Opinião: mudança estatutária e sucessão

Por Vicente Criscio

Na última semana o assunto que mais chamou a atenção da torcida do Palmeiras não foi a volta ao Campeonato Brasileiro e o esquálido empate contra o Mirassol.

O assunto mais quente foi a proposta de mudança estatutária para permitir à Leila Perera um novo mandato de mais três anos ao final de 2027. Clique aqui e leia a matéria na ESPN.com assinada por Daniel Bocatto.

Menos de 48 depois o Estadão publicou matéria onde Leila Pereira e seus articuladores desistem da proposta. Clique aqui e leia no Estadão matéria assinada por Ricardo Magatti.

Antecipadamente já coloco minha opinião a respeito da proposta: sou contra! Inoportuna, inadequada, oportunística.

Mas vamos “render o bloco” e falar mais a respeito.

Os motivos

Analisando as reações de palmeirenses em diferentes grupos ou mesmo nas redes sociais, existem aqueles que defendem que os fins justificam os meios. Ou seja, se não tem opção para suceder a Leila, muda o estatuto e deixa ela lá por mais três anos.

Discordo! Mas ok…. vamos entender os motivos daqueles que defendem essa canetada no estatuto.

  1. o “sucesso” da gestão de Leila Pereira no campo esportivo (as aspas são minhas);
  2. o excelente resultado financeiro sob sua gestão;
  3. a ausência de uma opção viável e segura para dar continuidade ao seu trabalho.

Há outras justificativas, algumas absurdas, do tipo “para ser presidente do Palmeiras tem que ser milionário”, ou ainda “se a comissão técnica pode ficar vários anos, por que não a Presidente do Palmeiras?”.

Sobre essas justificativas não vou nem entrar no mérito, tamanha sua desconexão com a relação de causa/efeito do que temos hoje na política da SEP (que, aliás, é o mesmo modelo anacrônico e ultrapassado da imensa maioria dos grandes clubes brasileiros). Assunto para outra Opinião, outro dia.

Sobre os dois primeiros motivos destacados acima, não preciso criar um textão com números, competições, títulos, etc. para falar que estes dois casos são relativos. No campo esportivo, Leila Pereira assumiu a Presidência na inércia do final da gestão de Maurício Galiotte, um Presidente que teve mais sorte que juízo.

No campo financeiro, na minha opinião, a Sra. Leila Pereira, enquanto Presidente da SEP, tem um mérito que deve ser reconhecido: ela deu prioridade à austeridade orçamentária. Não gastou quando não podia, apesar das críticas e demandas da torcida e conselheiros. Quando o caixa melhorou, abriu a carteira. Se contratou bem ou mal, é outra história, porque não depende apenas dela, mas da Comissão Técnica, do Diretor de Futebol Anderson Barros e de toda uma estrutura interna.

Óbvio que ela, como Presidente, é a responsável final. Mas que seja reconhecido seu esforço em não gastar mais do que arrecadar (há um contraponto já dito aqui anteriormente que foi a baixa receita de marketing no primeiro mandato, principalmente por valores baixos que a Crefisa pagava ao Palmeiras).

E a sucessão?

O terceiro motivo é aquele que gostaria neste texto de provocar maior reflexão: sobre a ausência de opções para suceder a atual mandatária.

Falar sobre nomes, seria deselegante e até mesmo uma análise rasa. As opções óbvias (citadas na matéria da ESPN de Daniel Bocatto) seriam Everaldo Coelho, Vice Presidente, responsável pelo marketing palmeirense, aliado antigo de Leila Pereira. O outro candidato citado na matéria é Paulo Buosi, amigo e aliado de Maurício Galiotte. E na oposição, o nome de Savério Orlandi, último candidato à Presidência contra Leila Pereira.

Tenho enorme respeito pelos três nomes. Portanto, como citei, não vou falar sobre eles. Vamos falar do processo político palmeirense e todo seu contexto.

A oposição, que deveria ser um grupo forte e unido para cobrar de forma responsável ações e decisões da Diretoria Executiva, está dividida. Não conseguiu eleger um membro no Conselho de Orientação e Fiscalização. Não conseguiu se unir em torno de nomes nas últimas votações (membros do COF, vitalícios e até mesmo em torno da candidatura de Savério Orlandi no final de 2024) porque tem sempre um “porém” de um dos líderes dos diferentes grupos. A oposição palmeirense tem conselheiros ligados a Mustafá Contursi, Arnaldo Tirone, Paulo Nobre, e tem também novos conselheiros, bem intencionados mas ainda com pouco lastro político. Estes grupos possuem mais discordâncias do que concordâncias.

Logo…. neste cenário, novamente, na minha opinião, será muito difícil a oposição emplacar um nome para sentar na cadeira de Presidente da SEP daqui a 18 meses. Se isto é um bom ou mau prognóstico, deixo para o leitor decidir.

Portanto, os candidatos mais prováveis para disputar e vencer a eleição ao final de 2027 são realmente aqueles dois citados na matéria da ESPN. O que nos leva a outro ponto. Quem articulou a mudança foram pessoas da “situação”. Logo, eles não parecem satisfeitos com os nomes ventilados dentro do seu próprio grupo político.

E aí entramos num dilema. Na “oposição” as chances são mínimas. Na “situação”, aparentemente, não há consenso, dado que para aqueles mais próximos a Leila Pereira e que foram citados como articuladores da proposta de mudança do estatuto, os “pré candidatos” não possuem condição para fazer uma gestão “de sucesso” como a de Leila Pereira.

Ora ora…. e como chegamos a isso?

A esquizofrenia da política palmeirense

A máquina de fazer maluco que se transformou a política palmeirense nos últimos anos afasta os “bons” e aproxima “os outros”. Parte disso é responsabilidade da própria Presidente, que dominou o Conselho Deliberativo, o Conselho de Orientação e Fiscalização, e o próprio clube social (com o tripé piscina, shows e pizza).

Na sua Diretoria, com mais de 100 diretores que também são conselheiros (e não há nada errado nisso do ponto de vista estatutário, mas tudo errado do ponto de vista de Governança) a Presidente armou uma cilada para si e para o Palmeiras. Impediu (ou vem impedindo até agora) o crescimento de uma liderança que pudesse, após seis anos de seu mandato (olhando em perspectiva), ter o reconhecimento político dos aliados de que “ele” seria um sucessor natural.

Mas a Presidente não é a única responsável. Em menor medida isto foi feito por seus antecessores. Todos eles! Sem exceção. Todos tentaram fazer o que Leila Pereira atualmente faz do ponto de vista político, mas com menor grau de sucesso. Talvez apenas Mustafa Contursi, lá início do século, conseguiu algo mais próximo dessa dominância política na SEP.

Mas o mecanismo é o mesmo há décadas. A única diferença é que anos atrás havia algum contra-ponto nas reuniões do Conselho Deliberativo, o COF era mais exigente e cobrava e fiscalizava como deveria ser seu papel, e havia uma certa “esperança” em mudanças na Governança, no modelo de gestão, e quem sabe até na separação de futebol e clube social para dar a cada um uma gestão apropriada à sua natureza.

E até isso hoje em dia não se discute mais. Por diferentes motivos, entre eles o medo que alguns passaram a ter de uma mudança estrutural na SEP, seja SAF ou coisa do tipo, e suas consequências, principalmente em quem seria “seu dono”. Outro assunto para outro post em outro momento.

Se quer conhecer mais sobre SAFs no mundo, clique aqui e veja os vídeos no Canal 3VV do Youtube.

E daí?

A perspectiva é essa: a tese de mudança estatutária não deve decolar. Os nomes mais prováveis do lado da situação vão bater cabeça até um deles sair vitorioso. A oposição vai correr meses antes de registrar a chapa para achar um nome para competir. E, a não ser que algo muito diferente aconteça nesse processo, teremos uma mudança de Presidente no final de 2027 com o sucessor indicado pela atual mandatára. Gostem ou não deste desfecho.

Mas o simples torcedor do Palmeiras, que está pouco se c@g…. para este tema político, perguntaria: e o Palmeiras?

Excelente pergunta, meu caro amigo torcedor… excelente pergunta…

Saudações Alviverdes!

Vicente Criscio é conselheiro de 4o mandato na SEP.
A opinião colocada aqui neste texto não necessariamente é a mesma de outros colunistas e colaboradores do 3VV.

Criou o blog Terceira Via Verdão (hoje conhecido como 3VV) nos idos de 2007 para falar sobre política e gestão.
Nos últimos meses anda muito desmotivado pra escrever sobre esses temas… alguns dos motivos estão expostos no texto acima.

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Leia mais

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Veja o canal 3VV no Youtube e a série sobre SAFs

Comments (1)

  1. CLAUDIO LONGO

    APENAS MENTES BRILHANTES E LUCIDAS COMO A DE VICENTE ROBERTO CRISCIO, PODEM E DEVEM ESCLARECER O CENARIO POLITICO DA SOCIEDADE ESPORTIVA PALMEIRAS, EM MAIS UM TEXTO BRILHANTE, AO LERMOS, TEMOS OS CAMINHOS DAS ALAMEDAS ALVIVERDES, ILUMINADAS PELA SABEDORIA DE QUEM AS CONHECE COMO NINGUEM, TODOS OS PONTOS QUE NÃO DEIXAM DUVIDAS, TEM UMA REALIDADE DESVELADA , SOBRE OS NÒS DE PODER , QUE PERDURAM A CADA “GESTÃO´´ , QUE SE ROTULA AUTO SUFICIENTE , MAS A REALIDADE DESTA FABULA , COM TEMPERO DE MUMU, TROUXE AO CLUBE UMA NEFASTA REALIDADE , DE QUEM TEM NO CASAL, O PIOR DOS MUNDOS , O FATO É CONCRETO, O DINHEIRO DITO DE UMA PESSOA DIGNA DE RESPEITO E COMPETENCIA, NO FUTURO SEM LIMITES TRARA CONSEQUENCIAS, QUE PODEM SÓ SER CORRIGIDAS , POR UM PEIODO AINDA DESCONHECIDO, PARABENS CRISCIO.

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