da redução, 10 votaram contra e tivemos 6 abstenções.

O número de cadeiras do conselho permanece em 300.

Explicando

A cada dois anos os sócios do Palmeiras elegem 76 conselheiros, com mandato de 4 anos. Isso totaliza 152 conselheiros representando os sócios da SEP por quatro anos. Os outros 148 conselheiros vitalícios são eleitos de acordo com o artigo 80 do estatuto.

Leia mais: aqui um post de junho de 2021 explicando a composição do CD

Essa matemática muda com a redução aprovada na reunião do dia 18 de agosto. Somam-se 18 cadeiras aos conselheiros eleitos pelos sócios e diminuem-se o mesmo número de vitalícios.

O histórico recente da mudança

Em 2019 já havia ocorrido uma tentativa de redução de conselheiros vitalícios. Naquele momento tivemos duas propostas. Uma redução para 120 e outra para 100. O problema é que para se aprovar qualquer mudança estatutária necessita-se 2/3 dos votos no CD. Com duas propostas, diluiu-se os votos de quem queria reduzir o número de vitalícios, e com isso, apesar da soma das duas propostas de redução terem MAIS DE 66% de votos, elas foram REJEITADAS no conselho.

Restava portando na Assembleia dos Sócios ocorrer uma retificação, ou seja, uma mudança do que os conselheiros votaram. Para isso seria necessário, igualmente, 2/3 dos votos dos votantes da Assembleia. Chegou perto – faltaram salvo algum engano seis votos – mas não se obteve a redução para 100 conselheiros vitalícios.

Desta vez haviam 3 propostas de redução: para 130, 120, e 100. O grupo moderador (uma espécie de “Centrão” que apóia a Presidente Leila Pereira) iria votar em peso na proposta de 130. Poucos votariam em 100. Logo, os que queriam redução mais drástica – meu caso e de mais alguns conselheiros, preferiram retirar suas propostas e ficar com a proposta do grupo que apoiava a proposta vencedora.

Fala Giocondo

O conselheiro Felipe Giocondo subiu na tribuna e num gesto de grandeza política retirou a sua proposta e de um pequeno grupo que pedia a redução mais radical, para 100 vitalícios. Com isso evitaria um impasse e o risco de mais uma vez perdermos o pleito, e abriu caminho para conseguirmos um consenso na redução de vitalícios.

Pequena nesse momento, sabemos, mas que é melhor do que manter o número de 148, como o que ocorreu em 2019.

O Conselheiro Felipe Giocondo do Ocupa Palestra também no púlpito cobrou uma reivindicação antiga: de forma respeitosa e serena pediu maior transparência nos números e nos contratos.

Por exemplo, há dúvidas sobre quais são as propriedades da Crefisa no contrato com a SEP. Vamos dar um exemplo: o futebol feminino está ou não está nas propriedades que a Crefisa paga ao Palmeiras? Mas os conselheiros não possuem acesso aos contratos. Em tese apenas os cofistas. E mesmo assim, com reservas.

A cobrança foi recebida bem recebida pela Presidente, que agradeceu ao Conselheiro, colocou-se à disposição dele e de qualquer conselheiro todas 3as e 5as no clube para ouvir sugestões e defendeu o voto para a proposta que reduzia o número de vitalícios de 148 para 130 conselheiros já. E em 24 meses iniciará uma redução gradual para 120 conselheiros.

E agora?

A proposta irá para a Assembleia dos Sócios que irá ratificar (aprovar com 33% dos votos) ou retificar (reprovar como 67% dos votos).

A tendência é aprovação massiva.

Impactos

Talvez Freud explicasse. Símbolo de status em outros tempos, ou de capacidade de influenciar decisões, o conselheiro vitalício na SEP (assim como em outros clubes) ganhou status acima do que ele realmente deveria ter. Ou talvez tenham distorcido seu papel, tornando-o um “ser” mais político do que deveria ser.

Mas desde antes do senado romano, na bíblia, em Esparta ou na Grécia antiga, a influência ou o “conselho” dos antigos deveria ser usado – seja pela sua experiência, conhecimento, honra – para ajudar na administração e na resolução dos problemas da comunidade.

Mas como tudo se desvirtua na vida do ser humano, o conselheiro vitalício se desvirtuou. Na história recente da SEP, na década de 90, quando Mustafá Contursi era Presidente, haviam 300 conselheiros, onde 100 conselheiros eram eleiros pelos sócios, 100 outros eram vitalícios e outros 100 eram “nomeados” pelo Conselho de Orientação e Fiscalização (com uma certa influência do Presidente da época, claro, Sr. Mustafá Contursi), por um período de 4 anos.

Não tenho aqui comigo desde quando funcionava essa regra mas me parece que em 2003, o novo código civil exigia que os cargos em clubes, associações, etc, fossem por eleição direta dos sócios (ou então vitalícios).

Assim ocorreu uma mudança estatutária onde os 100 “indicados” pelo COF deixaram de existir e criaram-se 52 conselheiros eleitos e 48 novos vitalícios. Esses 48 vitalícios passaram por “baixo da catraca” da noite pro dia e assim o Palmeiras criou esse “monstrengo” de modelo onde há uma baixa representatividade de sócios no Conselho Deliberativo versus um número desproporcional de vitalícios.

Pois é!

MInha opinião

A coluna de hoje não é uma “Opinião do Criscio“. É uma coluna informativa sobre a aprovação de uma alteração estatutária. De qualquer forma, dado que não consigo ir à missa e não rezar, vai minha opinião aqui.

O modelo Conselho Deliberativo, com 300, 400, ou mesmo 200 ou ainda 100 conselheiros, e não importa aqui quantos vitalícios, é irreal e impossível de trazer algum tipo de governança para um clube de futebol com faturamento de próximo a R$ 1 bi de reais por ano e que poderia faturar o dobro se fosse bem administrado.

Independentemente de quantos vitalícios estiverem sentando nas cadeiras.

Por isso já passa da hora da separação do clube social – modelo de condomínio – do futebol profissional – modelo de gestão de empresa. Mas poucos entendem. E quem entende, por algum motivo que eu desconheço, não quer discutir.

Por isso venho afirmando que, reduzir o número de vitalícios pode ser uma evolução no sentido de dar mais poder ao sócio do clube mas não resolve os problemas da gestão da SEP (nem de qualquer outro clube que esteja em formato semelhante).

Mas isso é papo para outras colunas.

E o nosso amigo leitor. O que acha da redução dos vitalícios? É sócio da SEP? Não? Gostou da decisão dos conselheiros?

Deixe abaixo seu comentário.

Saudações Alviverdes!

***

Vicente Criscio é conselheiro da SE Palmeiras em terceiro mandato (fev/2014-fev/2017;fev/2017-fev/2020;fev/2020-fev/2023); é independente, e não está ligado nem à situação nem à oposição!

Comments (3)

  1. Eleição para o Conselho Deliberativo – 3VV

    […] com a diminuição de vitalícios que deve ocorrer gradativamente – clique aqui e relembre o assunto – o número de cadeiras aumentou de 152 conselheiros eleitos para 180 […]

  2. Como dizia minha avó: antes tarde do que mais tarde……… é um começo, embora modesto mostra evolução e um conselho eleito por sócios terá mais probabilidade de dar andamento ao tão sonhado projeto de separação do ⚽️ do clube social.

  3. Primeiro Campeão Mundial 51

    Já é um começo. Mas realmente, o ideal é separar o clube social do futebol. Mas vai ser uma briga dura, pois com certeza, tem muita gente com interesses ($$$) ligados ao futebol, já que rola MUITO dinheiro em uma administração de um clube tão gigante. Minha aposta, é que muito conselheiro ganha fatias em indicação de jogadores, junto a empresários.

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