Tinha bambu no alambrado do Palestra

Por Jota Christianini

O Palestra alugou o Parque da Antárctica em 1917, logo depois comprou e já na escritura mudou o nome.

Stadium Palestra Itália é o nome de nosso estádio desde 1920 quando a compra foi efetuada.

Por causa dos jogos que lá aconteceram, da importância do estádio na vida esportiva brasileira e pelas sucessivas melhorias que os palestrinos fizeram contando somente com seus próprios recursos, tornou-se o mais importante estádio do estado – e o mais tradicional.

Foi lá que a seleção brasileira jogou a primeira vez em Sampa, foi lá que o Palestra, depois Palmeiras, conquistou tudo quanto é campeonato que disputou.

Naquele sagrado terreno, que um dia tentaram nos roubar – obviamente não conseguiram, corridos com solenes chutes no traseiro – além dos jogos importantes de futebol aconteceram eventos de vanguarda.

Foi lá que Roland Garros, aviador francês, fez pousar o primeiro avião a descer em terras paulistas; no Palestra terminou a primeira corrida de automóvel do Brasil, vencida pelo Comendador Sílvio Penteado, pilotando um FIAT – epa! – de 50 cc.

Enfim, a tradição não falta ao “Stadium Palestra Itália”.

Se não falta tradição, o inusitado também, às vezes, marcou presença.

Nos anos 50 o campeonato brasileiro de seleções era o que havia em termos de competição nacional. Após o advento do Maracanã a rivalidade paulistas e cariocas acentuou-se, mormente que depois da inauguração do estádio municipal do Rio, os paulistas jamais perderam um único campeonato.

Aquele era especial; pela primeira vez as finais seriam em dois turnos com os quatro finalistas. Além de paulistas e cariocas, os mineiros e os pernambucanos. Estes, com a famosa seleção cacareco do Gentil Cardoso (só essa seleção dá um causo) participaram desse torneio final.

Não adiantou aumentar o número de concorrentes; na última rodada sobraram paulistas e cariocas para decidir e como os cariocas tinham empatado em Minas – jogo em que o Zagalo terminou a partida jogando como goleiro – os paulistas jogavam pelo empate.

As rádios transmitiram a reunião em que decidiriam o local e o árbitro.

Quanto ao juiz, deveria ser dos visitantes. Nenhum problema! Gama Malcher foi escolhido.

E o local: Mendonça Falcão, folclórico presidente da FPF, travou o diálogo edificante com o Antônio Passo, presidente da Federação Carioca:

— O jogo vai ser no Palestra Itália (confesso que falando errado como era praxe o Falcão deve ter chamado o campo do Palmeiras de Parque Antarctica).

— Não aceito, rebateu o Passo.

— Você conhece o estádio, já esteve lá?

— Não! Confessou o atônito guanabarino.

— Pois então não pode vetar, se não conhece, vai ter que conhecer primeiro para reclamar depois. O jogo vai ser lá; finalizou o Mendonça Falcão que não costumava ter paciência com quem não concordasse com suas ideias.

Não era última encrenca que o presidente da federação ia meter-se naqueles dias.

Dia do jogo, a TV Tupi vai transmitir.

— Não vai ter TV, disse Falcão.

Naqueles tempos nem se sonhava com direitos de transmissão, essas miudezas; era autorizar ou não e a cada véspera de jogo a polêmica estabelecia-se.

Proibiram a emissora de entrar com seus equipamentos no estádio. Não se fizeram de rogados, foram naquele prédio que fica perto da piscina, ainda em construção e instalaram as câmeras na laje do sexto andar.

Meus amigos! O que aconteceu nem dá para contar… melhor ver a foto abaixo.

FOI DO BAMBU

O Mendonça mandou colocar bambus no alambrado tentando tirar a visão das câmeras que ficariam impedidas de mostrar o jogo.

Não deu tempo nem do jogo começar; torcedores revoltados, afinal também tinham sua visão prejudicada, arrancaram os bambus e a TV mostrou o jogo.

Só para constar, naquela noite o Palestra Itália foi palco de mais uma decisão do campeonato brasileiro de seleções. Os paulistas venceram por 2×0, tornando-se tri campeões.

O presidente da Federação Carioca conheceu o Palestra Itália e as tradições do Palestra Itália.