Opinião: pensando em ciclos
Por Vicente Criscio
A derrota para o Flamengo eleva novamente o tom da impaciência da torcida e faz surgir questionamentos sobre a qualidade do time e do treinador – aqueles com mais discernimento (ou frieza) entendem que o buraco é mais em cima, como explicamos na nossa coluna da semana passada (clique aqui e leia Opinião: seja quente ou seja frio, não seja morno).
É preciso deixar claro: a temporada 2021 não acabou, estamos na semifinal da Libertadores e, bem ou mal, ainda lutamos pelo (cada vez mais difícil) título do Brasileirão. A questão é que temos pela frente Flamengo e Atlético-MG, que investiram e parecem estar alguns degraus acima do Palmeiras.
Iniciamos um ciclo vitorioso após o advento do Allianz Parque – e poderíamos ter aproveitado melhor esse período não fossem nossos erros de planejamento, omissões e falta de capacidade de entender a relevância do negócio futebol atualmente. De qualquer forma, não podemos negar que as conquistas e a mudança de patamar, vieram.
Tanto é que, entre 2016 e 2018, éramos o time a ser batido. E, para nos superarem, os flamenguistas apregoam ter saneado as finanças que lhes permitiu investir em jogadores caros (e muito bons!) e, assim, nos superaram em 2019.
Os títulos daquele ano não impediram que os cariocas continuassem investindo em 2020, mesmo com a pandemia, enquanto o Palmeiras se viu forçado a lidar com o buraco financeiro deixado pelos excessos cometidos por Alexandre Mattos (avalizado pelo presidente Galliote). Ambos os clubes erraram nas escolhas iniciais de treinador no ano passado, mas correções na rota foram feitas e os resultados vieram em campo. Com uma safra de jovens acima da média e um treinador com muito potencial, o Palmeiras dividiu os holofotes com o Flamengo.
Importante ressaltar o papel digno que o Palmeiras, liderado pelo presidente Galliote, vem tendo durante a pandemia, ao contrário do rival carioca, que passa a impressão de pouco se importar com os devidos cuidados sanitários que a situação ainda exige.
Isto posto, quero fazer uma reflexão sobre o que parece ser o encerramento de um ciclo no Palmeiras. Não estamos falando de “limpa no elenco”, “lista de dispensas” ou troca de treinador. Essas medidas nada mais são do que aspectos do planejamento macro que qualquer clube de futebol precisa ter ao término de cada temporada – e que devem ser tomadas com racionalidade.
Na minha opinião, estamos encerrando um ciclo que ficará marcado por títulos importantes, mas também por desperdícios de oportunidades dentro e fora do campo por absoluta falta de conhecimento e competência dos últimos gestores que passaram pelo clube – do advento do Allianz Parque em diante as possibilidades de pensar o Palmeiras, seus ativos e sua torcida se multiplicaram, mas a visão limitada e/ou vaidosa de seus dirigentes no impediu de alçar vôos ainda maiores.
Não defendemos gastos desenfreados e sem critério – como a gestão Mattos/Galliote ou como Flamengo e Galo (aparentemente) vem fazendo. Defendemos uma ideia de gestão que mire o curto, o médio e o longo prazo, seja para o futebol, seja para os demais pilares que o sustentam.
Nesse sentido, nós não sabemos o que pensa o presidente Maurício Galliote, que parece estar se escorando nos títulos de 2020 e na pandemia para não responder essa questão central da qual sempre passou a impressão de estar se esquivando – pois, repito, a pergunta não é se vai contratar A, B ou C a questão é qual a visão estratégica do clube para os próximos anos.
É possível que nem mesmo Leila Pereira, favorita para vencer as próximas eleições, tenha algo a dizer. Nas poucas vezes em que pudemos indagá-la sobre isso, as respostas foram evasivas. Infelizmente, pouca gente na dita oposição é capaz de elaborar uma reflexão consistente sobre esses questionamentos.
Não sabemos qual será o desfecho da temporada 2021 – se comemorando mais títulos ou se lamentando um ano melancolicamente desperdiçado. Também não sabemos o que o futuro reserva para Flamengo e Atlético-MG – estão criando um ciclo virtuoso ou se encaminhando para dívidas impagáveis?
Só saberemos se podemos contratar jogadores bons (e caros) se toda engrenagem funcionar de maneira totalmente profissional, sem colocarmos o presente e o futuro em risco dando liberdade para dirigentes de futebol carismáticos e nem sempre competentes como querem fazer crer.
O que nos interessa é que quem quer que venha a ser o próximo presidente, não adote medidas e contratações populistas, ou discursos manjados e batidos sobre a grandeza do clube – isso nós já sabemos desde 1914. Queremos que o próximo presidente lidere e construa uma nova oportunidade de iniciar um ciclo vitorioso, dominante, que semeie um modelo a ser seguido pelos próximos anos.
Para isso, é necessário combinar mudança de mentalidade com capacidade de execução – com sustentabilidade!
O futuro dirá.
Saudações Alviverdes!
*Vicente Criscio é também colunista do 3VV. Sua opinião aqui nessa coluna não necessariamente coincide com a opinião de outros colaboradores do site.
Comments (10)
Reynaldo Zanon
Devido à Leila Pereira ter experiência de muitos em administrar grandes empresas, vejo com otimismo a sua futura gestão. Ela é muito capacitada. Mas tem de pôr um profissional experiente no departamento de futebol.
Reynaldo Zanon
Experiência de muitos anos, quis dizer.
Kleber
Fico meio incomodado com essa postura da Leila. Já é tempo de saber-mos mais sobre seu projeto pra SEP.
MARIO LUIZ SALVONI
A verdade é que nossa austeridade nos custou o protagonismo neste ano. Digo que é difícil dizer se foi ou não uma atitude acertada pois na verdade não conhecemos como estão de fato as finanças de Flamengo e Galo, se eles realmente tem condições de arcar com os investimentos feitos ou se estão “gastando por conta”, conta esta a ser paga pela próxima gestão. O Cruzeiro até 3 anos atrás era o grande vencedor e de repente e não tão surpreendente assim veio uma fatura impagável e com isso sua bancarrota, aliado a isto veio também um tour pela Série B que parece estar longe de acabar……..
lito
Tomara que o nosso futuro não seja sombrio. Que ao invés de progredir, regredimos com essa atual administração.
Donato, o Lúcido.
Precisamos ter humildade para reconhecer os pontos fortes do rival do RJ e replicarmos na SEP.
São ambiciosos. Se desafiam a serem cada vez melhores dentro das quatro linhas. Reforçam constantemente o elenco, mantendo-se protagonistas e gerando o ciclo virtuoso “mais títulos-mais receitas-mais investimentos”. Foram mais criteriosos e certeiros nas apostas que fizeram. E quando erraram (leia-se Rogério Ceni), a gordura era grande o suficiente pra evitar desastres maiores.
Reconhecidos os méritos do rival, vejamos também outros aspectos.
Por longos anos, foram subsidiados por patrocínios estatais ou privados alavancados por entidades estatais (ex. Peugeot-BNDES). Tiveram, junto com gambás, subsídio da emissora detentora dos direitos de transmissão. E, o pior de tudo, cometeram crime hediondo, matando 10 crianças CREMADAS e ninguém foi punido. Nem clube, nem dirigentes. E a imprensa, calada
Serbino
Bela reflexão. Uma pena que quem deveria entender isso está celebrando a “ missão cumprida” e se afasta por politicagem rasa. É muita oportunidade perdida, muito ego inflado e muita oportunidade perdida!
Pinho – Bauru, SP
Excelente Vicente! Esses dois últimos artigos são irretocáveis!
Guilherme
Não conhecia o trabalho. Mas depois desse artigo virei fã. Tudo o que eu estivesse pensando
3vvAdmin
obrigado Guilherme. essa é nossa missão… gerar informação e reflexão sobre gestão e política da SEP. Abraços,