Nunca o Palmeiras precisou tanto de alguém como Abel Ferreira
Por Marcelo Moreira
Um time displicente em campo comandado por um técnico obcecado em fazer história. É dessa forma que os principais programas esportivos de televisão analisam o desentrosado e desconjuntado time que foi amplamente dominado pelo São Paulo na derrota por 2 a 0.
Displicência é algo recorrente neste elenco mediano de 2021, capaz de partidas memoráveis, como contra São Paulo e Atlético-MG na Libertadores, e de coisas terríveis, como a humilhação contra o Bragantino, em casa, e a vergonha contra o mesmo São Paulo nesta quarta-feira (17).
Nada ilustra melhor do que a inacreditável perda de bola de Patrick de Paula no segundo gol são-paulino: um time sem foco, sem comprometimento e alienado.
No jogo desta quarta-feira foram vários os momentos em que o time parecia desinteressado e sem forças para combater e retomar a bola. Os jogadores correram bastante e mostraram algum esforço, mas sem organização e sem objetivo.
Já em relação ao técnico Abel Ferreira, a avaliação é exagerada, mas com algum fundo de razão. A postura raivosa e predisposta à briga na entrevista ao final do jogo contra o São Paulo demonstram que o ambiente é tenso, uma do que deveria.
É possível ficar por horas discutindo a conveniência de se escalar reservas desentrosados, mal treinados e displicentes em um clássico, que é sempre importante. Ainda mais se tem a oportunidade de afundar o adversário no rebaixamento. Abel deixou claro que não liga para rivalidades regionais e questões politicas alheias ao vestiário.
No mundo ideal seria possível deixar essas coisas de lado. Mas, no Brasil, isso não é possível – e nem desejável. Neste Brasileiro, as derrotas para São Paulo e Corinthians foram inaceitáveis porque os adversários estavam claramente “nas cordas” e eram/são inferiores. Renasceram quando venceram “um dos melhores times do país”.
A aposta de Abel Ferreira é alta. Se ganhar a Libertadores, ninguém lembrará desses jogos inúteis e resultados desprezíveis. Se perder, será execrado justamente por desprezar a importância das rivalidades e pelos desempenhos horrorosos em muitos jogos que “passarão a ser considerados importantes”.
Na avaliação geral, diante dos desfalques e da maratona massacrante de jogos em 2021, Abel acertou ao colocar um time alternativo contra o São Paulo para não desgastar o elenco. E deve acertar ao fazer isso nos próximos jogos.
A questão é o tal “planejamento”. Se vencer o Flamengo, definitivamente vira gênio; se perder, será responsabilizado diretamente pela derrota e pela frustrante temporada em que o time jogou mais vezes mal do que bem.
Será cobrado pela falta de padrão de jogo e pelas performances muito abaixo do esperado mesmo tendo um time mediano, mas melhor do que o de quase todos os adversários. Como é possível um time reserva não apresentar nada de nada contra o São Paulo?
É evidente que o treinador palmeirense demonstra uma convicção extraordinária em seu trabalho, o que justifica a sua obsessão em fazer história. Nada contra. Resta saber qual é o cacife que ele pensa ter para escantear questões políticas e históricas ao desprezar um clássico. Como ele sempre diz, é difícil manter o sarrafo no alto, e parece que ele sempre age para aumentar a altura do sarrafo em momentos de tensão.
Abel Ferreira acertou ao poupar titulares diante das circunstâncias? Sim, se confiarmos no planejamento do português e levarmos em conta os seus êxitos contra São Paulo e Atlético-MG na Libertadores. Mas será que era conveniente fazer isso contra o São Paulo desesperado por estar lutando contra o rebaixamento? Será que vamos perdoá-lo no caso de os mineiros forem campeões brasileiros em pleno Allianz?
Até na obsessão em fazer história Abel emula algo das passagens de Luiz Felipe Scolari elo Palmeiras. Atrai todas as atenções e se torna o muro de proteção em um clube em constante ebulição e que sempre foi mal acostumado por conta das constantes glórias.
Para o bem e para o mal, Abel Ferreira é o personagem fundamental e necessário neste momento da história do Palmeiras, assim como Felipão foi em 1999. Raivoso ou presunçoso, precisamos mais do que nunca de Abel Ferreira.
Comments (3)
Jango
Essa final vai ser foda.
Cassio Andrade
Assino embaixo.
Ganhando ou não, o time já jogou mais de 80 jogos no ano. É evidente que ele tem na cabeça o time que pode vencer o Flamengo e mais, pelo menos 5 peças. Evidente também que não quer perder nenhum deles em hipótese alguma.
Perder para o SP é péssimo mas, temos que pensar grande. Um ano, duas finais de libertadores, copa do Brasil, e lutando no Brasileiro.
Na Inglaterra, na Espanha, na Itália e por aí vai, o trabalho dele seria considerado excelente e o contrato renovado.
Mas nós somos especiais. Ganhou 6 gênio, perdeu 2 uma desgraça. Os europeus estão todos errados.
Não sei como o Klopp e o Guardiola ainda não foram mandados embora. Ganharam um campeonato europeu. O Guardiola nem isso. Pra melhorar o campeonato, eles precisam ser mais como a gente. Vem fazendo ótima campanha com 1 ano de trabalho, ganhou 2 títulos mas perdeu para um rival que no momento é insignificante para preservar o grupo fisicamente, vamos fazer o mesmo que esse rival insignificante faz. Tornar o ambiente um inferno até ele ser demitido.
Pra que aqueles testes de que comprovam que o atleta está muito próximo de se contundir? Isso é frescura.
Temos que botar o cara para se matar mesmo. Em um jogo que embora seja importante,histórico e tudo mais, está no caminho de algo maior.
Esses europeu são burros. Aonde já se viu tentar ser racional e fazer de tudo para ganhar o título do continente?
Racional? Tá loco!!!! Futebol é quarta e domingo, diretor tem que ser como os nossos. Amadores, que se apoiam nas vidraças chamadas técnicos e jogadores , não reforçam o time da forma adequada e deixam o grupo e o jogador tendo que se matar literalmente para brigar por títulos.
Assim é mais emocionante.
Com vitória ou derrota, vamos demitir o Abel no sábado à noite ainda, e mostrar para esses caras do “futebol europeu moderno” como é que se faz clubes constantemente vencedores, futebol emocionante onde se cria uma crise a cada 24 horas.
Aqui é raiz. É isso que faz do nosso futebol ano após ano mais vencedor e mais eficiente. Movimenta o mercado, a mídia se sustenta sugando cada “gota de sangue”, criando um problema “grave” a cada 24 horas.
Movimenta o mercado. Vamos fazer o mesmo e conseguir o mesmo de sempre.
Ps. Essa é minha opinião. Eu respeito todas as outras e esse texto não foi direcionado a qualquer comentário. Nem li porque quero um Palmeiras de longo prazo e sei que as pessoas discordam.
Se a resposta for no estilo Comunista x Gado, nem perca seu tempo.
Donato, o Lúcido
Caro Marcelo Moreira. De verdade, brilhante o seu texto. As considerações do Cassio também foram fantásticas. Como disse um amigo meu, a torcida do Palmeiras precisa ser estudada pela NASA.