Hora do balanço e pensar em 2023

Por Vicente Criscio

No último post do ano, praticamente 6 horas antes da meia noite, decido falar rapidamente sobre 2022 e 2023.

Sobre 2022, o palmeirense já sabe: Campeão Brasileiro com méritos, semifinalista da Libertadores, perdendo a partida para o Athletico no Allianz de forma surpreendente, e na Copa do Brasil eliminado pelo eterno inimigo em um jogo que nos faltou sorte no(s) pênalti(s) de Raphael Veiga e bastidores para evitar mais uma sacanagem do VAR contra nós.

Nos esportes amadores, jóia da coroa palmeirense, fomos campeões de diversos títulos em praticamente todas as categorias. E mais do que títulos: estamos revelando novos jogadores. Vanderlan, Geovanni, e Endrick, claro! La créme de la créme!!! Falaremos sobre ele já já.

Números!

Os “números” palmeirense são bons dentro das quatro linhas. Fora delas, olhando os resultados econômicos e financeiros, as coisas não são tão belas assim.

O Palmeiras teve um ano relativamente vitorioso mas suas receitas em 2022 serão (quando divulgadas) menores que 2021. Até outubro de 2022, de acordo com o balanço publicado, o Palmeiras havia realizado R$ 633 milhões como receita operacional líquida, enquanto em 2022 a receita líquida total foi de R$ 910 milhões. Difícil acreditar que em dois meses a instituição pudesse realizar quase R$ 300 milhões, mesmo considerando que haverá o prêmio pelo título brasileiro (R$ 45 milhões).

Por quê? Os números ainda não foram tabulados mas com certeza não ter ganho a Libertadores, nem mesmo ir para a final fez diferença (o campeão Flamengo levou US$ 16 milhões, enquanto o vice, Athletico, US$ 6 milhões).

Por outro lado, as despesas operacionais de 2021 foram de R$ 720 milhões. Enquanto em 2022, até outubro, elas atingiram R$ 514 milhões. Como a despesa é certa, e o Palmeiras gasta por mês (total, futebol + clube social) algo em torno de R$ 40 milhões mensais, é razoável supor que a despesa operacional deve chegar a R$ 600 milhões. Um pouco menos de 20% de redução versus o ano anterior. E dada a receita líquida que já passava dos R$ 633 milhões em outubro, é certo que o primeiro ano da gestão de Dona Leila Pereira terá ebitda positivo.

Isso é bom?

Sim e não! A grande contradição palmeirense é que, mesmo apresentando resultados econômicos positivos – ebitda ou mesmo lucro – o resultado financeiro é relativamente desconhecido. Como não se publicam os resultados de CAIXA, temos que inferir que as coisas não vão tão bem do lado financeiro.

Por quê? Primeiro porque a Presidente que entrou com um discurso de “não irão faltar investimentos” fez uma economia “porca” (perdão pelo trocadilho) na final contra o Chelsea. Trazendo jogadores duvidosos para a nossa nova obsessão, ficamos a 3 minutos de levar a partida contra o Chelsea para os penais. Perdemos e voltamos com o título de “vice campeão do mundo”.

Pouco para nossas ambições, até porque o Chelsea era bom mas não era imbatível. Faltou pouco!

Segundo, porque a própria Leila Pereira veio afirmar posteriormente que a temporada de 2022 não teria reforços porque “não podia quebrar o clube”. Ora, ou a frase foi mal colocada ou tem um caroço grande nesse angu.

E terceiro, em reunião do Conselho Deliberativo em 31 de outubro, para divulgar os resultados do terceiro trimestre, o Presidente do Conselho de Orientação e Fiscalização, Sr. Tommaso Mancini, falou claramente que o Palmeiras tinha naquele momento, faltando dois meses para o final do ano, uma necessidade de “dinheiro novo” para saldar suas despesas (a imagem abaixo mostra um trecho da ata da reunião de 31 de outubro, onde o Sr. Mancini afirma o problema de capital de giro da SEP e a necessidade de aporte de recursos financeiros).

Isso explica porque o Palmeiras apresenta em seu balanço de outubro de 2022 crescimento dos valores de antecipação de contratos em relação a julho, de R$ 45 para R$ 90,5 milhões. Não ficou claro se são cotas de TV ou de patrocínio.

Por quê?

“Cash is the king”! Ou seja, o Caixa de qualquer empresa precisa sempre ser preservado. E respeitado. Mas qual foi o problema que afetou tanto o caixa? Não temos todos os detalhes. Talvez UM DOS problemas seja o excesso de gastos e contratos com jogadores de pouco retorno, contratados a “rodo” na gestão Mattos/Galiotte. Contratos de 4 ou 5 anos, e que só agora começam a se encerrar. O de Lucas Lima, por exemplo. Cinco anos de contrato. SE o meia realmente ganhava R$ 1 milhão por mês, entre luvas e salários, foram R$ 60 milhões somente aí. Leia mais sobre a saída de Lucas Lima no ge.com.

Caixa não aceita desaforo. Nem mente. Nem o do Palmeiras, nem o meu, nem o seu, meu querido e paciente leitor. Pode-se fazer malabarismos contábeis para contar uma boa história no balanço patrimonial sem cometer nenhuma “travessura”.

Mas o caixa, é o caixa. Sempre! E ele confessa rapidamente quando ele é maltratado.

E nem podemos reclamar da sorte! Depois das pataquadas com Mano Menezes e Luxemburgo, os deuses do futebol nos presentearam Abel e cia. Nem o mais palestrino poderia sonhar com os títulos (e grana) que o português trouxe para o Palmeiras. Ganhamos títulos importantes – duas Libertadores, uma Copa do Brasil, Recopa, sem falar nos títulos de 2022 – o que nos deu receitas não esperadas além do crescimento do Avanti – para depois cair, óbvio. Isso fez com que o Econômico fosse bom e atenuasse os problemas financeiros.

Mas a conta chegou.

Poderíamos aqui até dizer que, para resolver esse tema, deveríamos ter um marketing mais atuante, com profissionais renomados, do ramo, qualificados para a função de uma instituição com necessidade de cada vez mais aumentar suas receitas.

Mas essa discussão não prospera, porque a Presidente quando assumiu desmontou o marketing que havia, que poderia ter seus problemas mas era profissional. Por quê? Com a palavra a Presidente.

E então, o que esperar de 2023?

Endrick, esse mesmo, vai salvar parcialmente a lavoura verde e branca. Mas não apenas com gols!

Em janeiro deve pingara primeira parcela de (cerca de) R$ 98 milhões por conta da venda de seus direitos econômicos ao Real Madrid (leia detalhes da transação clicando aqui).

Isso poderia resolver a enigmática “deficiência de capital de giro” que o COFista comentou na tribuna do Conselho. Entretanto, como vimos também no balanço, há antecipações de contratos importantes. Sem falar na dívida com a própria Crefisa, que está sendo religiosamente paga e reduzida (em outubro, de acordo com o balanço, as “partes relacionadas” chegavam a R$ 79 milhões, o que era em julho algo em torno de R$ 120 milhões. A dívida da Crefisa está aí dentro, entre outras menores.

Com a venda de Endrick, redução da folha com o término de contratos que não geravam valor e provavelmente com a venda de algum outro jovem valor vindo da base, é possível que a Presidente apresente em 2023 um resultado econômico E financeiro positivos.

Mas isso é importante?

Sim e não. Importante, sim, porque um clube de futebol como qualquer outra instituição precisa ter equilíbrio de caixa para poder manter sua operação ativa e sem problemas.

Mas também é NÃO! SE o foco for APENAS ajustar as CONTAS e com o marketing pouco operante, vamos deixar nosso principal adversário descolar do ponto de vista financeiro.

E quando (e SE) o Palmeiras descolas (do ponto de vista financeiro) do rival carioca que polarizou com o alviverde a disputa dos principais títulos nos últimos 5 anos, temos um problema. Podemos perder o tal “protagonismo” que a Presidente gosta (ou gostava) tanto de falar.

Feliz 2023!

Então é assim, talvez não tão otimista, mas sendo bem realista, que precisamos enxergar 2023. E cobrar de nossos dirigentes – nós, conselheiros, mas também torcedores, que geram as receitas e são a razão de ser desse clube – que nossos dirigentes tenham a grandeza de compreender que o Palmeiras chegou num ponto que, para se manter no topo e disputando títulos TODO ANO, títulos relevantes, PRECISA DE ELENCO FORTE. Para ter ELENCO FORTE, vai ter ALTAS DESPESAS. Para bancar essas DESPESAS, num negócio com tamanha INCERTEZA, precisa ter ambição, gestão profissional e extremamente competente na BUSCA POR RECEITAS. Além, é claro, de não ser eliminado dos torneios por “jogadas de bastidores” que colocam um fim precoce em um negócio onde temos que SEMPRE, SEMPRE, chegar pelo menos a uma semifinal de Copa do Brasil e de Libertadores….. para que vez ou outra, cheguemos à final e ao título.

Que os deuses do futebol iluminem a cabeça de nossos dirigentes. Que Abel e seu valoroso time de portugueses continuem por muitos anos ainda na nossa comissão técnica. Que os torcedores tenham paciência e sempre apoiem, como fizeram nesse ano e nos anos anteriores. E as partes que conseguem influenciar a gestão, que tenham competência e serenidade para fazê-lo de modo positivo.

E eu em nome do 3VV e de toda a sua equipe queremos agradecer a você que nos acompanha e acompanhou ao longo de todo esse ano maluco de 2022. E desejamos um excelente 2023 a todos os nossos leitores e amigos. Que seja um ano de saúde, sucesso, realizações e principalmente de força e resiliência para se defrontar com os desafios que estão vindo por aí.

Claro e com muitas voltas olímpicas!

Saudações Alviverdes!

***

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Comments (7)

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  7. Feliz 2023 Vicente. Infelizmente estamos nas mãos de estagiária e um diretor de futebol inexistente. Os defeitos só não aparecem porque temos um super técnico. Volta Paulo Nobre.

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